Com a identificação de mais um surto de Candida auris em Pernambuco (o primeiro ocorreu em 2022), a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que monitora 180 pacientes que tiveram contato com ambientes por onde passaram as três pessoas com diagnóstico confirmado do superfungo este mês.
A Candida auris é um fungo emergente que representa uma grave ameaça à saúde global e foi identificado, pela primeira vez, como causador de doença em humanos em 2009, no Japão.
É um superfungo que preocupa porque algumas cepas de Candida auris são resistentes a todas as três principais classes de fármacos antifúngicos.
Os três pacientes (todos são do sexo masculino), segundo a SES, estão com quadro de saúde estável. Entenda os perfis, de acordo com informações da pasta:
"Agora, fazemos o monitoramento de 180 pessoas que passaram pelas mesmas áreas dos hospitais percorridas pelos três pacientes com diagnóstico de Candida auris. Esses 180 também são pacientes das unidades de saúde que estiveram no mesmo ambiente ou tiveram contato com as mesmas superfícies", informa a sanitarista Karla Baêta, diretora-geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa).
É importante explicar que esses 180 pacientes, de acordo com Karla, não têm atualmente diagnóstico de Candida auris, mas passam pelo monitoramento para vigilância, prevenção e controle de uma possível infecção pelo superfungo.
"Estão sendo realizadas coletas de cultura com swab. O protocolo pede que sejam feitos três testes, com intervalo de 72 horas entre eles. No terceiro resultado negativo, o paciente não precisa mais ser monitorado e é liberado", explica Karla.
Os profissionais de saúde que tiveram contato com os três casos confirmados não precisam passar por essa vigilância porque, de acordo com a diretora-geral da Apevisa, eles seguem os protocolos de proteção individual e coletiva.
Sobre os casos confirmados de Candida auris este ano, em Pernambuco, a sanitarista diz que os três pacientes estão colonizados pelo superfungo, e não infectados.
"Eles não têm sinais de doença infecciosa pela Candida auris, e sim sintomas das doenças ou condições que levaram ao internamento, como uma quadro de doença renal crônica ou sequelas neurológicas por AVC (acidente vascular cerebral)."
Os pacientes com Candida auris podem não apresentar sinais relacionados à infecção pelo superfungo, mas ter quadro sugestivo de colonização. A diferença entre ambas as condições é que a colonização indica que o paciente está com o fungo, mas não apresenta infecção - e esta ocorre quando há presença de Candida auris na corrente sanguínea.
Após confirmar o caso de superfungo Candida auris em paciente de 48 anos, o Hospital Miguel Arraes, em Paulista (Grande Recife), precisou suspender os novos atendimentos.
Dessa forma, o Hospital Miguel Arraes tem recebido apenas pacientes que seguem a classificação de caso de urgência.
"É um paciente que entre admissão, alta e readmissão, circulou por quase dois meses no Miguel Arraes. Por isso, não há uma área específica a ser isolada, já que foram vários ambientes pelos quais ele deve ter passado. Então, a conduta foi suspender os novos atendimentos no hospital", explica a sanitarista Karla Baêta, diretora-geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa).
Ela acrescenta que, dos 180 pacientes em monitoramento por terem sido expostos a ambientes por onde circularam os três casos atuais de Candida Auris, a maioria (120, em média) é do Hospital Miguel Arraes, devido às diversas áreas que receberam o paciente colonizado pelo superfungo.
Com o fechamento da unidade para receber novos atendimentos, a Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE) informa que tem feito o encaminhamento dos pacientes de acordo com o perfil assistencial de cada caso.
"A Central Estadual de Regulação de Leitos segue no monitoramento das unidades da rede estadual de saúde."
O Hospital do Tricentenário, localizado em Olinda, onde está outro paciente colonizado pelo superfungo Candida auris, continua a receber novos pacientes.
A SES-PE explica por quê. "No setor onde o paciente está internado, foi estabelecida imediata intensificação das ações de limpeza e desinfecção de ambiente", diz.
A secretaria ainda acrescenta que o local está isolado para acompanhamento, e a liberação se dará a partir do momento em que seja observada a permanência da negatividade dos resultados laboratoriais nas amostras biológicas do paciente com Candida auris e seus contatos.
Em Pernambuco, os primeiros casos do superfungo Candida auris reconhecidos oficialmente aconteceram em janeiro de 2022: um homem de 67 anos e uma mulher de 70 anos, internados no HR.
Dos 48 casos do superfungo Candida auris em Pernambuco confirmados em 2022, 21 foram a óbito.
"Nenhum deles faleceram em função da Candida auris. Contudo, o fungo é um microrganismo oportunista que agrava sintomas de doenças de base, especialmente em pessoas imunossuprimidas (aquelas que possuem algum tipo de deficiência imunológica)", esclarece a sanitarista Karla Baêta, diretora-geral da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa).
O surto de 2022 levou o governo de Pernambuco a reforçar ações de prevenção e controle da disseminação do superfungo Candida auris.
"Há nove meses que monitoramos o Hospital da Restauração, onde houve casos no ano passado, e não há confirmação de pacientes colonizados ou infectados por Candida auris atualmente nessa unidade de saúde", garante Karla.
Além do Recife, a cidade de Salvador já registrou dois surtos provocados pelo superfungo em hospitais: um em 2020; outro em 2021.
O infectologista Flávio de Queiroz Telles Filho, coordenador do Comitê de Micologia da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar, que pode causar casos graves de septicemia (condição de resposta exagerada a uma infecção, seja por bactérias, fungos ou vírus) ou apenas colonizar a pele de pacientes. "Mas ela facilmente se mantém dentro de hospitais onde é detectada. É muito difícil de ser erradicada", frisa.
O maior problema relacionado ao superfungo Candida auris, de acordo com o infectologista Filipe Prohaska, é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentos antifúngicos. "É um micro-organismo exclusivamente hospitalar", diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo.
Estudos apontam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes às seguintes medicações: fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.
Outro motivo de preocupação é que a Candida auris pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a diversos desinfetantes, inclusive os que são à base de quaternário de amônio.
O infectologista Arnaldo Lopes Colombo, professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e referência nacional em contaminação com fungos, informa que o tratamento da Candida auris é feito com antifúngico.
"O único problema é que é um micro-organismo com capacidade de persistir no ambiente hospitalar por muito tempo. Se não forem instituídas medidas de desinfecção adequada, o fungo pode colonizar esses pacientes por tempo prolongado e se tornar resistente a medicações", alerta o médico.
A Candida auris é um fungo emergente que representa uma séria ameaça à saúde pública. Ele pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas.
Ele pode ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com doenças crônicas.
A transmissão do superfungo Candida auris ocorre diretamente de equipamentos e materiais de assistência ao paciente com Candida auris (como estetoscópios e termômetros, além de outros), mas nada impede que essa transmissão também aconteça pelas mãos dos profissionais de saúde. Por isso, a higienização das mãos precisa ser respeitada.