The Lancet publica carta de pesquisadores que defendem expansão do monitoramento genômico de vírus que causam arboviroses

Texto, assinado por pesquisadores da Fiocruz, propõe que seja utilizados o modelo e a infraestrutura de monitoramento implementados para o coronavírus, o causador da pandemia de covid-19
Cinthya Leite
Publicado em 02/08/2023 às 16:46
Segundo autores da carta, estimativas epidemiológicas destacam o impacto desses vírus, com metade da população mundial em risco de infecção pelo vírus da dengue e cerca de 100 a 400 milhões casos e 20 mil mortes registradas a cada ano Foto: FREEPIK/BANCO DE IMAGENS


Pesquisadores de 54 países se reuniram para defender a necessidade de implantar uma vigilância genômica mundial para arbovírus endêmicos de alto impacto.

A proposta do grupo é que sejam utilizados o modelo e a infraestrutura de monitoramento que foram implementados para o coronavírus, o causador da pandemia de covid-19.

A carta, intitulada Pesquisadores de arbovírus se unem: expandindo a vigilância genômica para uma necessidade global urgente (tradução livre, em português), é assinada por 74 estudiosos e foi publicada na revista científica The Lancet Global Health na terça-feira (1).

O texto inclui pesquisadores do Instituto Aggeu Magalhães (Fiocruz Pernambuco), do Instituto Leônidas e Maria Deane (Fiocruz Amazônia) e do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz).

Segundo os autores, os vírus da dengue, zika e chicungunha deveriam ser os primeiros a receber esse enfoque, devido ao impacto mundial e ao potencial de eles causarem uma carga pesada de doença, com sintomas que podem ser fatais, o que favorece a morbimortalidade.

"Estimativas epidemiológicas destacam o impacto desses vírus, com metade da população mundial em risco de infecção pelo vírus da dengue e cerca de 100 a 400 milhões casos e 20 mil mortes registradas a cada ano", destacam os autores na publicação.

A expansão dos principais vetores (os mosquitos Aedes aegypit e Aedes albopictus) para novas áreas, em função da urbanização, globalização, mobilidade humana e mudanças climáticas é mais um fator de preocupação apontado. 

A qualidade dos dados genômicos disponibilizados atualmente sobre os arbovírus e a falta de agilidade com que essas informações chegam aos cientistas e gestores da saúde são outros aspectos abordados na carta.

Apesar do compartilhamento rápido de dados genômicos ter sido implementado durante a epidemia do zika vírus, a realidade atual é bem diferente para esse e outros arbovírus como dengue e chicungunha.

A prevalência e a expansão desses vírus estão aumentando ao redor do globo e, apesar disso, a maioria dos dados genômicos somente é compartilhada após o processo de revisão por pares, que geralmente é demorado. 

Com essa carta, pesquisadores de vários países ao redor do mundo ressaltam que é necessário utilizar plataformas de compartilhamento de dados para permitir análises rápidas e oportunas de novos surtos.

Uma dessas ferramentas, já implementada dentro da Global Data Science Initiative (Gisaid), é a EpiArbo.

"Trata-se de uma plataforma de compartilhamento rápido de dados genômicos, que segue o modelo bem-sucedido do EpiCov para o coronavírus e fomenta a colaboração nacional e internacional para estudar esses vírus, que não respeitam fronteiras", explica o pesquisador da Fiocruz Pernambuco e autor principal do artigo, Gabriel Wallau, que ajudou a desenvolver a EpiArbo.

Ele destaca ainda que essa plataforma estimula a proteção dos direitos dos autores sobre o dado gerado, mesmo antes da publicação formal em uma revista científica, incentivando uma maior adesão à partilha de resultados.

"A ideia é que as pessoas possam depositar dados rapidamente, de uma forma muito similar ao que foi feito para o coronavírus. Isso permite fazer análises de forma global e tomar decisões para tentar conter mais efetivamente o espalhamento desses arbovírus", complementa Gabriel Wallau. 

Entre os signatários da carta, estão ainda Felipe Naveca, da Fiocruz Amazônia; Rafael Maciel de Freitas, do Instituto Oswaldo Cruz; e Constância Ayres, da Fiocruz Pernambuco.

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