Os casos de deltacron notificados ao Ministério da Saúde pelos Estados do Amapá e Pará, trazem à tona preocupações e dúvidas sobre o potencial dessa nova variante que combina estruturas genéticas da delta e da ômicron. Ela já foi identificada em países europeus, como França, Holanda e Dinamarca. A Organização Mundial da Saúde (OMS) informou que está ciente dessa nova variante e que, até o momento, não foi identificada severidade maior da infecção causada pela deltacron, mas pesquisas ainda estão em andamento.
"A deltacron não é uma ameaça importante. E isso não é uma questão de achar. Ela não é uma ameaça importante porque não tem capacidade de infectar como outras variantes que temos em circulação, no Brasil, atualmente", avalia, em entrevista exclusiva à titular desta coluna Saúde e Bem-Estar, do JC, o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto, fundador e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Sobre o cenário em que a pandemia se encontra, Vecina frisa que a subvariante da ômicron BA.2 é o que mais requer atenção. "Ela, sim, é de preocupação mais importante do que a deltacron. E temos ainda a circulação da BA.1, que está perdendo força porque fez um estrago grande, com muitos casos. A BA.2 está chegando, vamos ver o que vai acontecer", acrescenta.
Possibilidade de reinfecção
Para o médico sanitarista, a inquietação diz respeito à possibilidade de a variante BA.2 infectar quem já teve a BA.1. "Aparentemente isso é possível sim. Mas não está comprovado. Acredito que estamos no começo do fim da pandemia primeiramente porque a BA.1 infectou quem poderia infectar. Então, os susceptíveis, do ponto de vista da BA.1, estão no fim. Agora, essa questão de quem teve BA.1 pode ter a BA.2 é que será a decisão. Se quem teve a BA.1 está protegido contra a BA.2, não teremos mais muitos casos. Mas, se o contrário for verdadeiro (se houver reinfecção), teremos novamente uma população que terá a doença."
Para Vecina, a chance de aparecimento de uma nova variante é relativamente pequena. Ele explica que, de tão poderosas que são a BA.1 e a BA.2, dificilmente surja uma mais potente. "Estatisticamente é mais difícil. Uma variante é um conjunto de erros cometidos ao criar a cópia de um vírus, que entra na nossa célula e se reproduz. O vírus utiliza o nosso maquinário genético para se reproduzir. Nesse processo, ocorrem erros", explica.
Teremos novas variantes?
O médico sanitarista esclarece que as falhas que enfraquecem a ação dos vírus são esquecidas pela natureza. "Mas os erros que melhoram os vírus tendem a tomar o espaço onde o vírus existe. Então, sempre uma variante melhor que surge ocupa o espaço da anterior. Uma variante melhor é mais infectiva, mais invasiva." Ele diz que, para ocorrer uma variante mais invasiva do que a ômicron, seriam necessárias muitas mutações, o que é probabilisticamente improvável. "Então, hoje, a gente acredita que o vírus atingiu um nível de mutações que é muito difícil que ocorram mais, embora seja possível", completa.
O gerente de incidentes para covid-19 da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), Sylvain Aldighieri, afirmou que não há uma nova variante chamada de deltacron, mas sim apenas uma "recombinação natural" do vírus que possui características tanto das cepas ômicron quanto da delta. Segundo ele, não há evidência de que essa mutação tenha causado aumento de casos em alguma região do mundo.
Ministro recua sobre deltacron
Nesta quarta-feira (16), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, voltou atrás da confirmação que havia feito sobre os dois primeiros casos de pessoas infectadas pela deltacron no Brasil. Ela havia informado a jornalistas, na terça-feira (15), que o serviço de vigilância genômica do ministério havia identificou dois casos no Brasil: um no Amapá e outro no Pará. Em seguida, ele publicou, no Twitter, que os dois casos de deltacron ainda estão em investigação.