Como Pazuello pôde negar o aumento de casos de covid-19 justamente durante o período de eleições?

Ministro da Saúde, general Eduardo Pazuello disse que "se a aglomeração das eleições municipais não aumentou os casos [da Covid-19], não há porque ter isolamento social" para enfrentar a pandemia
Romoaldo de Souza
Publicado em 03/12/2020 às 7:38
Ministro da Saúde, Eduardo Pazuello Foto: ANDERSON RIEDEL/PR


A primeira vez que ouvi falar de Simão Bacamarte, a impressão que tinha era de que se tratava de um desses festeiros do sertão pernambucano, que passam as festas de Reis dando tiros de festim em torno da fogueira.

Ontem, eu voltei à infância ao ouvir o ministro da Saúde o general Eduardo Pazuello dizer que “se a aglomeração das eleições municipais não aumentou os casos [da Covid-19], não há porque ter isolamento social” para enfrentar a pandemia.

A recordação que me veio à mente foi do doutor Simão Bacamarte, médico de Itaguaí, no Sul do Rio de Janeiro, e personagem de “O Alienista”, uma das principais obras de Machado de Assis (1839 — 1908). Simão Bacamarte manda construir na cidade um manicômio chamado Casa Verde para abrigar os loucos da região.

Acompanhando o discurso do Ministro da Saúde eu me pequei imaginando que algumas das autoridades da República fugiram da Casa Verde, porque não é possível que alguém tenha a descabida coragem de negar o aumento do número de registros de pessoas infectadas pelo vírus, justamente no momento em que os especialistas, esses os que estão do lado de fora do portão da Casa Verde, atestam que os comícios, os atos de campanha e as festas das vitórias dos candidatos eleitos foram um pouco desse ingrediente para fazer soar o sinal de alerta.

Assim como na brilhante obra de Machado de Assis, quando o doutor Simão Bacamarte se dá conta que está errado, manda soltar os internos e se tranca da Casa Verde para o resto da vida, bem que algumas autoridades deveriam passar um período, por menor que fosse, fazendo nem que seja um retiro espiritual. Voltariam mais saudáveis.

Pense nisso!

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