Ao menos seis cidades do Grande Recife registram casos de misteriosas lesões na pele que provocam coceira. Nesta quarta-feira (24), o total de notificações na capital pernambucana chegou a 149, em 23 bairros. Enquanto a causa do surto segue desconhecida, médicos orientam que as pessoas com os sintomas devem seguir cuidados e evitar contato próximo com outros indivíduos.
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"Como não sabemos do que se trata exatamente, não dá para dizer que se trata de algo contagioso ou não. Por isso, recomendamos que os pacientes evitem o contato pele a pele, corpo a corpo", esclareceu o infectologista e epidemiologista Demétrius Montenegro, chefe do setor de doenças infectocontagiosas do Hospital Universitário Oswaldo Cruz. Nesta quarta-feira (24), ele participou, ao lado da dermatologista Cláudia Ferraz, em entrevista na TV JC sobre o tema.
O médico explicou que, diferentemente do que é orientado para prevenção da covid-19, as pessoas com essas lesões não precisam ficar isoladas nem fazer o distanciamento social. "Mas, para este surto atual, um detalhe é importante. As pessoas geralmente compartilham cama e, se houver um quadro com essas lesões, orientamos que durmam em camas diferentes, e não na mesma. Podem dormir até no mesmo quarto, mas cada um na sua cama", frisou Demétrius.
A Secretaria de Saúde do Recife destaca que, até agora, não houve o registro de agravamento associado às lesões cutâneas e reforça a importância de as pessoas manterem as mãos higienizadas e não tomarem remédio por conta própria. "Estamos fazendo avaliação da faixa etária mais comum acometida por essas lesões e quantos moradores de uma mesma casa apresentam a mesma condição. Apenas um? Mais de um? Tudo isso nos faz pensar se essa doença é transmitida por contato, de pessoa a pessoa, ou se é uma doença causada por algum agente que causa alergia externa. Então, isso tudo nos faz pensar em inúmeras possibilidades. Não afastamos nem confirmamos hipóteses", salienta Demétrius Montenegro.
Durante a entrevista, a dermatologista Cláudia Ferraz, trouxe orientações para as pessoas acometidas aliviarem as lesões acompanhadas da coceira. "Como não chegamos ainda a diagnóstico, trabalhamos para aliviar os sintomas. Se há prurido (coceira) intenso, orientamos procurar uma unidade de saúde. A tendência é que haja prescrição de anti-histamínicos (antialérgicos), cuja dose depende da extensão das lesões e da intensidade da coceira. Se houver muitas escoriações, às vezes inchadas, que lembram picadas de inseto, podem ser necessários corticoides tópicos e reparadores cutâneas, a fim de evitar irritação da pele", esclareceu a dermatologista Cláudia Ferraz, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia/Regional Pernambuco (SBD-PE) e médica do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
Os médicos também falaram sobre diferenças na duração dos sintomas. "Há pacientes que ficam bem rapidamente, mas há outros em que o quadro demora mais de dez dias", disse Demétrius Montenegro. Para ele, pelo fato de os casos terem começado em localidades próximas a áreas de mata, existe a possibilidade de o surto ser causado por um desequilíbrio ambiental, o que levaria algum inseto a causar as lesões na pele com coceira. "Mas amanhã (hoje) um grupo de pessoas acometidas vai ao Huoc para fazer biópsia da pele, que seguirá para avaliação, a fim de se tentar descobrir a causa do surto", complementou.
Além dos 149 registros no Recife, há seis pessoas, em Paulista, que já foram notificadas com as lesões na pele. Em Camaragibe, são 78 notificações. Jaboatão dos Guararapes, São Lourenço da Mata e Olinda informaram que investigam 21, seis e quatro casos, respectivamente.