Motoristas de ônibus: o que você tem a ver com a eleição do Sindicato dos Rodoviários do Grande Recife, que acontece em dezembro
A eleição da nova direção do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco sempre foi e continua sendo uma eleição que mexe com todos, passageiros ou não
Os motoristas e fiscais de ônibus da Região Metropolitana do Recife elegem no próximo dia 5/12 o novo presidente da categoria. E, antes que você, caro leitor, questione o que você tem a ver com isso, adianto: tem muito, muito mesmo a ver com isso.
A eleição da nova direção do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco sempre foi e continua sendo uma eleição que mexe com todos. A entidade que representa os motoristas e fiscais - os cobradores foram extintos do sistema, vale lembrar - diz respeito à população em geral.
Afeta, logicamente, quem usa o transporte público por ônibus porque as condições de trabalho viram tema de atos e protestos que ajudam a dar visibilidade aos candidatos. E também atinge quem se desloca de automóvel. Exatamente porque a cidade vira a arena de luta dos candidatos à eleição. Sempre foi assim e continua sendo.
Os últimos atos e protestos em ruas, terminais e garagens de ônibus do Grande Recife são um exemplo. Os rodoviários garantem que são atos realizados para fiscalizar e cobrar direitos da categoria, mas é fato que as eleições estimulam a agenda de manifestações.
SINDICATO QUE AINDA TEM MUITA FORÇA PORQUE PARA A CIDADE
Estamos falando de um sindicato que ainda tem força, já que são os ônibus o principal sistema de transporte do Grande Recife, respondendo pelo deslocamento de 1,6 milhão de pessoas por dia e que envolvem dez mil profissionais.
Não só em Pernambuco, mas em todo o País, os Sindicatos de Rodoviários têm peso político e estão, historicamente falando, contaminados pela política. Excluindo as greves oficiais da categoria, realizadas em sua grande maioria por questões salariais, os protestos realizados por rodoviários quase sempre tiveram conotação política. Retratavam a disputa de poder entre direção e oposição. E segue sendo assim.
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É tanto que, em algumas situações, houve protestos realizados por grupos distintos e rivais de chapas nas eleições do sindicato. Foi o caso dos protestos contra a aprovação do PL 1366/2023, que tenta coibir o chamado ‘surf’ ou ‘amorcegamento’ nos ônibus, prática que tem sido corriqueira no dia a dia do transporte público do Grande Recife, inclusive com mortes de adolescentes.
Na segunda-feira (4/12), a manifestação foi realizada pela atual direção da entidade e que tenta a reeleição após cinco anos de mandato, com Aldo Lima como presidente. E, na terça (5), o movimento foi realizado pela Associação de benefício independente dos rodoviários de Pernambuco (Abirpe), que está na briga em outra chapa e tem Roberto Carlos como candidato a presidente.
ELEIÇÃO ACONTECE NO DIA 5 DE DEZEMBRO E TERÁ TRÊS CHAPAS
A eleição da nova direção do Sindicato dos Rodoviários de Pernambuco acontecerá no dia 5/12, entre 0h01 e 23h59. Haverá urnas de votação em todas as garagens, além da sede da entidade, localizada em Santo Amaro, na área central do Recife.
A expectativa é de que pelo menos 1.500 rodoviários votem, número que representa, atualmente, os associados ao sindicato. E, mais uma vez, a disputa terá três chapas, mas com a briga acontecendo, de fato, entre duas delas. Exatamente a encabeçada por Aldo Lima e a outra comandada por Roberto Carlos.
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A primeira se chama O Guará, a segunda é a Chapa da Mudança e a terceira, a União dos Rodoviários. Aldo Lima, inclusive, encara sua primeira reeleição, após ter sido eleito presidente com folga em 2019.
Aldo, para quem não sabe, era parceiro e foi quem viabilizou a eleição de Benilson Custódio, conhecido como Grilo, que foi o primeiro presidente pós domínio de Patrício Magalhães, que comandou a entidade por mais de 30 anos. Benilson Custódio e Aldo eram parceiros, mas viraram inimigos e rivais.
“Não será uma vitória fácil, mas vamos ganhar”, afirma Aldo Lima. Segundo o atual presidente, a pandemia de covid-19 foi desastrosa para a categoria, principalmente pela validação da dupla função (quando o motorista dirige e recebe o pagamento das passagens em dinheiro), mas houve ganhos.
“Tivemos vários. Éramos o quarto maior salário do Nordeste e hoje somos o segundo. Tivemos 32% de aumento de salário - inclusive com ganho real - e de 42% do tíquete refeição. Também conseguimos a garantia de implementação do plano de saúde, que começará a ser discutida a partir de janeiro, com acompanhamento do MPT (Ministério Público do Trabalho). Além de derrubar diversas cláusulas que era prejudiciais à categoria”, elenca.
Sobre o uso eleitoral das causas dos rodoviários, Aldo Lima diz que todos os atos das últimas semanas tiveram como motivação o benefício da categoria. Pelo menos por parte do sindicato.
“Jamais iria criar um fato distorcido da realidade. O problema de fato existe e nós realizamos atos ou protestos por causa disso. O PL do surf nos ônibus foi um exemplo. Não tínhamos outra alternativa porque, quando soubemos, o PL já estava aprovado. A chapa de oposição à nossa é que fez uso eleitoreiro”, criticou.
A Coluna Mobilidade não conseguiu falar com as outras duas chapas.