Pedágio em Pernambuco: governadora Raquel Lyra se pronuncia sobre cobrança de pedágio nas rodovias do Estado
Governadora se posicionou no lançamento do Programa PE na Estrada, a sua versão do pacote de investimentos nas estradas no valor de R$ 5,1 bilhões
Pernambuco seguirá, pelo menos por um bom tempo, sem novos projetos de concessões rodoviárias, popularmente conhecidas como pedágios. Nesta quarta-feira (23/10), durante o lançamento do Programa PE na Estrada, um investimento de R$ 5,1 bilhões na recuperação da malha de rodovias do Estado, a governadora Raquel Lyra (PSDB) deixou claro que não planeja adotar a cobrança de pedágios.
A governadora garantiu não ser contra a solução - adotada no mundo e, principalmente no Sudeste e Sul do País -, mas que, por enquanto, o governo não tem projetos ou estudos focados na cobrança de pedágio. E que, a estratégia da sua gestão é investir o dinheiro público na recuperação da malha para, somente depois, analisar possibilidades.
“Nesse primeiro momento a gente decidiu fazer a recuperação da malha rodoviária de maneira direta, com recursos públicos do Estado e também do governo federal. Isso porque corríamos o risco de não termos obras concluídas até o fim de nossa gestão”, explicou. E seguiu afirmando não ser contra concessões rodoviárias. “Não sou contra concessões, mas entendemos que precisávamos fazer uma recuperação para depois estudar os projetos de forma mais profunda”, reforçou.
Mais cedo e durante o mesmo evento, o secretário de Mobilidade e Infraestrutura de Pernambuco (Semobi), Diogo Bezerra, fez declarações na mesma linha do posicionamento da governadora. Segundo o secretário, o entendimento da gestão estadual é de que seria importante, primeiro, recuperar a malha rodoviária para reduzir o custo de possíveis concessões.
“É importante que a gente entenda que a concessão tem mais viabilidade quando a malha rodoviária está recuperada e é isso que a gente está fazendo. Fazer uma concessão onde a malha ainda está degradada implica em um maior custo em relação à população de uma forma geral. Então, primeiro a gente vai fazer esses investimentos, promovendo a recuperação das principais rodovias que cortam o Estado. Para que, com a recuperação da nossa malha rodoviária, a gente possa pensar, no futuro, em soluções para a manutenção delas”, afirmou.
PERNAMBUCO ATRASADO EM RELAÇÃO AO MUNDO E A BOA PARTE DO BRASIL
Pernambuco tem dois pequenos trechos de rodovias concedidas, mas que não se complementam - a Rota dos Coqueiros e a Rota do Atlântico, no acesso ao Litoral Sul e ao Complexo Portuário de Suape. São rotas que operam há mais de dez anos, sem que tenham sido ampliadas.
No fim da última gestão à frente do governo do Estado, o PSB elaborou um projeto de concessões de três rodovias estaduais, tendo a PE-060, principal eixo de acesso ao Litoral Sul pernambucano, como carro chefe. O projeto ficou pronto para ser licitado, mas não avançou na gestão Raquel Lyra.
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E a inviabilização do projeto se confirmou com o anúncio, em maio, de R$ 75 milhões de investimentos na PE-060 - agora incluído no pacote do PE na Estrada. O projeto de concessão tinha sido validado, inclusive, pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE-PE) e submetido à audiência pública.
Segundo o governo, a requalificação beneficiará mais de 400 mil pessoas que residem nos municípios cortados ou margeados pela rodovia. A requalificação atenderá os 85 quilômetros da PE-60, indo da bifurcação com a BR-101, no município de Cabo de Santo Agostinho, na Região Metropolitana do Recife, e seguindo até a divisa com o estado de Alagoas.
A PE-60 era a rodovia carro-chefe do projeto e, sem ela, é praticamente impossível alcançar a viabilidade técnica e econômica da proposta. Essa leitura, inclusive, foi confirmada por engenheiros e técnicos envolvidos no projeto, que foi elaborado pelo BNDES, sob coordenação da então Secretaria de Planejamento de Pernambuco (Seplag).
POSSÍVEL CONCESSÃO DA BR-101 E INVIABILIDADE TÉCNICA
Na época do anúncio dos investimentos públicos na PE-060, o secretário Diogo Bezerra preferiu não usar a expressão ‘engavetar’ para definir a falta de previsão de quando e se o projeto de concessão de rodovias de Pernambuco teria continuidade no atual governo. E, segundo o secretário, duas razões pesaram para que a proposta não tivesse avançado até agora: uma possível concessão pública da BR-101 pelo governo federal e a inviabilidade técnica e financeira do projeto.
“O fato de o Ministério dos Transportes estar estudando, via BNDES, uma possível concessão da BR-101 em Pernambuco e em Alagoas, inviabilizaria a concessão da PE-60, por exemplo. São duas rodovias que fazem conexão e, por isso, ficaria muito ruim para a população contar com as duas com pedágio. O entendimento é de que ou vai uma ou vai a outra”, explicou na época.
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A proposta de concessão da BR-101 faz parte do chamado lote Nordeste, em estudo pelo mesmo BNDES que projetou a proposta de concessão pública da PE-60. O lote proposto teria 2.471 km e abrangeria a 101 desde Feira de Santana (BA) até Fortaleza (CE). Neste total, estariam incluídas as duplicações das BRs 101 e 235 em Sergipe.
Além da relação direta com uma possível concessão da BR-101, Diogo Bezerra argumentou que a PE-60 encontra-se numa situação de extrema precariedade, necessitando urgentemente de melhorias. E que a ideia é deixá-la pronta para futuros projetos e investimentos. Garantiu, inclusive, que o Estado não está jogando dinheiro fora, já que a requalificação não prevê a duplicação da PE-60, uma das principais necessidades da via.
“Nós vamos fazer a reabilitação funcional da PE-60 e deixá-la pronta para uso e para outros investimentos, até que se tenha uma decisão sobre os estudos de concessão feitos pelo BNDES. Mas a rodovia não poderia esperar. E, mesmo sem a duplicação, será um projeto de muita qualidade, principalmente na questão da segurança viária. Vamos refazer, além do pavimento, toda a sinalização e os acostamentos da rodovia, que em muitos trechos deixou de existir. A população vai ver a diferença”, afirmou.
ENTENDA A PROPOSTA DE CONCESSÃO DE RODOVIAS QUE ESTÁ PRONTA
A proposta de concessão rodoviária, elaborada pelo BNDES sob coordenação da Seplag, previa a cobrança de pedágio em três rodovias estaduais: PE-60, a mais famosa por ser o principal acesso ao Litoral Sul do Estado e que faz divisa com Alagoas; a PE-90, que liga Toritama, no Agreste, ao município de Carpina, na Zona da Mata Norte; e a PE-50, que conecta Limoeiro à BR-232, em Vitória de Santo Antão, também no Agreste pernambucano.
A licitação pública seria para as três rodovias que seriam concedidas juntas. Ou seja, a futura concessionária assumiria a operação e manutenção das três. O pacote de concessões seria um investimento privado de R$ 2,2 bilhões a ser aplicado no período de 30 anos.
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O sistema rodoviário que seria concedido pelo governo de Pernambuco atravessa 21 municípios, que totalizam uma população de aproximadamente um milhão de pessoas. O maior trecho é o da PE-090, com 107,6 km. Já o trecho da PE-060 tem 86,5 km e o da PE-050 tem 40,5 km.
Do total de recursos previstos para o projeto, R$ 1,13 bilhão seriam investimentos nas rodovias e R$ 1,12 bilhão seriam serviços prestados aos condutores que usarem as PEs. No pacote de intervenções, a construção de 80,7km de implantação de multivias (duas pistas com duas faixas de tráfego por sentido com separador físico), e 8,1 km de terceiras faixas.
Também seriam construídas 14 pontes e 2 viadutos, alargadas mais 37, e instaladas 53,4 km de novas defensas metálicas. E ainda haverá a implantação de acostamento em mais de 50% do trecho (118 km), 38 dispositivos em interseção (5 retornos em “X”, 11 rotatórias, 20 rotatórias alongadas e 2 trombetas), 18 km de passeios em perímetros urbanos e 86 pontos de ônibus.
DUPLICAÇÃO PARCIAL
As rodovias não seriam totalmente duplicadas - é fundamental informar esse detalhe, já que sempre que se fala em estradas pedagiadas, a população associa imediatamente à duplicação.
Pela proposta, a PE-60, por exemplo, teria praticamente metade da extensão em pista dupla - dos 86,5 km, 44,70 km seriam duplicados. Além disso, teria o acostamento implantado em 25 km e a terceira faixa em outros 3,6 km. Já a PE-90, a segunda mais importante do pacote de concessões, teria 36,10 km em pista dupla dos 107,6 km que compõem sua extensão.
Também teria acostamento implantado em 53 km e a terceira faixa em outros 4,4 km. A PE-50, por outro lado, não será duplicada nos 40,5 km de extensão. Mas ganharia acostamento em 39 km.