No Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual infanto-juvenil, nesta quarta-feira (18), não há nada a comemorar. Estatísticas da Secretaria de Defesa Social (SDS) revelam que pelo menos duas crianças são vítimas de estupro, todos os dias, em Pernambuco.
A polícia contabilizou 845 casos de meninas e meninos com até 11 anos de idade vítimas desse tipo de violência em 2021. Além disso, 971 adolescentes (entre 12 e 17 anos) também foram abusados. Somados, são 1.816 casos. O número é 14,8% maior do que no ano de 2020, quando houve 1.581 registros.
Importante destacar que, assim como ocorrem nos casos de violência contra a mulher, os abusos sexuais envolvendo crianças e adolescentes também são subnotificados. Muitas vezes as vítimas não relatam aos pais ou responsáveis. Há ainda os casos em que os abusadores fazem parte da família e acabam não sendo denunciados à polícia.
"Vários estudos já mostraram que a maioria dos abusos sexuais ocorrem dentro de casa. E esse assunto é sempre um tabu, principalmente quando o agressor é da família", pontua a psicóloga Hyldiane Lima, que integra a Rede de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes em Pernambuco.
Ela destaca que o registro de menos vítimas em 2020 é sinal de que a subnotificação dos casos foi alta e tem relação com a pandemia da covid-19, já que os possíveis abusadores estavam em isolamento social junto às vítimas. "Muitas crianças pedem auxílio nas escolas, ao professor, ao gestor. Mas, com as aulas remotas, isso não foi possível."
A maioria das vítimas de abuso sexual infanto-juvenil são do sexo feminino. Representa 86,8% dos 1.816 casos contabilizados, no ano passado, pela polícia.
SINAIS
Hyldiane Lima reforça que os pais ou responsáveis precisam ficar bem atentos em relação às mudanças de comportamento e também físicas nas crianças.
"Na primeira infância, a vítima pode apresentar sinais de regressão. Começa a se isolar, fazer xixi na roupa. Não quer se aproximar dos adultos ou de determinados adultos. É preciso observar também se há mancha no corpo da criança ou irritação na genitália. Também há casos em que a vítima desenvolve agressividade, insônia, falta de apetite", explica a psicóloga.
"Os pais precisam desde cedo abrir o diálogo com os filhos. Conversar sobre o tema para que eles se abram caso sofram algum tipo de violência sexual. A prevenção também é o caminho. Desde cedo é preciso falar com a criança sobre o corpo, denominar cada parte para que ela entenda os locais que nenhum adulto pode pegar. O quanto antes essa criança tiver autonomia, melhor. A criança precisa aprender a se defender, inclusive a denunciar se um adulto tocar em alguma parte do corpo dela e pedir segredo", completa Hyldiane Lima.
MOBILIZAÇÃO
Com o tema "Pernambuco pelo fim da Violência Sexual de Crianças e Adolescentes. Onde estão as vítimas? Cadê nosso Plano de Enfrentamento?", a Rede de Enfrentamento à Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes em Pernambuco realizará, nesta quarta-feira, a partir das 15h, um ato público no Marco Zero, Bairro do Recife. Haverá a participação de grupos de dança e oficina de afoxé.
A mobilização tem por objetivo denunciar a invisibilidade dos casos de abuso e exploração sexual contra crianças e adolescentes no Estado e sensibilizar o poder público e a sociedade sobre a importância dos planos decenais, estadual e municipais, a fim de estabelecer um conjunto de ações articuladas que permitam intervenções técnicas, política e financeira para o enfrentamento da desse tipo de violência.
A mobilização na área central do Recife ocorre todos os anos. Porém, por causa da pandemia da covid-19, não foi possível sair às ruas em 2020 e no ano passado. Agora, com os números da doença em queda, o ato público poderá voltar ao Marco Zero.
PRISÃO
A polícia deu detalhes, nessa terça-feira (17), da prisão de um motorista em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. O homem de 34 anos, cujo nome está sendo preservado, foi preso na quinta-feira, por estupro de vulnerável contra crianças transportadas no veículo dirigido por ele.
De acordo com a delegada Vilaneida Aguiar, os pais não haviam conseguido transporte no bairro e contrataram o motorista, que fazia o percurso de crianças às escolas. Eles descobriram o crime sexual após a mudança de comportamento da criança de 9 anos. O transporte não era regulamentado.
"Na volta para casa, ele (suspeito) atrasou com a criança. Chegou aparentemente normal, mas (a família) notou a criança muito irritada. Quando foi tarde da noite, ela começou a chorar e pediu para dormir no quarto dos pais, o que não acontecia. E quando foi dormir, ela começou a chorar muito e contou o que aconteceu", disse a delegada.
A investigação apontou que o crime teria ocorrido dentro do próprio veículo. "O motorista foi ao banco de trás, colocou um fone de ouvido para a criança ouvir um vídeo de sexo. E nisso ele começou a ter atos libidinosos", comentou Vilaneida. Ele já havia sido preso, no ano passado, por crime semelhante.
"Estamos investigando para ver se tinha outras vítimas. O foco dele tem sido crianças do sexo feminino, mas não excluímos algum aluno de sexo masculino. Estamos chamando todos, na escuta especializada", pontuou.