O coronel José Roberto de Santana assume o comando da Polícia Militar de Pernambuco, nesta quarta-feira (02), já fazendo mudanças. A expectativa é de que até sexta-feira (04), nomes de novos comandantes de batalhões da PM sejam anunciados. A ordem do governador Paulo Câmara é clara: dar um novo gás à tropa e acabar com conflitos internos.
Santana exercia o cargo de diretor de Planejamento Operacional da PM. Ele substitui o coronel Vanildo Maranhão, que foi exonerado do cargo três dias após os atos de violência praticados pelos policiais militares contra grupo que fazia manifestação pacífica contrária ao governo Bolsonaro, na área central do Recife.
Vanildo Maranhão estava à frente da PM de Pernambuco desde fevereiro de 2017.
REPERCUSSÕES
Para a socióloga e coordenadora do Gabinete de Assessoria Jurídica às Organizações Populares (Gajop), Edna Jabotá, a mudança é simbólica, mas não pode ser considerada suficiente em relação ao ato violento registrado no sábado. "Ainda ficam faltando respostas. A gente continua sem saber quem deu a ordem para o ato violento. E todos os culpados precisam ser responsabilizados para se restaurar a autoridade do chefe do Executivo sobre a PM. Se não, o que a gente vai ver daqui pra frente são cenas bem piores se repetindo", disse.
Para a coordenadora do Instituto Brasileiro em Ciências Criminais (IBCCRIM) em Pernambuco, Érica Babini, o ato violento registrado no sábado mostra que os governadores perderam o comando das polícias. "A penetração bolsonarista é evidente. A polícia está mostrando que não está subordinada ao governador. A saída do comandante, se ele entregou o cargo, mostra que o governador não teve pulso de exonerá-lo no próprio dia", avaliou.
INVESTIGAÇÕES
Subiu para sete o número de policiais militares afastados das atividades. O governo estadual anunciou, na noite da terça-feira (1º), que dois oficiais da PM foram identificados na ação e afastados das atividades nas ruas.
No sábado, horas após a ação desastrosa, o governador Paulo Câmara determinou o afastamento das ruas do oficial que comandou a operação e dos militares identificados nos atos de violência. No mesmo dia, além do oficial, quatro PMs da Radiopatrulha envolvidos na ação contra a vereadora Liana Cirne (PT), atingida por spray de pimenta no rosto, foram afastados.
A SDS não confirmou, nesta quarta-feira (1º), se os policiais do Batalhão de Choque que atiraram nos olhos do adesivador Daniel Campelo da Silva, 51, e no arrumador de contêiner Jonas Correia de França, 29, foram afastados.
Na segunda-feira (31), dois delegados foram designados pela Chefia da Polícia Civil para investigarem os inquéritos instaurados em relação às agressões praticadas contra os manifestantes. Os delegados também vão conduzir as investigações dos dois trabalhadores atingidos com balas de borracha nos olhos no momento em que passavam pela ponte.
Em paralelo, a Corregedoria da SDS está conduzindo um procedimento administrativo em desfavor dos PMs.
MONITORAMENTO
A manifestação seguia pacífica por toda a manhã do sábado. Foi pouco antes do meio-dia, quando se preparava para concluir o ato, que o grupo foi surpreendido pelos tiros de borracha do Batalhão de Choque. Naquele momento, o secretário da SDS, Antônio de Pádua, e o executivo, Humberto Freire, estavam na Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICCR), onde é possível acompanhar as imagens de todas as câmeras de segurança. Eles estavam lá justamente para monitorar o cumprimento do decreto estadual que proibiu o funcionamento de algumas atividades econômicas no fim de semana para conter a aceleração da covid-19. Pádua, no entanto, não veio a público esclarecer o que fez ao observar a ação violenta dos policiais.