O espólio do artista pernambucano Francisco Brennand - que faleceu em dezembro de 2019, aos 92 anos - será representado pela galeria de arte Bergamin & Gomide, de São Paulo. A decisão foi do Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand, responsável pelo legado do artista. De acordo com a diretoria, a ideia é fazer "circular e ampliar o acesso às obras" não só pelo Brasil, mas pelo mundo.
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"[O Francisco teve] uma trajetória muito reclusa, avesso, talvez, à apresentação e comercialização dos seus trabalhos. E, ao longo de muitos anos, inclusive, isso foi possível graças à venda de pisos, que sustentou a Oficina por tanto tempo. Mas existe agora, de fato, um desejo de ampliação e circulação desse trabalho, dessas obras e, sobretudo, do pensamento do Francisco, que é um pensamento universal", afirma Lucas Pessoa, diretor-geral do Instituto, por telefone ao JC.
O contrato celebrado com a galeria paulistana deverá levar as obras de Francisco Brennand para importantes feiras de arte pelo mundo. "Nós fizemos uma primeira parceria com eles no final de 2020, um primeiro exercício de ação, colocando duas obras do Francisco na Art Basel - a feira de arte mais importante do mundo, na Suíça, que aconteceu online - e elas foram vendidas antes mesmo da abertura, uma semana antes, após uma primeira circulação. Isso mostra também um interesse, um desejo, para a obra do Francisco", explica Pessoa.
"Esta foi uma primeira ação da galeria, que se estende a outras feiras internacionais que acontecerão ao longo do ano, já que ela tem presença nas feiras de Nova York, Londres, Suíça e Hong Kong. A ideia é fazer com que esses trabalhos circulem, que tragam novas pesquisas, novas reflexões de olhares. É algo que nos interessa, é muito importante para nós", completa o diretor.
A comercialização de obras pela galeria também tem o objetivo de gerar um fundo patrimonial para o Instituto Oficina Francisco Brennand, que opera como uma empresa sem fins lucrativos, e, então, gerar mais programas educativos, culturais e educacionais. "Esse conjunto de obras detido pelo Instituto, que está sendo representado pela galeria, tem essa função. Uma função de contribuir financeiramente na manutenção e sustentabilidade de longo prazo da Oficina, do Instituto, permitindo que ele possa ampliar o seu acesso, tornando-se mais democrático, aberto e plural, com programas mais pertinentes, educativos e culturais", esclarece Lucas Pessoa.
A galeria paulistana também pretende fazer uma grande exposição de Francisco Brennand em novembro deste ano, que funcionará durante a Bienal de São Paulo. "[Será] uma grande exposição monográfica e individual do Francisco, num novo espaço que a galeria está abrindo em 2021 - uma casa do Flávio de Carvalho, um artista importante, um dos precursores da performance no Brasil, que já atuou sob diversas frentes, inclusive como arquiteto - que acontece junto com a Bienal", detalha o diretor. "A Bienal é o evento cultural mais importante do País, por onde circulam colecionadores, curadores, artistas do País e de fora", justifica.
De acordo com informações da Folha de S. Paulo, o Instituto a princípio selecionou cerca de 20 obras do patrimônio de Brennand para serem vendidas — a lista deve crescer de acordo com as necessidades do espaço. As obras têm valor a partir de 5 mil dólares e chegam aos 200 mil dólares.
NO RECIFE
Junto aos planos em São Paulo e pelo mundo, a diretoria do Instituto Oficina Cerâmica Francisco Brennand também tem planejado ações para o espaço de arte localizado no bairro da Várzea, na Zona Oeste do Recife.
A principal ação para este ano será a comemoração dos 50 anos da Oficina Francisco Brennand, também em novembro. O artista mudou-se para o espaço a céu aberto em 11 de novembro de 1971 e a ideia é abrir uma grande exposição retrospectiva também nesta data. Estão sendo estudados, ainda, duas grandes exposições na Oficina: uma da artista francesa Louise Bourgeois e outra de Ernesto Neto, artista plástico nacional.
Já em março deste ano, a Oficina Francisco Brennand pretende abrir um programa de Residência Artística.