A reabertura das praias nas cidades da Região Metropolitana do Recife (RMR), ainda que de forma gradativa e sem a volta imediata do comércio, foi recebida com alívio pelos representantes do trade turístico. Empresários do setor acreditam que a liberação é essencial para atrair os visitantes no segundo semestre, principalmente locais e regionais em um primeiro momento, e atenuar os prejuízos causados durante o período de quarentena instituído para conter a contaminação pelo novo coronavírus.
Entre março e maio, as perdas acumuladas no turismo em Pernambuco já somam R$ 2,52 bilhões, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Somente em abril, o primeiro mês de validade das medidas mais restritivas de isolamento social, o índice de atividades turísticas do Estado registrou o seu pior desempenho histórico, com recuo de 60,9%, de acordo com o IBGE. Pesquisa realizada pelo Departamento de Hotelaria e Turismo (dHT) da UFPE também indica que 33,5% dos trabalhadores do setor foram demitidos no Estado, índice que chegou a cerca de 40% em Ipojuca, onde está a praia de Porto de Galinhas, principal destino turístico do Estado.
>> Saiba o que está permitido a partir deste sábado (20) nas praias, calçadões e parques do Recife
>> Recife libera Ciclofaixa de Turismo e Lazer a partir de domingo (21); veja as regras
>> Olinda libera áreas da orla para atividades físicas; veja quais
>> Saiba como Cabo, Jaboatão e Itamaracá vão proceder com relação à abertura de praias e parques
A expectativa agora é começar a reverter esses índices negativos. "Em mais de 90 dias, nosso faturamento foi zero. Mas agora já há uma demanda de turistas regionais para o Estado, que esperavam saber justamente quando poderiam voltar a frequentar o litoral. Nossa aposta neste segundo semestre será no turismo rodoviário", conta o vice-presidente nacional da Associação Brasileira das Agências de Viagem (Abav), Marcos Teixeira. Na avaliação dele, com a retomada agora, e caso não haja nenhum recuo em relação ao controle da pandemia, somente a partir de dezembro será possível pensar em recuperação efetiva. Segundo Teixeira, até o ano passado, havia 436 agências em Pernambuco, sendo 98% micro e pequenas empresas. "Não sabemos quantas realmente vão conseguir voltar e quantas vão falir. Por enquanto, só estamos trabalhando nos canais online. O que queremos agora é a reabertura das lojas físicas, uma vez que o resto do comércio já voltou", reivindica.
"Poder reocupar as praias é importante porque sinaliza que o nosso principal atrativo já pode ser usufruído, mesmo com os devidos cuidados. Afinal, uma caminhada e um banho de mar só fazem bem à saúde", corrobora Luís Guilherme Pontes, diretor executivo do Grupo Pontes Hotéis, que agrega o Mar Hotel e o Atlante Plaza, em Boa Viagem (Zona Sul do Recife), e o Summerville Beach Resort, em Muro Alto (Ipojuca). O empresário estima também para o fim do ano a reconquista de um número de hóspedes capaz de equilibrar os custos da operação.
A seção local da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis (ABIH-PE) calcula em 40% a 45% a ocupação mínima para não haver prejuízo. No entanto, os índices patinaram entre 5% e 8% para os hotéis que permaneceram abertos, uma vez que os estabelecimentos não foram obrigados por decreto a suspender as atividades. Ao contrário, foram considerados atividades essenciais. Para o presidente da entidade, Eduardo Cavalcanti, é preciso mais que a orla aberta para recuperar as perdas. "Metade dos hotéis do Recife ainda está fechada. O turista não vem para fazer exercício. Ele vem para curtir a praia como um todo, com os bares e restaurantes do entorno, as atrações em geral", afirma.
Por enquanto, entre os 15 municípios da RMR, Recife, Ipojuca, Cabo, Paulista, Olinda e Itamaracá anunciaram as medidas específicas que serão válidas em cada município, uma vez que o governo do Estado transferiu para as cidades a responsabilidade por definir as regras de reabertura das praias. A prefeitura de Jaboatão dos Guararapes disse que vai aguardar a publicação do novo decreto do Governo do Estado para determinar o seu protocolo.
PORTO DE GALINHAS
No caso de Porto de Galinhas, a liberação ocorre a partir deste sábado (20) exclusivamente para as práticas esportivas individuais, incluindo o banho de mar, com restrição de horário das 4h da manhã às 12h. A medida se estende a toda a faixa litorânea da cidade, que contempla outros redutos famosos, como Muro Alto, Cupe, Maracaípe e Serrambi. Com exceção das práticas esportivas dentro do mar, o uso da máscara é obrigatório.
Independentemente do anúncio oficial de governo e prefeituras, alguns dos principais hotéis de Porto de Galinhas já haviam divulgado a reabertura a partir do fim de junho. O trade, inclusive, fez uma parceria com o Hospital Português e a UFPE para desenvolver um manual com os protocolos de convivência com a covid-19 e transmitir a imagem de um destino seguro. "Há dois meses, trabalhamos nisso. Estamos preparados. Sem a abertura das praias, não seria justo conosco nem com os turistas. Precisamos abrir, para trazer junto as agências e operadoras", avalia o Presidente da Associação dos Hotéis de Porto de Galinhas (AHPG), Massimo Pellitteri.
Enquanto a aviação não restabelecer a malha aérea a patamares pré-pandemia, o executivo acredita que a ocupação no destino deve ficar entre 15% e 20%, devendo atingir 50% a 60% a partir da alta estação, em dezembro. "Precisa ter avião para trazer as pessoas. Sempre fomos otimistas e saímos na frente, mas a única certeza que se tem agora é que tudo vai depender muito da evolução da pandemia", pondera. "Março e abril seriam os melhores dos últimos anos e, de repente, acabou tudo", lamenta.
No Aeroporto do Recife, a movimentação em maio despencou 90,8% comparado ao mesmo período do ano passado.
Até antes da crise da covid-19, 75% dos viajantes de Porto vinham do Sul, Sudeste e Centro-Oeste; 5% a 7%, do exterior, principalmente Argentina; e cerca de 20%, do próprio Nordeste. Agora, esses percentuais devem se inverter, com a preponderância de pernambucanos e nordestinos.
Empregos
A retomada do turismo no litoral pernambucano pode trazer esperança também aos trabalhadores que perderam o emprego na pandemia. Sócios dos hotéis Armação e Kembali, Pellitteri acredita que será possível recontratar ainda este ano pelo menos metade dos colaboradores demitidos em Porto de Galinhas, caso as perspectivas da retomada se concretizem. Cerca de 25 mil pessoas dependem direta ou indiretamente do turismo no destino.
RECIFE
No Recife, as praias e parques serão reabertos a partir deste sábado, mas apenas para a prática de atividades individuais, como corrida, caminhada e ciclismo. Ainda não há autorização para entrar no mar. Segundo a secretária de Turismo da cidade, Ana Paula Vilaça, o objetivo ainda é evitar aglomerações na areia. "A depender dos números avaliados pelo comitê de saúde, vamos liberar e investir cada vez mais nas experiências em espaços públicos e abertos. As pessoas não vão viajar de imediato, por isso, nosso trabalho será para que o próprio recifense redescubra a cidade. Em seguida, queremos trazer os pernambucanos de outros locais e o público regional, para só então pensar no nacional e internacional", diz.
Na capital pernambucana, pelo menos 60% do turismo é de negócios, que deve ser um dos últimos segmentos a se recuperar da crise desencadeada pela covid-19. Isso porque ainda não há previsão para a retomada dos eventos e as empresas, combalidas financeiramente, também estão evitando as viagens neste momento. Soma-se a esse fator, a redução da oferta de voos.
Segundo o secretário de Turismo de Pernambuco, Rodrigo Novaes, o plano do governo do Estado foi desenhado para que a atividade turística seja retomada aos poucos. “Para que a gente possa fazer isso com todos os cuidados, precauções e cautelas.”
O presidente da representação local da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-PE), Alexandre Araújo, lamenta que, "mais uma vez", o setor de bares e restaurantes tenha ficado de fora. “Temos condições de reabrir com protocolos e práticas seguras. Sugerimos ao governo do estado diversas datas, mas só temos um aceno que deva ser na sexta etapa do plano de reabertura, que se inicia em 6 de julho.” Araújo estima que cerca de 3 mil estabelecimentos do setor já estejam comprometidos financeiramente e não voltem a abrir as portas em Pernambuco. O setor contava antes da pandemia com cerca de 240 mil colaboradores. Cerca de 20% desse pessoal deve perder os postos de trabalho, calcula.
CABO DE SANTO AGOSTINHO
No Cabo de Santo Agostinho, a reabertura se dará de forma gradativa. Na próxima segunda-feira (22), junto com a liberação das práticas esportivas e atividades físicas nestes locais, o município também divulgará um decreto com essas e outras medidas da reabertura. Banho de mar, comércio de alimentos e bebidas alcoólicas na orla não estão liberados. No dia 30 de junho, a prefeitura fará uma avaliação para decidir se amplia a flexibilização.
PAULISTA
OLINDA
Na orla de Olinda, a liberação do calçadão, ciclovia e faixas de areia ocorrem a partir de domingo, para a prática de atividades físicas individuais, mas com a determinação de se evitar as aglomerações.
ITAMARACÁ
Itamaracá, por sua vez, vai aguardar até o fim deste mês, quando termina o lockdown imposto na ilha."Daqui para lá estamos acompanhando de perto, para definir pela abertura ou não. Vai depender de como se comporte a curva epidemiológica", pontua o secretário de Turismo, Bruno Reis.
IMPACTO ECONÔMICO DO TURISMO
Até 2019, o turismo representava cerca de 3,9% do PIB do Estado, com um faturamento de R$ 9,5 bilhões, segundo dados da Empetur e da Secretaria estadual de Turismo, Lazer e Esportes. Para este ano, o impacto ainda não foi mensurado. Em Ipojuca, estima-se uma queda de pelo menos 50% da arrecadação com o Imposto Sobre Serviços (ISS). Em 2019, somente com a hotelaria, o ISS apurado foi de R$ 26,3 milhões.
Comentários