Filme 'Carlinhos e Carlão' discute homofobia com bom humor no Amazon Prime

Comédia nacional protagonizada por Luis Lobianco aborda o preconceito, o bullying e a dificuldade de assumir a sexualidade
Robson Gomes
Publicado em 12/11/2020 às 12:10
Thati Lopes (Glorinha), Suzy Brasil (Guga) e Luís Lobianco (Carlão/Carlinhos) em cena Foto: AMAZON PRIME/DIVULGAÇÃO


O cinema brasileiro está, aos poucos, tentando voltar à ativa. Com muitas produções prontas para estrear nas salas Brasil afora, o streaming, aos poucos, tem se revelado uma direção a ser seguida. A Amazon Prime Video, por exemplo, é uma das empresas que, só neste mês de novembro, lança em sua plataforma três longas nacionais em caráter exclusivo em seu catálogo. Na quinta-feira passada (5), chegou Os Espetaculares, de André Pellenz, e nesta quinta-feira (12), foi a vez de Carlinhos e Carlão, de Pedro Amorim, estrear no site.

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Trazendo Luis Lobianco como protagonista, o longa conta a história de Carlão (Lobianco), que cresceu numa família extremamente conservadora e trabalha em uma concessionária. Ele acha que sabe tudo de mecânica e futebol e está sempre no bar com os amigos, em meio a conversas machistas e piadas homofóbicas. Até que um dia, a compra de um armário, vendido por Evaristo (Luis Miranda), muda sua rotina e o transforma. A partir daí, surgem dois personagens: de dia, o machão Carlão, à noite, um Carlinhos simpático, talentoso e divertido.

Parte do elenco se reuniu em uma coletiva remota para falar de Carlinhos e Carlão. Na conversa, Luis Lobianco explicou a função deste longa que, segundo ele, tem uma função maior que entreter. “Eu procuro ter, além do meu compromisso com o humor, uma busca por um humor humano e responsável, eu procuro ter compromisso com as histórias como ela deve ser. E como nós estávamos ali falando de homofobia – é um filme sobre homofobia, sobre como é você estar na pele do outro e como se sentem as pessoas que não se colocam na pele do outro – acho que nós não poderíamos deixar de passar pelo momento da violência”, destaca.

O ator Marcelo Souza, já conhecido do público pela drag Suzy Brasil, aparece sob duas personas na produção – desmontado, ele interpreta Guga – e ressalta a virada que o roteiro causa do espectador: “O mais legal desse filme é que as pessoas começam rindo, embarcam na história, e depois se identificam naqueles personagens extremamente homofóbicos. Eu tenho certeza que eles começam sorrindo, e na metade do longa, esse riso se cala porque elas começam a se tocar que já agiram daquela forma muitas vezes na vida”.

O veterano Luiz Miranda, que faz uma participação especial no longa, aborda a questão do “armário” na história. “De uma maneira ou de outra, esse filme mostra essa dificuldade, essa dor, esse parto às vezes que é para alguns homossexuais ‘saírem do armário’. O Carlão é um cara que sofreu com isso, de tentar se descobrir. Acho que abrimos uma janela para essa observação também, para além desse bullying, o quanto é uma libertação, uma transformação na vida de muitas pessoas, o momento em que ela decide sair do armário. O longa conta isso de uma maneira muito linda e é um grande serviço que o filme presta ao público”, afirma.

Com boas atuações e uma divertida trilha sonora, o elenco de Carlinhos e Carlão se completa com as presenças de Thati Lopes, Thiago Rodrigues, Otávio Augusto, Victor Lamoglia, Matheus Costa, Letícia Isnard, Marcelo Flores, Cláudio Mendes e Saulo Rodrigues.

HUMOR QUE EMOCIONA

Abordar o universo LGBTQIA+ no cinema e, principalmente, no humor, é uma tarefa árdua, pois hoje em dia, é preciso tomar cuidado na linha tênue entre caricatura – que geralmente, cai no papel pejorativo – e a visibilidade responsável de uma classe que é tão discriminada em vários âmbitos da nossa sociedade há várias gerações. Afinal, o Brasil é o País que mais mata LGBT’s no mundo segundo dados oficiais. Mas Carlinhos e Carlão consegue abrir o espaço para essa discussão sem cair na militância exagerada.

A direção de Pedro Amorim é bastante eficaz em equilibrar humor na medida certa e encontrar o momento de falar sério, que é quando a homofobia cresce dentro da trama e entrega um drama necessário, ainda que num “filme de comédia”. Um mérito do roteiro respeitoso escrito por Carolina Castro e Célio Porto. As cenas de homofobia, tanto velada e/ou estrutural – principalmente nas cenas da família de Carlão – quanto explícita – que vão até as últimas consequências – incomodam o espectador, mas tudo faz parte da necessidade de levar o público a reflexão sobre o assunto e despertar o mínimo de empatia com o personagem central da história.

Ao fim dos 93 minutos de longa, percebe-se que Carlinhos e Carlão cumpre, com maestria, o compromisso de dar um lugar positivo de fala aos LGBTQIA+. “Acredito que o humor não é só para rir. Acho que o humor é uma ferramenta maravilhosa para fazer um monte de coisa. O humor emociona – é o humor que eu acredito – conta história, faz rir também (tem que ser engraçado) mas o humor é um grande causador de empatia. Acho que este filme faz isso. Nós fisgamos o espectador com risadas, com cores, esses personagens divertidos no início, mas depois falamos do que deve ser falado. Não deixamos de lado isso”, conclui Luis Lobianco.

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