A tragédia envolvendo um soldado da Polícia Militar de Pernambuco (PMPE), que assassinou a esposa, atirou em colegas de batalhão e depois teria se matado, em dezembro de 2022, trouxe de volta a discussão sobre a saúde mental dos profissionais de segurança e sobre quais investimentos são necessários para que episódios semelhantes não se repitam.
O novo comandante geral da PMPE, coronel Tibério César dos Santos, afirmou que uma das ideias que estão em estudo é a contratação de mais psicólogos para atendimento ao efetivo policial.
"O objetivo é lutar para que cada batalhão tenha um psicólogo no seu quadro para dar prevenção, orientação e identificar possíveis comportamentos que precisam de atenção", explicou, em entrevista à Coluna Segurança.
A corporação pernambucana conta, atualmente, com pouco mais de 16 mil policiais militares na ativa. Os profissionais estão divididos em 26 batalhões - sem contar as outras 14 unidades especializadas (a exemplo do Batalhão de Polícia de Radiopatrulha e Batalhão de Operações Especiais).
"A Polícia Militar já tem a Diretoria de Ação Social, com psicólogos (fica no Recife). Nossa proposta é aumentar a quantidade desses profissionais, através de contratação junto ao governo do Estado. Nós também temos núcleo de assistência no município de Petrolina, com psicólogos que atendem também Salgueiro e Cabrobó. Nós temos em Serra Talhada, que atende Afogados da Ingazeira", citou o comandante.
Também há centros de assistência à saúde da PM em Palmares, na Mata Sul do Estado, e em Caruaru, no Agreste.
Em vistoria no 19º Batalhão, há pouco mais de um ano, promotores de Justiça da Capital identificaram um número alto de licenças-médicas de policiais militares por problemas de saúde mental. E cobraram medidas.
Segundo dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, sete policiais militares da ativa cometeram suicídio em Pernambuco em 2021. Já em 2020, foram quatro óbitos.
Em entrevista, no final do mês passado, o ex-secretário estadual de Defesa Social, Humberto Freire, reconheceu que é preciso ampliar a interiorização dos centros de assistência aos PMs. Além disso, ele disse que há um projeto semelhante de atendimento aos policiais civis.
"A gente tem um projeto que está sendo executado de abertura de uma policlínica da Polícia Civil também com esse viés de atendimento multidisciplinar, com fisioterapia, atendimento psicossocial", disse.
O comandante geral da PM não deu prazo para aprovação do projeto de contratação dos psicólogos para cada batalhão.
INVESTIGAÇÕES SOBRE FEMINICÍDIO E ATAQUE NO 19º BATALHÃO
No começo deste mês, a Polícia Civil concluiu a primeira investigação sobre o caso do soldado da Polícia Militar Guilherme Santana Ramos de Barros, 27, que matou a esposa e atirou nos colegas de farda. O PM foi indiciado pelo crime de feminicídio e o caso será arquivado pela Justiça, já que ele está morto.
A tragédia aconteceu em 20 de dezembro de 2022. Logo após matar Cláudia Gleice da Silva, 33, no Cabo de Santo Agostinho, o soldado rendeu um motorista de aplicativo e seguiu para o 19º Batalhão, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, onde atirou em quatro militares e depois teria se matado.
Em depoimentos aos investigadores da 14ª Delegacia de Polícia de Homicídios, ficou claro que o soldado não aceitava o fim do relacionamento e por isso praticou o crime.
A segunda investigação, sob a responsabilidade da Polícia Militar, precisa esclarecer os possíveis motivos que levaram o soldado Guilherme Barros a atirar nos colegas de farda. Além disso, o inquérito vai apontar se ele realmente cometeu suicídio logo em seguida.
Enquanto seguia para o batalhão, o soldado teria dito que iria "matar os inimigos". Essas possíveis desavenças estão sendo investigadas.
O sargento Maurino Uchoa, baleado de raspão na cabeça, e cabo Paulo Rebelo, ferido no ombro, já foram ouvidos pelos investigadores.
Também foram atingidos pelos tiros o 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, de 30 anos, que morreu na hora, e a major Aline Maria Lopes dos Prazeres Luna, 42, que era subcomandante do 19º Batalhão. A PM chegou a ser socorrida e levada para o Hospital Português, mas faleceu no mesmo dia - horas após passar por cirurgia.
A Polícia Militar declarou, em nota oficial, que o inquérito ainda não foi concluído. "O prazo é o estabelecido na legislação processual penal militar, 40 dias com a possibilidade de prorrogação por mais 20 dias", pontuou.
CÂMERAS AJUDAM NA INVESTIGAÇÃO
Imagens de câmeras de segurança mostraram o momento em que o soldado aparece de mochila entrando no batalhão. Ele passa por colegas e segue por um corredor até chegar na sala de monitoramento, onde imediatamente após abrir a porta efetua vários tiros contra outros policiais, que tentam se proteger.
Segundos depois, Guilherme sai pela mesma porta e, um pouco a frente, outro militar aparece armado. A imagem indica uma possível troca de tiros. O soldado volta à sala de monitoramento e corre. Não fica claro, no entanto, se ele foi atingido por algum tiro. A informação, inicial, é de que ele se matou.
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