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Saúde e Bem-estar

Por Cinthya Leite e equipe
CANDIDA AURIS

SUPERFUNGO EM PERNAMBUCO: Paciente com CANDIDA AURIS tem ALTA HOSPITALAR e vai para casa, sem isolamento; entenda

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), paciente evoluiu bem e não há necessidade mais de isolamento

Cadastrado por

Cinthya Leite

Publicado em 30/05/2023 às 11:04 | Atualizado em 30/05/2023 às 11:10
O superfungo Candida auris, que pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas, pode ser fatal - FREEPIK/BANCO DE IMAGENS

O terceiro caso confirmado do superfungo Candida auris deste ano em Pernambuco teve alta hospitalar. O paciente de 66 anos estava internado no Real Hospital Português (RHP), da rede particular do Recife, localizado no bairro de Paissandu, área central da cidade. 

Ele foi para casa no último fim de semana.

A Candida auris é um superfungo resistente a medicamentos e responsável por infecções hospitalares. Por isso, é um dos microrganismos que mais ameaçam a saúde pública no mundo. 

O paciente que teve alta faz tratamento para doença renal crônica e vai retornar às sessões de hemodiálise.

Segundo a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE), ele evoluiu bem.

A reportagem do JC entrou em contato com a assessoria de comunicação do RHP, que informou que não irá se pronunciar sobre o caso.

A SES-PE informa que, no momento em que o paciente com Candida auris segue para casa, os serviços de saúde entregam um sumário de alta com o relato da história clínica do paciente e o diagnóstico de que ele é colonizando (positivo) pelo superfungo. 

"Não há necessidade de isolamento, e o paciente pode realizar com normalidade suas atividades, seguindo as medidas de controle e prevenção, como higienização das mãos, limpeza dos ambientes com hipoclorito de sódio e manutenção da higiene pessoal", assegura a SES-PE.

Para a alta, de acordo com a secretaria, o paciente deve apresentar melhora do quadro clínico, com parâmetros hemodinâmicos estáveis. 

SUPERFUNGO EM PERNAMBUCO: QUARTO CASO DE CANDIDA AURIS

Na segunda-feira (29), a Secretaria Estadual de Saúde (SES-PE) confirmou mais um caso de Candida auris em Pernambuco. Com isso, subiu para quatro o número de pacientes diagnosticados com o superfungo Candida auris, em Pernambuco, este ano.  

O paciente está internado no Hospital Miguel Arraes (HMA), em Paulista, no Grande Recife. Ele é um homem de 63 anos que deu entrada na unidade de terapia intensiva (UTI) da unidade de saúde, em decorrência de problemas ortopédicos. Segundo a SES-PE, ele está atualmente isolado no setor.

"O paciente apresenta um quadro grave devido a comorbidades já existentes, além de estar colonizado (por Candida auris)", diz a SES-PE. 

Vale destacar que esse é o segundo paciente com Candida auris no Hospital Miguel Arraes.

SUPERFUNGO EM PERNAMBUCO: VEJA PERFIL DOS PACIENTES COLONIZADOS POR CANDIDA AURIS

Veja os perfis dos quatro pacientes (todos são do sexo masculino), segundo a SES:  

  1. Paciente de 48 anos está internado no Hospital Miguel Arraes, em Paulista, no Grande Recife. A unidade é da rede pública de Pernambuco. Ele teve a confirmação de Candida auris no dia 11 de maio.
  2. Paciente de 77 anos está no Hospital do Tricentenário, localizado em Olinda, no Grande Recife. A unidade é da rede pública de Pernambuco. A confirmação do superfundo Candida auris foi dada no dia 14 de maio.
  3. Paciente de 66 anos que estava internado no Real Hospital Português (RHP), da rede particular do Recife. Ele faz tratamento para doença renal crônica e vai retornar às sessões de hemodiálise. Segundo a SES-PE, ele evoluiu bem e recebeu alta no último fim de semana. 
  4. Paciente de 63 anos está internado no Hospital Miguel Arraes (HMA), em Paulista, no Grande Recife. Ele deu entrada na unidade de terapia intensiva (UTI) da unidade de saúde, em decorrência de problemas ortopédicos. Paciente está atualmente isolado no setor. A confirmação do superfungo Candida auris foi dada no dia 29 de maio.

CANDIDA AURIS EM PERNAMBUCO: O QUE DIZ A ANVISA

Ao JC, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informa que recebeu as notificações e já realizou reuniões com as equipes que estão trabalhando no controle dos casos, incluindo a Secretaria de Saúde de Pernambuco e os profissionais que atuam com os hospitais.

"A Anvisa está monitorando as ações e prestando suporte técnico para o Estado, com colaboração dos especialistas que atuam na rede nacional para identificação de Candida auris em serviços de saúde, conforme Nota Técnica 02/2022 GVIMS/GGTES/Anvisa. Por fim, os casos são considerados surtos, pois um único caso de um microrganismo novo na epidemiologia do serviço de saúde já é considerado surto", esclarece. 

Ainda de acordo com a agência, o cenário atual de Pernambuco representa três novos surtos. Cada hospital com caso positivo (Miguel Arraes, Tricentenário e Português) representa um surto. Com isso, desde 2020, o Brasil acumula o registro de sete surtos de Candida auris

No País, segundo a Anvisa, os quatro surtos anteriores já foram controlados: dois em Pernambuco (2022) e dois na Bahia (2020 e 2021).  

O QUE É CANDIDA AURIS E QUAIS OS SINTOMAS? 

O superfungo Candida auris pode causar infecção de corrente sanguínea e outras infecções invasivas.

Ele pode ser fatal, principalmente em pacientes imunodeprimidos ou com doenças crônicas.

O infectologista Danylo Palmeira, presidente da Sociedade Pernambucana de Infectologia (SPEI), explica que a Candida auris ocorre como infecção hospitalar. "Não há diagnóstico clínico baseado em sinais e sintomas de Candida auris", diz.

As infecções por Candida auris, segundo Danylo, estão relacionadas ao uso de dispositivos chamados invasivos, como um cateter venoso central, uma sonda vesical e um ventilador mecânico. "São casos em que há um maior risco de ocorrência de infecção hospitalar, incluindo por Candida auris", explica Danylo.  

Ele frisa que o superfungo Candida auris se mantém facilmente nos hospitais onde há pacientes colonizados ou infectados. "É um fungo que, no ambiente hospitalar, consegue sobreviver sem estar no organismo humano." Ou seja, a Candida auris pode estar em superfícies ou equipamentos da unidade de saúde. Por isso, é muito difícil de ser erradicada. 


Danylo Palmeira, presidente da Sociedade Pernambucana de Infectologia (SPEI), explica que as infecções por Candida auris estão relacionadas ao uso de dispositivos chamados invasivos, como um cateter venoso central, uma sonda vesical e um ventilador mecânico - DIVULGAÇÃO

SUPERFUNGO CANDIDA AURIS: COMO A CANDIDA AURIS É TRANSMITIDA? 

A transmissão do superfungo Candida auris ocorre em ambiente hospitalar, diretamente de equipamentos, superfícies e materiais de assistência ao paciente com Candida auris (como estetoscópios e termômetros, além de outros), mas nada impede que essa transmissão também aconteça pelas mãos dos profissionais de saúde. Por isso, a higienização das mãos precisa ser respeitada. 

Quando tem alta da unidade de saúde, o paciente pode seguir para casa, já que é um superfungo de ambiente hospitalar (ocorre dentro de hospital). 

"Não é na comunidade (pelas ruas, em casa, na feira, no supermercado...) que uma pessoa vai ser colonizada por Candida auris. E o paciente que foi diagnosticado com o superfungo, foi controlado e teve alta, não vai transmitir. No entanto, quando ele precisar ir a um serviço de emergência ou qualquer outra unidade de saúde, ele precisa sinalizar que já teve cultura positiva para Candida auris, pois cuidados precisam ser seguidos, pelo menos, por dois anos", orienta Danylo. 

O maior problema relacionado ao superfungo Candida auris, de acordo com o infectologista Filipe Prohaska, é que esse agente infeccioso é multirresistente a diversos medicamentos antifúngicos. "É um micro-organismo exclusivamente hospitalar", diz o médico, que se preocupa com o potencial agressivo desse fungo.

Estudos apontam que até 90% dos isolados de Candida auris são resistentes às seguintes medicações: fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.

Outro motivo de preocupação é que a Candida auris pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a diversos desinfetantes, inclusive os que são à base de quaternário de amônio.

Nos setores onde os três pacientes do surto deste ano estão internados, foi estabelecida imediata intensificação das ações de limpeza e desinfecção de ambientes.

CANDIDA AURIS EM PERNAMBUCO: CERCA DE 180 PACIENTES SÃO MONITORADOS

Para detecção de possíveis novos casos, profissionais continuam a busca e a investigação diagnóstica de todos os pacientes que foram expostos aos mesmos ambientes de internamento dos doentes.

Com a identificação do atual surto de Candida auris em Pernambuco, a Secretaria Estadual de Saúde (SES) informa que monitora 180 pacientes que tiveram contato com ambientes por onde passaram as quatro pessoas com diagnóstico confirmado do superfungo este mês.

"Agora, fazemos o monitoramento de 180 pessoas que passaram pelas mesmas áreas dos hospitais percorridas pelos pacientes com diagnóstico de Candida auris. Esses 180 também são pacientes das unidades de saúde que estiveram no mesmo ambiente ou tiveram contato com as mesmas superfícies", informa Karla Baêta.

É importante explicar que esses 180 pacientes, de acordo com Karla, não têm atualmente diagnóstico de Candida auris, mas passam pelo monitoramento para vigilância, prevenção e controle de uma possível infecção pelo superfungo.

"Estão sendo realizadas coletas de cultura com swab. O protocolo pede que sejam feitos três testes, com intervalo de 72 horas entre eles. No terceiro resultado negativo, o paciente não precisa mais ser monitorado e é liberado", explica Karla.

Os profissionais de saúde que tiveram contato com os quatro casos confirmados não precisam passar por essa vigilância porque, de acordo com a diretora-geral da Apevisa, eles seguem os protocolos de proteção individual e coletiva.

CANDIDA AURIS 2023: PERNAMBUCO ENFRENTA NOVOS SURTOS DO SUPERFUNGO 

Para reforçar a investigação, as ações de prevenção e controle da disseminação do superfungo Candida auris, Pernambuco criou, na quinta-feira (25), uma força-tarefa de enfrentamento aos três atuais surtos (nos hospitais Miguel Arraes, Tricentenário e Português).

O comitê técnico conta com a participação de gestores da Secretaria de Saúde de Pernambuco (SES-PE), além de representantes da Agência Pernambucana de Vigilância Sanitária (Apevisa), do Laboratório Central de Saúde Pública de Pernambuco (Lacen-PE) e da Sociedade Pernambucana de Infectologia.

O objetivo é acompanhar o cenário e agir de forma integrada contra o superfungo Candida auris

"Além de acompanhar de perto as implicações relevantes ao tema e agir de forma integrada contra o fungo, a SES-PE reforça o objetivo que o comitê tem de identificar, prevenir e controlar as colonizações e infecções por Candida auris nos serviços de saúde de Pernambuco", informa a pasta.

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