De 07 a 12 de julho, o Cinema da Fundação realiza o I Festival de Curtas da Fundação Joaquim Nabuco. Serão 44 filmes disponíveis gratuitos e online no site www.festcurtasfundaj.com, durante cinco dias de evento.
Enquanto o isolamento social mantém as salas de cinema fechadas, o FestCurtas Fundaj nasce de um esforço para aquecer as atividades culturais.
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"Consideramos providencial realizar o festival exatamente agora, no meio desta pandemia, justamente quando toda a cultura passa por um momento de tantas dificuldades e incertezas. Queremos contribuir, enaltecer e animar, como nos é possível, o setor do audiovisual no país”, diz a coordenadora do Cinema e da Cinemateca Pernambucana, Ana Farache.
De maio até a metade de junho, o festival recebeu 520 inscrições de 21 estados diferentes, com São Paulo e Pernambuco liderando os números. 44 deles foram selecionados pela curadoria prévia do evento, em categorias de ficção, documentário e animação.
São filmes produzidos entre 2018 até a nossa atualidade. Ou seja, há a presença de trabalhos desenvolvidos durante a quarentena. Nos selecionados, Ana destaca também o forte escopo social dos curtas.
“Temas sobre gênero, minorias, etnias e desigualdade social foram majoritários nos filmes recebidos, apontando para um forte engajamento e comprometimento dos realizadores brasileiros com nossa realidade”, diz ela.
Na lista de escolhidos, a multiplicidade também se reflete na execução de cada obra. No carioca Soccer Boys, de Carlos Guilherme Vogel, acompanhamos as vivências de jogadores do Beescats Soccer Boys e os tensionamentos da homossexualidade no futebol. Já em Batom Vermelho Sangue, o diretor R.B. Lima expõe uma sociedade cada vez mais hostil as diferenças.
Mais experiente, Piu Piu, do pernambucano Alexandre Figueirôa, recorre ao resgate como uma forma de rememoramento de processos históricos da luta. Também do Nordeste, Aqueles Dois (CE) e Em Reforma (RN) são bons exemplos entre a representação LGBTQ+ e a práxis cinematográfica.
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Os temas raciais não ficaram de fora, ora marcados pelo didatismo frontal, ora pelo experimentalismo sugestivo. A Morte Branca do Feiticeiro Negro, de Rodrigo Ribeiro, alinha uma carta de um escravo a um jogo de imagens de arquivos na busca de elipses visuais potentes. Ditadura Roxa, de Matheus Moura, cria metáforas entre cores numa sociedade fictícia que se confunde com a nossa.
Ruído Branco, do paulista Gabriel Fonseca, é mais direto e reflete sobre os processos de embranquecimento que o Brasil sofreu durantes 130 anos, desde a abolição da escravatura.
Questionar definições de gênero, reescrever narrativas clássicas, para então criar novas possibilidades de formato. Boa parte dos 44 curtas que ficarão disponíveis para visualização no FestCurtas, podem ser descritos dessa forma.
Nos pernambucanos Volta Seca, de Leo Tabosa, e Marie, de Roberto Veiga, acompanhamos Marie e Marieta. Duas personagens complexas e fortes, que revisitam seus passados de incompreensões e preconceitos na infância e adolescência. Todos tensionamentos constituem fortes ligações espaciais: ambos são road movie de retorno ao sertão.
O cinema de gênero também está por lá entre os selecionados. 1996, de Rodrigo Brandão, é um bom exemplo de como a tendência vem se solidificando nas produções do país. Gravado em fita VHS, o curta é uma espécie de ficção científica com bastante suspense. Minha Mãe tem um Demônio, de Demerson Souza, é outro do tipo que animará os fãs de terror com uma narrativa amarrada e visceral.
Tratando-se de animação, também é possível enxergar na seleção como a cadeia pernambucana do gênero vêm se expandindo. Tem Nimbus, O Silêncio lá de Baixo e O Homem das Gavetas, quase todos locais.
“A partir dessa seleção, cerca 10% dos curtas inscritos, o cinema brasileiro confirma sua diversidade de estilo e de produção, com filmes realizados em praticamente todos os estados do país”, resume Ernesto Barros, curador do Cinema da Fundação.
A premiação dos curtas será definida por um júri formado por três membros. São eles o cineasta Camilo Cavalcante (A História da Eternidade e Beco), o programador Bernardo Lessa (um dos 10 jovens talentos da América do Sul selecionados para treinamento na Industry Academy do Festival de Locarno) e Amanda Mansur (autora do livro O Novo Ciclo de Cinema em Pernambuco e coordenadora do Laboratório de Imagem e Som do Agreste).
Os prêmios agraciarão a melhor ficção, documentário e animação, além do Prêmio Cinemateca Pernambucana para a melhor produção local. O FestCurtas 2020 terá também o prêmio do público, escolhido por votação online.
Os diretores premiados de outros estados receberão passagens áreas e diárias para participarem da Mostra presencial do FestCurtas Fundaj 2020, no Cinema da Fundação, no Recife. Serão exibidos na programação do cinema os filmes vencedores, assim que o equipamento for reaberto (durante uma semana, cada).
Além dos tradicionais selos de premiação e certificados, os diretores também receberão passe livre para frequentarem as salas do equipamento (com um acompanhante), durante dois meses.
Como é de costume nos projetos do Cinema da Fundação, a acessibilidade comunicacional também foi levada em conta. O FestCurtas recebeu também filmes em versões acessíveis para pessoas com deficiências visuais e auditivas, produzidas pelas equipes dos filmes.
De 32 inscritos com algum recurso (Audiodescrição, janela de Libras e LSE), sete serão apresentados na Mostra Acessível do festival. Três dispõe de Audiodescrição, quatro de Libras, e seis de Legenda para Surdos e Ensurdecidos (LSE).
“Num momento em que os realizadores de cinema começam a inserir os recursos de acessibilidade nos seus filmes, mesmo que timidamente, se faz necessário que os festivais também sirvam de vitrine para exibição dessas obras acessíveis para o público com deficiência", diz Túlio Rodrigues, chefe da Divisão de Acessibilidade do Cinema e da Cinemateca Pernambucana da Fundaj.
As pessoas cegas e surdas também ganham a oportunidade de acompanhar a programação do festival e conhecer a recente produção de curtas brasileiros”, conclui.