ATOS EM BRASÍLIA

INVASÃO EM BRASÍLIA: o dia em que o terrorismo político bolsonarista tentou destruir a democracia brasileira

Em uma semana, Brasília viveu cenas totalmente contrastantes e que chamaram a atenção de todo o mundo. Enquanto o primeiro domingo de 2023 (1º) foi marcado por manifestações de celebração à democracia, esse segundo domingo (08) exibiu o avesso disso

Margarida Azevedo
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Margarida Azevedo
Publicado em 08/01/2023 às 22:44 | Atualizado em 08/01/2023 às 23:16
Marcelo Camargo/Agência Brasil
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto. - FOTO: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Com Estadão Conteúdo

Em uma semana, Brasília viveu cenas totalmente contrastantes e que chamaram a atenção de todo o mundo. Enquanto o primeiro domingo de 2023 (1º) foi marcado por manifestações de celebração à democracia, esse segundo domingo (08) exibiu o avesso disso.

Revoltados com a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ocorrida no dia 1º, apoiadores do ex-presidente Bolsonaro, em atos antidemocráticos, terroristas e violentos, invadiram as sedes dos três poderes na capital federal: o Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal (STF) e o Palácio do Planalto. O cenário foi de vandalismo e total destruição.

Os manifestantes bolsonaristas invadiram os prédios por volta das 15h e lá permaneceram até o início da noite. Mais de cem ônibus vindos de todos os cantos do Brasil chegaram em Brasília com golpistas.

Diante da gravidade da situação, o presidente Lula decidiu pela intervenção federal no Distrito Federal. Já o secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, foi exonerado pelo governador Ibaneis Rocha. A Advocacia-Geral da União (AGU) pediu a prisão de Anderson, que foi ministro da Justiça de Bolsonaro.

Mais de 400 pessoas tinha sido presas até 22h deste domingo. As imagens da destruição correram o planeta. Presidentes da França, Estados Unidos, Peru, Uruguai, Chile, Argentina e Colômbia, entre outros, se manifestaram contra o ocorrido. Falaram em "tentativa de golpe de Estado".

A governadora de Pernambuco, Raquel Lyra, e o prefeito de Recife, João Campos, engrossaram o coro dos que criticaram veemente o vandalismo na capital federal. Entidades internacionais e nacionais também condenaram os atos.

PUNIÇÃO EXEMPLAR


"É preciso que essa gente seja punida de forma exemplar, de forma que ninguém nunca mais ouse, com a bandeira nacional nas costas, ou com a camiseta da seleção brasileira, para se fingirem de nacionalistas, de brasileiros, façam o que eles fizeram hoje", destacou o presidente Lula, que estava em Araraquara (SP), para onde viajou para levar ajuda federal após fortes chuvas.

Ele comparou os invasores a nazistas e fascistas. "Vamos descobrir quem foram os financiadores desses vândalos que foram a Brasília e pagarão com a força da lei por esse gesto antidemocrático", assegurou o presidente da República. Lula está convencido de que Bolsonaro vem estimulando um ataque "a la Capitólio" desde a derrota nas urnas. O presidente voltou ainda neste domingo para a capital federal.

TRANSMISSÃO AO VIVO

Sem atuação ostensiva da Polícia Militar, vândalos pediram intervenção militar e a prisão do presidente Lula. A passeata começou por volta das 14 horas e tinha por objetivo levar o caos para uma tomada de poder. Perto das 15 horas, o grupo desceu pelo Eixo Monumental, furou, sem resistência, o bloqueio da PM e ocupou gramado, rampas, acessos e teto do Congresso.

Houve a primeira invasão, com cenas de vandalismo no Senado e na Câmara. Em seguida, pela Praça dos Três Poderes, transformada em campo de batalha, os radicais tomaram o Palácio do Planalto e o STF. Quebraram vidraças, entraram em gabinetes e depredaram obras de arte. Houve focos de incêndio.

SERGIO LIMA/AFP
Antes de dar posse aos ministros, Lula chega ao Palácio do Planalto acompanhado por uma multidão nas ruas: cadela "Resistência" subiu a rampa - SERGIO LIMA/AFP

Os plenários de Câmara, Senado e STF foram ocupados. Exibiram como troféu a porta do armário onde fica a toga do ministro Alexandre de Moraes - visto como algoz por bolsonaristas. Tudo foi transmitido em redes sociais, ao vivo, pelos invasores.

Do lado de fora do Congresso, os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro aplaudiram PM. Transmissões ao vivo, em redes sociais, mostraram os manifestantes chamando policiais de patriotas. Nas lives, os extremistas divulgavam os atos de vandalismo. Houve cenas de leniência de PMs, que tiraram fotos com manifestantes e compraram água de coco, enquanto o tumulto se formava.

Os atos de cunho golpista foram controlados pelas forças de segurança - PM, Polícia Civil, Força Nacional de Segurança, Polícia Federal e Polícia do Exército - cerca de três horas e meia depois.

Os bolsonaristas agrediram, ainda, policiais, que reagiram com bombas de gás, spray pimenta e cavalaria. O primeiro prédio liberado foi o do STF, depois Planalto e Congresso. Do alto, um helicóptero da PF também fazia disparos e foi usado jato d'água.

MANIFESTANTES IDENTIFICADOS

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que todos os ônibus que trouxeram bolsonaristas pra os atos terroristas já foram identificados. Os financiadores dos transportes também.

"Desta forma, haverá novos pedidos de prisão preventiva", declarou Dino, em pronunciamento. Os sinais de que os atos bolsonaristas seriam violentos já haviam sido dados desde o sábado. Ao menos 4 mil pessoas estavam prontas para atacar as instituições. Desde a derrota de Bolsonaro na eleição, radicais mantêm acampamento na frente do Quartel-General do Exército, em Brasília.

INTERVENÇÃO

Como interventor foi nomeado o atual secretário executivo do Ministério da Justiça, Ricardo Capelli, braço direito do ministro Flávio Dino. O governo federal vai agir até o dia 31 de janeiro, e a intervenção passará pelo aval do Congresso Nacional.

Acuado, o governador Ibaneis Rocha pediu desculpas a Lula. Em vídeo, ele disse que a ação era "inaceitável". "Quero me dirigir aqui, primeiramente, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para pedir desculpas pelo que aconteceu na nossa cidade, à presidente do Supremo Tribunal Federal (Rosa Weber), ao meu querido amigo Arthur Lira, ao meu amigo Rodrigo Pacheco", disse.

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Marcelo Camargo/Agência Brasil
Manifestantes invadem Congresso, STF e Palácio do Planalto. - Marcelo Camargo/Agência Brasil

Já o ministro Dino classificou como "absurdo" os episódios. "Essa absurda tentativa de impor a vontade pela força não vai prevalecer", disse. "Enxergamos omissão do aparato de segurança pública do DF", afirmou o ministro, em entrevista coletiva, após os atos de vandalismo. "Abrir a Esplanada se revelou decisão desastrosa."

Segundo especialistas em direito, os envolvidos podem responder por crimes como dano qualificado, atentado contra o estado democrático de direito e terrorismo. A pena chega a 30 anos de prisão. "Houve uma violência imediata, que foram as invasões e depredações, mas com um objetivo maior, que era derrubar a democracia", disse o jurista Walter Fanganiello Maierovitch, que vê terrorismo.

EXTRADIÇÃO

Dos Estados Unidos, para onde viajou desde a última semana de dezembro porque não queria passar a faixa presidencial para Lula, Bolsonaro escreveu, no Twitter, que "manifestações pacíficas, na forma da lei, fazem parte da democracia. Contudo, depredações e invasões de prédios públicos como ocorridos no dia de hoje (ontem), assim como os praticados pela esquerda em 2013 e 2017, fogem à regra".

Também pelo Twitter, a deputada norte-americana Alexandria Ocasio-Corteza defendeu que os EUA parem de conceder refúgio a Bolsonaro na Flórida. "Cerca de dois anos do dia em que o Capitólio dos EUA foi atacado por fascistas, nós vemos movimentos fascistas tentarem fazer o mesmo no Brasil", disse Alexandria Ocasio-Corteza, que representa Nova York, no Twitter.

TON MOLINA/ESTADÃO CONTEÚDO
Foto, bolsonaristas no STF. Neste domingo (8) bolsonaristas terroristas geram caos em Brasília em uma tentativa de golpe com a invasão do STF, Congresso Nacional e Palácio do Planalto. - TON MOLINA/ESTADÃO CONTEÚDO

"Nós devemos estar solidários ao governo democraticamente eleito de Lula. Os EUA devem parar de conceder refúgio a Bolsonaro na Flórida", finalizou. O democrata Joaquin Castro, representante do Texas, pediu a extradição do ex-presidente. "Ele é um homem perigoso. Deveriam mandá-lo de volta para seu país natal, o Brasil", afirmou o membro da Câmara dos Representantes. "Apoio o presidente Lula e o governo democraticamente eleito no País", diz ainda a postagem.

 

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