"Lidar com a insônia, seja durante a pandemia ou fora dela, é desafiador. Mas o que poucas pessoas sabem é que o sono de má qualidade pode dar lugar à depressão, a doenças cardiovasculares ou a diabetes."
O alerta acima é da otorrinolaringologista do Hospital de Olhos de Pernambuco (Hope) Raquel Rodrigues, especialista em medicina do sono. Assim como ela, outros profissionais de saúde têm percebido que a pandemia do novo coronavírus impulsionou a preocupação, o medo, a solidão e os distúrbios do humor. Esse cenário impacta diretamente não apenas na produtividade ao longo do dia a dia, mas também no momento do nosso repouso noturno.
Por isso, Raquel ressalta a importância de as pessoas procurarem ajuda profissional quando a insônia começa a se desenvolver. Caso contrário, a doença corre o risco de se tornar permanente. A terapêutica mais comum consiste em adotar comportamentos e hábitos que ajudam a garantir uma boa qualidade de sono, como evitar o uso de eletrônicos, contar com ambiente pouco ruidoso e de baixa luminosidade horas antes de dormir. Segundo Raquel, em alguns casos, é necessário o auxílio medicamentoso.
A Pesquisa Mapa do Sono dos Brasileiros, encomendada pela biofarmacêutica Takeda e realizada pelo Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística (Ibope) revelou que 65% dos brasileiros têm baixa qualidade de sono. Considerando só em Pernambuco, esta taxa é de 62%. Além disso, 33% dos pernambucanos afirmam ter insônia e, desses, 18% possuem diagnóstico da doença (atestado por um médico). Assim como no restante do País, ansiedade e estresse são os fatores que mais impactam o sono dos pernambucanos.
A Associação Brasileira do Sono destaca é que preciso ficarmos atentos a alguns sinais, como sono fragmentado, sonolência diurna, pouca energia, irritabilidade e demora por mais de 30 minutos para começar a dormir. Para os casos que esses fatores se repetem pelo menos três vezes por semana, durante um mês, a insônia pode estar se manifestando como um transtorno. Com um ano de pandemia, a população continua imersa a uma rotina de estresse e medo, o que leva a um aumento no número de pessoas com prejuízos na capacidade de adormecer ou permanecer dormindo. Foi criado até um termo, em inglês, para essa condição: coronasomnia (em português, algo como corona-insônia).
"É importante investigar as razões por trás da insônia. O melhor tratamento será definido ao analisar o histórico do paciente", salienta o otorrinolaringologista José Ricardo Lemos, também especialista em medicina do sono. Ele acrescenta que também existem pequenas atitudes que podem melhorar a higiene do sono, como não levar o smartphone para a cama e evitar trabalhar no mesmo ambiente em que se dorme.