saúde na pandemia

Profissionais de educação física opinam sobre decreto que defende abertura de academias

Profissionais de educação física falam sobre o decreto que permite abertura de academias de ginástica

Gabriela Máxima
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Gabriela Máxima
Publicado em 13/05/2020 às 14:22 | Atualizado em 13/05/2020 às 15:39
Foto: Bernardo Soares/JC Imagem
Academias estão fechadas por conta da pandemia do novo coronavírus - FOTO: Foto: Bernardo Soares/JC Imagem

O novo decreto que inclui academias de ginástica como serviço essencial dividiu opiniões entre os profissionais de educação física. Especialistas destacam que exercícios físicos são fundamentais para a manutenção da saúde, mas acreditam, por outro lado, que os estabelecimentos esportivos podem ser vetores de contaminação do novo coronavírus. A solução apontada por alguns especialistas é seguir 100% as medidas de proteção. Mesmo assim, há o risco de infecção.

Vale destacar que, apesar do decreto do presidente Jair Bolsonaro, o governo de Pernambuco não permitirá a abertura dos estabelecimentos esportivos em Pernambuco. Inclusive, novo decreto endureceu as medidas e, a partir do próximo sábado, haverá fiscalização da circulação de pessoas nas ruas em cinco municípios. São eles: Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Camaragibe e São Lourenço da Mata. 

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"Duas vertentes para analisar"

O profissional de educação física Ivan Xavier, que atua também como personal trainer, explicou que há duas vertentes sobre o assunto que precisam ser analisadas. 

"A primeira é que de fato o exercício físico favorece sim a saúde física e mental das pessoas e ajuda sim a imunidade. Isso é um fato. Mas a gente tem outro problema. A outra vertente que é sobre a disseminação do vírus. As academias também podem ser um grande vetor de disseminação dos vírus por conta do contato, com as pessoas talvez ficando mais próximas, a questão de segurar um aparelho, segurar um implemento e depois pode passar a mão no rosto, nos olhos, nariz e boca. Existem essas duas vertentes que devem ser analisadas", comentou Ivan, que  continuou. 

"O país passa por uma dificuldade muito grande no atendimento, com pessoas que têm acometimento maior e que vão precisar de respiradores, por exemplo, e não têm o suficiente para atender a população. Então, acredito que o lado mais forte hoje é respeitar o isolamento, embora exista uma solução. Solução acordada com os proprietários de academias e com os praticantes. Seria usar 100% as medidas de cuidados com relação à contaminação.

O profissional aponta que uma academia com 1.000 ou 2.000 alunos poderia trabalhar com 10 alunos por hora em um espaço de 500m2, respeitando a distância de 2m ou 3m. Todos também deveria utilizar os equipamentos de proteção individual (EPIs) e álcool para higienização. "Sinceramente, eu acho um pouco inviável porque, primeiro, as academias não têm estrutura para fazer isso. E segundo, os praticantes não podem não acertar uma reserva de horários. Existe uma logística que fica complicada de ser realizada. Existe o fato de que pode sim ter uma contaminação. 

"Sedentarismo mata 18% da população mundial"

Lucas Ramos, por sua vez, é profissional de educação física, trabalha com consultoria on-line e é gestor de uma rede de academias do Recife. Ele é a favor da abertura dos estabelecimentos esportivos. Ele explica sua opinião.

"É muito positivo porque o exercício físico é um remédio para muitas doenças, principalmente para o sedentarismo. O sedentarismo mata por ano 18% da população mundial, o que é equivalente a 5,2 milhões de pessoas. A gente também tem um aumento muito grande de doenças crônicas como hipertensão, diabetes e obesidade, que são doenças que o exercícios físicos surgem como remédio para ajudar e promover qualidade de vida, saúde, bem-estar e aumentar a expectativa de vida para as pessoas que têm essas doenças", argumentou o especialista. 

O profissional falou ainda da importância do exercício para reabilitação de lesões e patologias. "Um outro cenário que a gente se depara muito é a reabilitação. Muitos pacientes e muitas pessoas precisam do exercício físico, da musculação, para reabilitar alguma cirurgia que fez. Para reabilitar algum tipo de lesão, algum tipo de patologia ao longo do tempo, alguma doença. O exercício físico mostra para população e todas as pessoas que são informadas que o exercício físico é benéfico e essencial para todo mundo. Eu sou muito a favor que o exercício físico e esportes voltem a ser praticados em academias, clubes, espaços de treinamento, portanto, seguindo as recomendações que o Cref-PE já disponibilizou", falou. 

"Ambiente de academia não é ideal"

Já o personal trainer Bruno Melquiades revelou que ficou surpreso com o novo decreto e sua primeira reação foi achar a medida "absurda". "É um tema bastante complexo e vai divergir as opiniões, tanto pra quem é da área de educação física e para quem é aluno das academias. Inicialmente, assim que eu vi o decreto achei meio absurdo porque a gente tem outras prioridades nesse momento. O País vive um momento em que todas as atenções têm que ser voltadas para outras coisas. E a gente está tendo uma distorção do que realmente é necessário. Primeira impressão foi essa. Achei inacreditável", confessou.

O profissional falou também que foi positivo observar de certo modo a valorização dos exercícios físicos como ferramenta de promoção de saúde. Mas ele destaca que há outras formas de se movimentar sem colocar em risco a vida das pessoas nesse cenário de pandemia.

"Não é novidade que atividade física é importante para a saúde física e mental, mas acho  que o ambiente de academia, principalmente para esses moldes que a gente tem aqui no Recife e no Brasil, não é um ambiente muito bacana para voltar nesse momento. Em geral, são ambientes fechados, com ar condicionado, com muitas máquinas muito próximas umas das outras, inclusive, equipamentos de cardio, esteira, elíptico, que são muito próximos. Vai ser muito complexo ajustar essas coisas", comentou. 

"Portanto, o ambiente de academia não é ideal para voltar a fazer atividade física. É melhor fazer ao ar livre ou em casa, que é até melhor, é mais seguro. Para você e para outras pessoas", concluiu.

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