O delegado federal Humberto Freire, atual secretário de Defesa Social de Pernambuco, foi anunciado, na semana passada, como o futuro responsável pela Diretoria da Amazônia e Meio Ambiente da Polícia Federal. A nova pasta, ligada ao Ministério da Justiça e da Segurança Pública, foi criada atendendo à sugestão da equipe de transição do governo de Luís Inácio Lula da Silva.
Em entrevista exclusiva à Coluna Segurança, Humberto Freire falou pela primeira vez sobre o convite feito pelo delegado federal Andrei Rodrigues, futuro chefe geral da Polícia Federal, com quem já trabalhou na organização de grandes eventos no País, como a Copa do Mundo, em 2014.
"O desafio foi apresentado, foi aceito por mim esse desafio de, a partir de 1º de janeiro, assumir essa Diretoria da Amazônia e do Meio Ambiente e que também trata dos povos originários. A gente vai estar dedicado a essa nova tarefa buscando empregar toda essa bagagem, angariada na interlocução dos diversos atores da segurança - como foi feito nos grandes eventos, na Copa das Confederações, na Jornada Mundial da Juventude, na Copa do Mundo, nas Olimpíadas", afirmou Humberto Freire.
"Nesse momento de transição eu já estive em Brasília algumas vezes. Estava lá no dia do anúncio, estive em outra oportunidade e, neste momento, a gente está fazendo alguns levantamentos, algumas interlocuções. O desafio é imenso, porque é a pauta do 3º milênio. Há um desafio climático no mundo, mas essa é uma pauta que vai ser trabalhada a partir do dia 1º de janeiro", disse.
Na entrevista, Freire não quis comentar sobre os principais desafios à frente da diretoria, como a necessidade de investigações contra os grupos criminosos que atuam fortemente nas queimadas e garimpo ilegal - que avançaram nos quatro anos do governo de Jair Bolsonaro. Mas reconheceu que os olhos do mundo todo estarão ainda mais voltados para a Amazônia nos próximos anos.
Para se ter uma ideia, de 1º de janeiro a 18 de setembro de 2022 foram registrados pelo menos 75.592 focos de queimadas na Amazônia. Ao longo de todo o ano de 2021, foram 75.090 pontos detectados, de acordo com dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE).
A preocupação, já citada inúmeras vezes pelo grupo de transição, também foi apontada pelo futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, durante o programa Roda Viva, da TV Cultura, na semana passada.
Dino afirmou que é necessário aumentar a presença dos órgãos federais na Amazônia, mas também garantir alternativas econômicas para a população local.
“Quando falamos em atividades ilegais, temos que lembrar que há criminosos, cartéis e quadrilhas. Mas há também pessoas simples e humildes, que dependem daquilo para alimentar suas famílias. Então, a primeira questão, quando pensamos na presença do Estado, é entender o papel indutor no que se refere a economia verde e bioeconomia, para que com isso tenhamos caminho econômico de sustentabilidade na Amazônia brasileira”, disse o futuro ministro.
O delegado federal Humberto Freire afirmou que a experiência do programa de segurança pernambucano Pacto pela Vida será levada para a nova Diretoria da Amazônia e Meio Ambiente.
"Porque o Pacto pela Vida é interlocução, integração entre forças de segurança, entre esferas de poderes, prefeituras, governo federal. A gente vai buscar levar toda essa experiência de interlocução e de trabalho integrado para todos os desafios que surjam na nossa carreira", disse.
No Pacto pela Vida há reuniões semanais com cobrança de metas contra a violência envolvendo as principais secretariais do governo do Estado, comandantes de batalhões da Polícia Militar e delegados da Polícia Civil, além de representantes do Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Justiça, entre outros órgãos.
Humberto Freire assumiu o comando da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco em junho de 2021, após a exoneração do também delegado federal Antônio de Pádua - provocada pelo ato violento de policiais militares contra manifestantes que participavam de um protesto pacífico contra o governo Bolsonaro.
Desde 2017, Freire atuava como secretário executivo da SDS. Antes, já foi chefe de vários departamentos da Polícia Federal em Pernambuco e no Amapá. Em 2013, o delegado federal chegou a ser cedido ao Ministério da Justiça para exercer o cargo de coordenador de Execução Operacional da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos.
Um dos casos de maior repercussão investigados por Humberto Freire em Pernambuco foi o que resultou na Operação Narke, com indiciamento de 55 pessoas, incluindo 28 médicos, que estariam envolvidas em um esquema de compra, venda e aplicação de toxina botulínica (botox) falsa em pacientes que buscavam tratamento para rejuvenescer. O esquema, que ficou popularmente conhecido como Máfia do Botox, foi desarticulado em abril de 2012.