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Saúde e Bem-estar

Por Cinthya Leite e equipe
COLUNA JC SAÚDE E BEM-ESTAR

Vacina da dengue gera resposta imune superior a 90%, mostra ensaio clínico; Butantan deve finalizar fase 3 da pesquisa até 2024

O estudo demonstra, mais uma vez, que a vacina tetravalente contra a dengue protege pessoas com e sem contato prévio com o vírus

Cadastrado por

Cinthya Leite

Publicado em 30/03/2022 às 11:55 | Atualizado em 30/03/2022 às 11:56
Estudo mostrou que vacina induziu a geração de anticorpos em 100% dos indivíduos que já tiveram dengue e em mais de 90% naqueles que nunca haviam tido contato com o vírus - INSTITUTO BUTANTAN/DIVULGAÇÃO

Um novo estudo publicado na revista científica Human Vaccines & Immunotherapeutics, no último dia 15, reforçou as descobertas anteriores sobre a imunogenicidade da vacina da dengue, que vem sendo desenvolvida há mais de 10 anos pelo Instituto Butantan, em parceria com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (Niaid). De acordo com o artigo, publicado por pesquisadores da farmacêutica Merck, também parceira do Butantan, a vacina induziu a geração de anticorpos em 100% dos indivíduos que já tiveram dengue e em mais de 90% naqueles que nunca haviam tido contato com o vírus.

Os resultados se referem à fase 1 do ensaio clínico, realizada nos Estados Unidos. Atualmente, a pesquisa já se encontra na fase 3. As conclusões da fase 2 foram publicadas em artigo na revista The Lancet Infectious Diseases em março de 2020. A segunda etapa da pesquisa mostrou que a vacina induz soroconversão em mais de 70% dos indivíduos contra os quatro subtipos do vírus com apenas uma dose.

O novo artigo demonstra, mais uma vez, que a vacina tetravalente contra a dengue protege pessoas com e sem contato prévio com o vírus. A análise randomizada incluiu 200 adultos que receberam duas doses do imunizante ou placebo, para avaliar a capacidade da segunda dose de aumentar os anticorpos.

Após a primeira dose, a soroconversão foi de 100% em quem já teve dengue e 92,6% em quem nunca foi infectado. A dose adicional não induziu diferenças significativas, confirmando que uma única dose é suficiente para produzir resposta imunológica contra a doença.

A imunogenicidade foi analisada durante um ano por meio de testes de neutralização do vírus e se manteve alta em todos os participantes. A vacina também se mostrou segura e sem efeitos adversos graves. As reações mais comuns foram dor de cabeça, fadiga, erupção cutânea e mialgia (dor muscular).

O percurso de mais de dez anos do estudo

O Butantan participa do desenvolvimento da vacina contra a dengue desde 2009. O acordo com o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas dos Estados Unidos prevê que o instituto produza e distribua o imunizante em território brasileiro. O estudo avançou para fase 3 em 2016, com 17 mil voluntários, e hoje está na etapa de acompanhamento. Os voluntários serão avaliados durante cinco anos. A previsão é que a pesquisa seja concluída até 2024.

Em junho de 2018, o Butantan obteve uma patente concedida pelo Escritório Americano de Marcas e Patentes (Uspto) para o processo de produção da vacina, garantindo visibilidade internacional ao projeto. Seis meses depois, o Instituto assinou um acordo de colaboração e licenciamento com a farmacêutica multinacional Merck, que lhe permite desenvolver e comercializar a vacina no exterior.

O acordo simbolizou um avanço para a ciência brasileira, já que geralmente ocorre o inverso (licenciamento do exterior para o Brasil). 

Sobre a vacina contra dengue

A vacina é feita com os quatro tipos do vírus da dengue atenuados - ou seja, enfraquecidos, que induzem a produção de anticorpos sem causar a doença e com poucas reações adversas. Quem tem dengue uma vez ainda pode ser reinfectado por outro subtipo do vírus e, quando isso acontece, a doença costuma ser mais grave.

"Por isso, é muito importante que uma vacina contra a dengue proteja contra os quatro tipos do vírus ao mesmo tempo, para conferir proteção permanente", afirma o diretor de Alianças Científicas Internacionais do Butantan, Alexander Precioso.

Os vírus atenuados foram cultivados em células Vero de macaco verde africano, uma técnica amplamente conhecida, e depois o material foi purificado e seguiu para a formulação. A última etapa é a liofilização, processo que transforma o líquido em pó, e a criação do diluente para ser adicionado ao pó no momento da aplicação da vacina.

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