Notícias sobre segurança pública em Pernambuco, por Raphael Guerra

Segurança

Por Raphael Guerra e equipe
Investigação

Furtos de cabos de internet e telefonia no Grande Recife desafiam polícia e operadoras

Consumidores reclamam que chegam a passar mais de 10 dias sem o serviço, trazendo transtorno e vários prejuízos

Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 22/03/2021 às 16:25 | Atualizado em 23/03/2021 às 16:04
Fios soltos pelas calçadas podem ser um indicativo de que houve furtos - JAILTON JR./JC IMAGEM

Não é difícil andar pelas ruas do Recife e de outros municípios da Região Metropolitana e encontrar pedaços de fios ou cabos soltos pelas calçadas - a maioria de telefonia ou internet. Os furtos estão se tornando cada vez mais comuns e trazendo prejuízos aos clientes desses serviços. Ainda mais nos últimos 12 meses, já que muitos trabalhadores precisaram se adequar ao formato home office por causa da pandemia da covid-19. Relatos de pessoas que passam uma semana ou mais sem internet, por exemplo, não são mais novidade. E o problema desafia a polícia e as operadoras.

O engenheiro da computação Natércio Albuquerque sabe bem das dificuldades que passou durante os nove dias que ficou sem internet em casa, no bairro do Janga, em Paulista. “Presto serviços para indústria, escritório de advocacia e design. Sem internet, precisei me deslocar mais de 50 km para não ter prejuízo maior. Durante esses dias, entrei em contato várias vezes com a operadora. Só diziam que era um problema na área. Depois descobri que foi furto de cabos”, contou. Sem solução rápida, e para não perder clientes, ele decidiu mudar de operadora. Os problemas continuaram. “Mandaram uma multa de R$ 880. Tive que recorrer, juntei os protocolos e encaminhei para a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações)”, disse.

A estudante Arminda Vilarim, 21 anos, moradora do bairro das Graças, na Zona Norte do Recife, também foi prejudicada pela falta de internet - os cabos foram furtados na rua dela. Por causa da pandemia da covid-19, as aulas do curso que ela faz são remotas. Mas, por 13 dias, a estudante não assistiu aos conteúdos, pois não tinha conexão. “Vim em fevereiro morar no Recife para poder estudar com mais calma, acabei ficando sem conexão e atrasando duas semanas de aula”, contou. Acabou pagando mais caro para mudar a internet para fibra ótica e evitar nova dor de cabeça.

No bairro do Ipsep, Zona Sul do Recife, moradores também relataram os mesmos problemas de falta de conexão por causa dos constantes furtos de cabos. Somente no último mês, foram ao menos três episódios. E o prejuízo, claro, vai para o cliente que precisa daquele serviço para trabalho, estudo ou até mesmo lazer.

Procurada pela coluna Ronda JC, a Polícia Civil de Pernambuco indicou o delegado Ramon Teixeira, da Delegacia Seccional de Santo Amaro, na área central do Recife, como porta-voz. O delegado explicou que, geralmente, esses furtos são praticados por pessoas em situação de vulnerabilidade, que subtraem o cobre ou alumínio para revender e trocar por comida ou droga. “Em muitos casos são usuários de drogas, como a gente tem observado. Muitas prisões estão acontecendo durante a madrugada, quando a Polícia Militar consegue fazer esses flagrantes. Em tese, aparentemente, enquanto os roubos que ocorrem com violência estão caindo no Recife, os casos de supressão de cabos estão crescendo”, disse Teixeira.

O delegado explicou que operações têm sido feitas pela Polícia Civil para reprimir esses crimes - não só punindo aqueles que furtam, mas os que adquirem esses materiais. “O furto ocorre porque alguém compra. Muitas vezes são ferros-velhos, estabelecimentos informais ou familiares”, afirmou.

Em outubro de 2020, a Polícia Civil fez uma operação em que 12 pessoas foram presas com sucatas e materiais de roubos ou furtos. Nos estabelecimentos havia cabos de várias operadoras de telefonia. Mais de 223 quilos de cobre foram apreendidos na ocasião. O crime de receptação tem pena de um a quatro anos de prisão, além de multa.

Ramon Teixeira lembrou ainda a importância das operadoras registrem queixa dos furtos. “O registro ajuda no planejamento policial.”

O QUE DIZEM AS OPERADORAS:

Em nota, a Conexis Brasil Digital, que representa as quatro grandes operadoras (Tim, Vivo, Claro e Oi), informou que “Em 2019, 5 milhões de clientes em todo Brasil tiveram seus serviços interrompidos por causa do roubo e furto de equipamentos das redes de telecomunicações, que também compromete os serviços de utilidade pública como polícia, bombeiros e emergências médicas. Foram mais de 94 mil ocorrências de roubos e furtos de cabos, equipamentos e baterias. Cerca de 4 milhões de metros de cabos foram roubados e furtados, o que equivale a distância do Oiapoque ao Chuí”. A Conexis informou que ainda não tem o levantamento de 2020.

A nota disse ainda que “o setor tem defendido junto às autoridades de segurança pública a relevância do tratamento do tema, bem como o necessário endurecimento na repressão deste tipo de crime, com a devida punição exemplar aos que prejudicam a sociedade com esses delitos”.

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