Em um espaço de um ano e dois meses, dois líderes da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), de São Paulo, foram identificados e presos em território pernambucano. A prisão mais recente foi a de Odair Lopes Mazzi Júnior, o Dezinho, que estava vivendo em um condomínio de luxo na Praia dos Carneiros, no Litoral Sul.
O PCC é considerado a facção mais perigosa e articulada do País, com atuação na maioria dos estados, por isso a atenção redobrada das forças de segurança para prender e isolar os seus líderes.
A captura de Dezinho, apontado pelo Ministério Público de São Paulo (MPSP) como o responsável por gerenciar a maior parte do tráfico de drogas do PCC no exterior, aconteceu na última terça-feira (11).
Antes dele, em abril de 2022, Valdeci Alves dos Santos, considerado o número 2 do PCC, também foi preso em Pernambuco. A prisão de Colorido, como é conhecido, aconteceu no município de Salgueiro, no Sertão, durante a abordagem de rotina a uma caminhonete de luxo. Ele apresentou um documento com indícios de falsificação, o que chamou a atenção dos policiais rodoviários federais. Acabou sendo identificado e preso.
Mas por que os líderes do PCC estão se escondendo em Pernambuco? O questionamento foi feito ao promotor de Justiça Lincoln Gakiya, do MPSP, que há anos investiga a facção.
"Acredito que seja pela questão de ser um Estado com muitas cidades turísticas, que favorecem que esses criminosos utilizem documentos falsos e passem despercebidos como turistas", afirmou.
Segundo o promotor, Dezinho usava um nome falso e vivia como turista em resorts de praias. Ele foi preso no momento em que recebia a esposa no condomínio, cuja diária custa, em média, R$ 700.
Já Colorido não foi preso no litoral. Mas, na época em que foi capturado, havia informações de que ele circulava pelo Nordeste, onde tem família. Pode, no período em que ficou foragido, ter circulado por praias e ter usado a mesma tática de se passar por turista.
Outra prisão recente em Pernambuco, que não tem relação com o PCC, também pode exemplificar a tese do promotor Lincoln Gakiya.
Em 17 de agosto de 2022, uma operação da Polícia Federal prendeu um perigoso traficante na praia de Porto de Galinhas, também no Litoral Sul, onde estava hospedado.
Investigação conduzida no Paraná apontou que ele seria integrante de um grupo especializado no tráfico internacional de drogas. O nome dele e da facção não foram revelados.
Dezinho será transferido para um presídio federal, segundo o promotor. Antes disso, até que a Justiça formalize a decisão, o acusado deve permanecer em um presídio comum de São Paulo.
A Polícia Civil de Pernambuco (PCPE) informou, por meio de nota, que não informará quando será a transferência de Estado por motivo de segurança.
A prisão dele foi realizada pela PCPE, em parceria com o MPSP e com a Agência Brasileira de Inteligência (ABIN).
Dezinho também é acusado de controlar a movimentação financeira da organização criminosa e da lavagem de dinheiro.
"Ele foi um dos responsáveis pelo envio de 1 bilhão e 200 milhões de reais do PCC para o Paraguai, em 2020. Estávamos procurando ele em vários estados, como Rio Grande do Norte, Ceará, Bahia, Santa Catarina, e conseguimos a prisão dele. Uma prisão extremamente importante, estávamos atrás desse foragido há mais de três anos", afirmou o promotor.
Segundo investigação, a quantia bilionária enviada ao exterior teria sido arrecadada com o tráfico de drogas apenas no período de janeiro de 2018 a julho de 2019.
Foragido desde 2020, após ser denunciado na operação Sharks do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MPSP, ele era uma das principais lideranças da facção em liberdade. Ele seria responsável pelo transporte de mais de 15 toneladas de cocaína em um único ano.
A Diretoria de Inteligência da Polícia Civil de Pernambuco monitorou as atividades do alvo a partir de informações compartilhadas pelo MPSP, que investiga e monitora o criminoso desde 2012.
Com o criminoso, no condomínio de luxo na Praia dos Carneiros, foram apreendidos documento de identificação falsos, cartões de crédito e celulares.
Antes de ser preso numa blitz da Polícia Rodoviária Federal no ano passado, o número 2 do PCC estava foragido desde 13 de agosto de 2014.
Colorido aproveitou uma saída temporária do Centro de Progressão Penitenciária de Valparaíso, em São Paulo, e fugiu do Estado. Desde então, vinha sendo procurado pela Polícia Federal.
De acordo com o MPSP, Valdeci viveu refugiado na Bolívia, negociando cocaína em nome da facção, para envio ao Brasil. Ele era considerado um dos principais fornecedores de drogas para os estados da região Sudeste e mantinha contato com as principais lideranças do PCC.
Além disso, Colorido é acusado de lavar R$ 23 milhões investindo em imóveis, rebanho bovino e sete igrejas evangélicas. Ele já foi condenado por homicídios e tráfico de drogas.
O número 2 do PCC recorreu a plásticas para fugir da polícia. Fotos tiradas logo após a prisão em Salgueiro mostraram que ele estava com a pele mais bronzeada, com as maçãs do rosto mais preenchidas e até menos rugas.
Após a nova prisão, o acusado foi transferido para a Penitenciária Federal de Brasília.