Pop

Rina Sawayama faz disco de estreia irretocável

Artista mistura gêneros e entrega composições confessionais em trabalho ousado
Márcio Bastos
Publicado em 17/04/2020 às 19:14
Em seu primeiro disco, Rina Sawayama mescla suas referências e se despe emocionalmente Foto: Divulgação


Rina Sawayama conseguiu com seu álbum de estreia, lançado sexta-feira (17), o árduo feito de entregar um trabalho original, que evidencia a multiplicidade de seu talento e de suas ambições artísticas. Intitulado com seu sobrenome, o trabalho desafia convenções do pop e mescla o ritmo ao r&b, heavy metal, entre outros gêneros, criando uma obra instigante e cheia de personalidade.

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Nascida no Japão, mas criada na Inglaterra, Rina é uma estrela pop perfeita para a contemporaneidade. Suas referências vão desde o pop massificado até as sonoridades experimentais, sempre aberta às influências de diferentes culturas. Exemplo disso é a parceria da artista com Pabllo Vittar no remix de Comme Des Garçons (Like The Boys), uma celebração da música dance do início dos anos 2000.


Sawayama é um álbum que reflete essa disposição em não se limitar, buscando explorar o potencial que há na combinação de opostos. Em entrevista ao britânico The Guardian, ela classificou o disco como uma culminância de todas as experiências de sua vida, sofrimentos, rejeições, vitórias e alegrias.


Há algo de constelação familiar na obra que começa na escolha do sobrenome para nomear o trabalho e segue em faixas que tocam na transmissão de emoções através das gerações. Dynasty, música que abre o disco, é dirigida aos seus pais, relata o sofrimento com as crises conjugais e como alguns traumas ainda a atormentam. “A dor na minha veia é hereditária”, canta, para, mais a frente, afirmar que não sucumbirá e irá quebrar o ciclo de dor. Em Akasaka Sad, ela faz um paralelo entre sua dor e solidão e a da mãe.

Nesse processo de autoanálise refletido em suas composições, Rina encara seus demônios, mas também escreve lembretes da importância de reconstruir a autoestima, como em Love Me 4 Me e a já citada Comme Des Garçons, que ironiza estereótipos de gênero.

Paradisin’ é como um grande liquidificador de gêneros musicais, enquanto XS faz uma homenagem ao r&b do início do século, com inserções de guitarras, instrumento, inclusive, que marca a excelente STFU, um inesperado nu-metal, que poderia soar completamente deslocado em outro álbum, mas, na obra de Rina, é intercalado com toques de J-pop.

O rock volta a dar o tom em Who’s Gonna Save U Now, na qual ela incorpora uma amante pronta para o acerto de contas com seu algoz. Na mesma matéria para o Guardian, ela disse ter escutado muito o Jagged Little Pill, clássico de Alanis Morissette, uma referência para suas composições, assim como Avril Lavigne, cujo primeiro disco fez com que Rina se sentisse confortável em assumir que gostava de rock, pop e outros gêneros.


 

Sawayama é um disco extremamente pessoal e reflete as experiências de sua criadores de maneira honesta. Referências às vivências no Japão, como em Tokyo Love Hotel, ou ao sentimento de deslocamento entre culturas distintas, permeiam a obra. Outros destaques do disco são Bad Friend e Chosen Family, esta uma ode às experiências queer e de todos que formaram laços de amor e familiares para além da herança sanguínea.

Alternando entre interpretações melódicas e raivosas, Rina consegue criar uma obra original, que sem dúvidas estará, ao lado de Future Nostalgia, de Dua Lipa, entre os melhores discos de pop do ano.

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