Tecnologia e Inovação, com Guilherme Ravache

Tecnologia e Inovação

Por Guilherme Ravache
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Signal e Telegram podem se tornar problema maior que WhatsApp

Ao se tornar alvo de fake news, app de mensagens do Facebook impulsiona o crescimento de concorrentes, mas as alternativas podem criar grandes problemas

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Guilherme Ravache

Publicado em 28/01/2021 às 15:11 | Atualizado em 29/01/2021 às 10:24
O Signal é um aplicativo de código aberto. - DAMIEN MEYER / AFP

Se você recebeu uma mensagem dizendo que o Facebook passaria a ler todas as suas conversas no WhatsApp, você não está só. Mas se você acreditou, sinto informar, foi vítima de fake news. Essa é mais uma notícia falsa espalhada em redes sociais.

Não deixa de ser irônico que o WhatsApp, uma das principais fontes de disseminação de fake news, tenha se tornado uma vítima de notícias falsas. E pior, com grande parte dessa notícia sendo espalhadas no próprio Whatsapp.

No início de janeiro o Facebook, que é dono do WhatsApp, comunicou uma mudança em seus termos de serviço. As alterações foram projetadas para permitir que contas de empresas enviem e armazenem mensagens para mais de 2 bilhões de usuários do WhatsApp. Mas a mudança veio com um ultimato: concorde até 8 de fevereiro, ou você não poderá mais usar o aplicativo.

Basicamente, o Facebook queria algo que muitos apps já fazem. E se você usa o Instagram, Facebook ou Messenger, já compartilha esses dados. Mas a confusão foi tão grande que o WhatsApp adiou a mudança da política até maio.

E por que o Facebook não pode ler suas mensagens? Porque o WhatsApp seguirá tendo criptografia de ponta a ponta (um recurso de segurança que impede que alguém leia suas mensagens no meio do caminho). E a mudança da política não mudará a maneira como os dados trafegam no WhatsApp, eles seguem sendo criptografados. Assim, ninguém pode ler o que você escreve.

Mas fake news são poderosas. E a notícia, mesmo sendo falsa, levou muita gente a migrar para o Signal e Telegram. Mas essas alternativas são realmente melhores que o WhatsApp?

Os riscos dos concorrentes

Com a notícia de que o WhatsApp compartilharia as mensagens, um crescente número de pessoas migrou para o Signal e o Telegram. Dois aplicativos de mensagens concorrentes do WhatsApp.

Elon Musk, o fundador da Tesla, inclusive tuitou em seu perfil uma recomendação para as pessoas usarem o Signal. Mas nem tudo é perfeito e nenhuma tecnologia existe sem riscos.


O Signal está crescendo rapidamente. Hoje, estima-se que tenha 40 milhões de usuários e 20 milhões deles aderiram à plataforma apenas no último mês. Porém, o Signal começou a desenvolver recursos que podem tornar a plataforma mais vulnerável a abusos. Funcionários atuais e antigos que trabalham no Signal estão se manifestando contra as mudanças.

Antes de seguirmos, vale dizer que o Signal é seguro (não queremos outra fake news), mas como toda tecnologia, ela não é infalível e tem limitações.

Primeiramente, diferentemente do WhatsApp, que tem uma empresa que cuida de tudo, o Signal é uma plataforma de código aberto. Ou seja, o trabalho é realizado de maneira colaborativa e qualquer programador pode sugerir melhorias no código. E isso torna a plataforma potencialmente mais segura à medida que há mais pessoas buscando problemas, por outro lado, traz outros problemas.

O jornalista Casey Newton publicou uma extensa reportagem discutindo os riscos do Signal:

“O rápido crescimento da Signal também tem sido um motivo de preocupação. Nos meses que antecederam e seguiram às eleições presidenciais dos EUA em 2020, os funcionários da Signal levantaram questões sobre o desenvolvimento e adição de novos recursos que eles temem que farão com que a plataforma seja usada de maneiras perigosas e até prejudiciais. Mas esses avisos foram amplamente ignorados, enquanto a empresa buscava uma meta de atingir 100 milhões de usuários ativos e gerar doações suficientes para garantir o futuro da Signal a longo prazo”.

A preocupação em torno do Signal está no fato da plataforma não seguir políticas ou termos de uso específicos. Ou seja, há um grande risco de se tornar um território sem controle para criminosos e grupos extremistas.

Segundo Newton, “os funcionários temem que, caso a Signal falhe em criar políticas e mecanismos de fiscalização para identificar e remover agentes mal-intencionados, as consequências podem atrair mais atenção negativa dos reguladores às tecnologias de criptografia em um momento em que sua existência está ameaçada em todo o mundo”. Signal, Telegram e WhatsApp usam criptografia de ponta a ponta.

O Signal é uma empresa com cerca de 30 funcionários, ferrenhos defensores da criptografia e movimentos liberais de esquerda. Com isso em mente, criaram mecanismos como a possibilidade de desfocar imagens de pessoas em protestos e, em 28 de outubro, adicionou links de grupos. Com alguns toques, os usuários podiam criar links que permitiriam a qualquer pessoa entrar em um bate-papo em um grupo de até 1.000 pessoas.

Segundo os funcionários, a Signal está desenvolvendo várias ferramentas que podem ser usadas para abusos. Durante anos, a empresa enfrentou reclamações de que sua exigência de que as pessoas usassem números de telefone reais para criar contas aumentava o risco com privacidade e segurança. E então o Signal começou a trabalhar para permitir que as pessoas criem nomes de usuário exclusivos. Mas nomes de usuário (e nomes de exibição, caso a empresa os adicione também) podem permitir que as pessoas se façam passar por outras - um cenário que a empresa não tem um plano para resolver mesmo estando prestes a lançar a função.

A plataforma também está desenvolvendo uma opção de pagamento baseada em criptomoedas como o Bitcoin. Mas diferentemente do Facebook, não mantém conversas com governos e órgãos reguladores em torno do tema.

E a exemplo de outras empresas do Vale do Silício, o Signal tem o crescimento como sua prioridade. A direção da empresa afirma que ao atingir 100 milhões de usuários, se tornará sustentável por meio de doações dos usuários.

O aplicativo não tem fins lucrativos e é financiado pela Signal Foundation, que foi criada em 2018 com um empréstimo de US $50 milhões do cofundador do WhatsApp, Brian Acton. O desenvolvimento da plataforma é apoiado por esse empréstimo. Os registros mostram que o valor já superou US $100 milhões com doações de usuários.

Acton se tornou bilionário ao vender o WhatsApp para o Facebook por US $22 bilhões em 2014. Acton deixou o WhatsApp em 2017 por se opor aos planos do Facebook de introduzir publicidade e mensagens comerciais na plataforma.

Da Rússia, com amor

Os desafios enfrentados pelo Telegram são semelhantes aos do Signal. O Telegram tem sido uma dor de cabeça para regimes autoritários há anos. A Rússia e o Irã já tentaram baní-lo, sem sucesso. Em Belarus e Hong Kong o app de mensagens foi chave para a comunicação de quem protestava nas ruas.

Mas como muitos aplicativos de mensagens criptografadas, o Telegram tem se tornado um refúgio para a extrema-direita, racistas, conspiradores e propagadores de notícias falsas à medida que o Facebook, Twitter e Reddit aumentam o controle. O Telegram também tem sido usado por terroristas. Na Rússia, ele foi supostamente usado por um homem-bomba que matou quinze pessoas em São Petersburgo em abril de 2017.

A Rússia é notória por seus excelentes programadores e hackers, além de um governo autoritário e hábil na exploração da tecnologia como ferramenta de espionagem. Não por acaso, são apontados como os responsáveis pela invasão de dezenas de empresas e órgãos de governo dos Estados Unidos.

Mesmo que o Telegram seja mais seguro que o WhatsApp, diferentemente do Facebook que responde a governos no mundo todo, o Telegram é um enigma. Pavel Durov, fundador do Telegram, vive em um auto-exílio desde que se recusou a entregar dados do Telegram para o governo russo. Os funcionários da plataforma também são discretos e evitam a exposição pública para evitar sanções do governo russo.

Ou seja, nenhuma tecnologia é perfeita. E independentemente da plataforma que você usar, lembre-se que sempre há riscos.

 

 

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