Na madrugada desta quarta-feira (9), durante o programa Conversa com Bial, da TV Globo, a campeã do BBB 21, Juliette Freire, revelou que recebeu o diagnóstico de aneurisma cerebral em agosto de 2021. Emocionada, ela chorou ao falar sobre o problema, o mesmo que causou um acidente vascular cerebral na irmã, Julienne, que faleceu aos aos 17 anos. A ex-BBB contou que inicialmente não queria operar o aneurisma, mas a morte de Marília Mendonça a impulsionou a buscar ajuda médica para que os amigos e a família não sofressem, caso ela viesse a morrer em decorrência do aneurisma.
Um aneurisma, caracterizado como uma dilatação anormal de uma artéria, pode se romper e causar uma hemorragia ou permanecer sem estourar durante toda a vida. Os aneurismas podem ocorrer em qualquer artéria do corpo, como as do cérebro, do coração, do rim ou do abdome. Os do tipo cerebral apresentam altas taxas de mortalidade.
Por isso, receber o diagnóstico de aneurisma cerebral não é fácil, e o caso de Juliette mostra como é delicado saber sobre essa condição. O paciente e a família já imaginam cirurgias muito complexas e questionam a possibilidade de cura. Se rompido, o aneurisma pode levar à hemorragia cerebral. Nem sempre, contudo, é preciso realizar uma cirurgia como tratamento. Por isso, o acompanhamento médico é essencial.
O médico neurocirurgião Marcelo Valadares, especialista em neurocirurgia pela Associação Médica Brasileira (AMB) e pela Sociedade Brasileira de Neurocirurgia (SBN), explica que geralmente os aneurismas são assintomáticos e apresentam sinais somente quando se rompem e levam à hemorragia intracraniana. "Aneurismas grandes ou muito próximos a estruturas nervosas, como os próximos aos nervos oculomotores, que movimentam os olhos, podem causar efeitos compressivos, levando ao mal funcionamento de estruturas cerebrais. Um dos sintomas dos aneurismas próximos aos nervos oculomotores é a visão dupla, causada pela dificuldade de movimentação de um dos olhos", diz.
Para o médico, o diagnóstico precoce é essencial. "A mortalidade, quando há ruptura de um aneurisma, pode chegar a 50% instantaneamente; 50% dos que sobrevivem e chegam ao hospital podem morrer nos primeiros dias. É uma situação dramática e gravíssima, que justifica ações rápidas e precoces para diagnóstico e tratamento", alerta o neurocirurgião.
O diagnóstico dos aneurismas cerebrais
Se os aneurismas não causam sintomas, quando é hora de buscar ajuda? A hereditariedade, segundo Marcelo Valadares, é um fator de risco a ser considerado. Quando alguém possui dois ou mais parentes de primeiro grau com história de hemorragia cerebral causada por aneurismas, por exemplo, é preciso investigar. "Neste caso, o risco é de 8%. Também se considera a investigação quando um parente de primeiro grau e, pelo menos um parente de segundo grau (como meio-irmão, meia-irmã, tio, tia, avós e netos - ou, ainda, pessoas com irmão gêmeo) já tiveram histórico", diz. "Uma outra situação conhecida como doença renal policística também está associada a aneurismas cerebrais e justifica a triagem", complementa o médico.
Cirurgia e tipos aneurismas
Entre os tipos de aneurismas mais comuns, Marcelo Valadares cita os saculares e localizados em uma estrutura do cérebro conhecida como polígono de Willis, que são confluências de artérias que distribuem sangue para as porções mais importantes do cérebro. Os aneurismas menos comuns são os micóticos, relacionados a infeções.
É importante ressaltar que nem sempre um aneurisma precisará de uma cirurgia. "Sabemos a probabilidade de sangramento de um aneurisma baseado na sua localização, seu tamanho e pela idade do paciente. Aneurismas pequenos raramente sangram e, quando são diagnosticados em pacientes idosos, raramente precisam de tratamento. Por outro lado, aneurismas pequenos em pessoas jovens podem crescer e ter risco maior de ruptura, justificando as vezes tratamentos mais precoces", afirma Marcelo Valadares.
Aneurismas: mais comuns em mulheres?
De acordo com Marcelo Valadares, a proporção de aneurismas cerebrais, em mulheres, é de 1.6 para cada homem em geral. "Após a menopausa, essa proporção aumenta quase para 2 mulheres para cada homem", afirma o especialista.
Existem muitas teorias que vão desde a ação do estrógeno, que levaria a uma proteção em relação ao risco de ruptura de aneurismas durante os anos férteis da mulher. "Porém, há um risco maior após a menopausa, por conta da fragilidade dos vasos, passando por uma característica anatômica de que as mulheres têm um diâmetro menor de suas artérias até alterações hemodinâmicas. Ou seja: a circulação do sangue no corpo é diferente entre homens e mulheres", explica o neurocirurgião.