Os Estados Unidos autorizaram nesta quarta-feira (22) o uso da pílula contra a covid-19 da Pfizer para pessoas do grupo de risco maiores de 12 anos, em um momento em que o número de casos da variante ômicron no país não para de subir, ameaçando as festas de fim de ano.
O Paxlovid, que compreende dois tipos de comprimidos, recebeu autorização de uso emergencial da Administração de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos (FDA, na sigla em inglês) depois que um ensaio clínico mostrou que seu uso reduz o risco de hospitalizações e morte de pessoas em risco em 88%.
"A ação de hoje é uma prova do poder da ciência e o resultado da inovação e engenhosidade americana", exaltou o presidente Joe Biden em um comunicado, prometendo invocar uma lei que ajudaria a Pfizer a aumentar rapidamente a produção do medicamento.
Os Estados Unidos já acordaram comprar 10 milhões de tratamentos no valor de 5,3 bilhões de dólares aproximadamente. Os primeiros 265.000 serão entregues em janeiro e o restante até o meio do ano que vem, informou o coordenador da Casa Branca para a pandemia, Jeff Zients, em comunicado.
"A autorização de hoje apresenta o primeiro tratamento contra a covid-19 em forma de pílula, ingerida por via oral", disse a cientista da FDA Patrizia Cavazzoni em um comunicado.
"Esta aprovação proporciona uma nova ferramenta para lutar contra a covid-19 em um momento crítico da pandemia, no qual estão surgindo novas variantes", disse a funcionária da FDA.
O organismo enfatizou que o tratamento deveria complementar e não substituir as vacinas, que continuam sendo a ferramenta de primeira linha no combate ao coronavírus.
Mas as pílulas que podem ser vendidas nas farmácias deveriam ser de acesso muito mais fácil do que os tratamentos com anticorpos sintéticos, que requerem infusões administradas por gotejamento em hospitais ou centros especializados.
O uso do tratamento da Pfizer já tinha sido autorizado na semana passada na União Europeia, à espera de uma aprovação formal e como medida emergencial diante do aumento dos casos da ômicron.
A autorização ocorre em um momento em que os contágios de covid-19 avançam nos Estados Unidos, impulsionados pela variante ômicron, a mais infecciosa vista até agora, e quando o acesso a testes de detecção se tornou um desafio devido às longas filas.
Empresas como Amazon, Walgreens e CVS limitaram o número de testes caseiros que os clientes podem adquirir.
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A administração de Biden prometeu distribuir 500 milhões de testes a partir do próximo mês, embora os especialistas acreditem que este número seja pequeno demais e a medida chegue tarde demais.
As infecções nos Estados Unidos chegam a cerca de 150.000 por dia, das quais 7.800 requerem hospitalizações e 1.200 resultam em morte, de acordo com dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC).
A variante ômicron é responsável por 90% de todos os casos em algumas regiões do país, disse a diretora dos CDC, Rochelle Walensky, aos repórteres.
Esta variante, que contém múltiplas mutações, é mais capaz de escapar da imunidade conferida por uma infecção prévia ou pelas vacinas, e as autoridades sanitárias pedem que o público tome uma dose de reforço com vacinas de RNA mensageiro (RNAm) para uma maior proteção.
Diferentemente das vacinas, a pílula anticovid não atua na proteína 'spike' do coronavírus, que está em constante evolução e é usada pelo vírus para invadir as células. Assim, teoricamente, estaria mais apta a enfrentar novas variantes. Segundo a Pfizer, estudos preliminares em laboratório respaldam esta hipótese.
O Paxlovid é uma combinação de uma nova molécula, o nirmatrelvir, com o ritonavir, o antiviral contra o HIV, que são tomados em comprimidos separados.
O nirmatrelvir bloqueia a ação de uma enzima de que o vírus precisa para se replicar, enquanto o ritonavir retarda a degradação do nirmatrelvir para que permaneça no corpo por mais tempo e em níveis mais elevados.
Os tratamentos com anticorpos sintéticos desenvolvidos pela Eli Lilly e Regeneron não são eficazes contra a ômicron, afirmou o cientista Anthony Fauci a repórteres, mas um tratamento com anticorpos da GlaxoSmithKline (GSK) e uma droga profilática com anticorpos da AstraZeneca ainda oferecem proteção.
Os Estados Unidos compraram um milhão de ciclos do tratamento GSK que deve estar pronto em janeiro, assim como meio milhão de doses do medicamento da AstraZeneca, que pode ser administrado preventivamente a pessoas imunossuprimidas que não respondem tão bem às vacinas.
Ainda se espera a autorização de outra pílula contra a doença, desenvolvida pela farmacêutica Merck e que também é administrada durante cinco dias.
Especialistas independentes votaram a favor deste tratamento por uma margem apertada, mas expressaram preocupações sobre sua segurança, como o dano potencial nos fetos em mulheres grávidas e o possível dano à cadeia de DNA.
Os dois tratamentos funcionam de forma diferente dentro do corpo e não se acredita que a pílula da Pfizer apresente o mesmo nível de riscos.