A história das artes cênicas pode, sem exagero, ser definida entre o antes e depois do Teatro de Amadores de Pernambuco. O coletivo fundado por Valdemar de Oliveira e um grupo de apaixonados por teatro, entre eles Geninha da Rosa Borges, única sócia-fundadora viva, modernizou a forma de montar espetáculos no Estado, dialogando com as experimentações que aconteciam em outros estados e países. No próximo dia 4 de abril, o TAP comemora 80 anos desde sua estreia nos palcos, em uma história de perseverança e resistência que atravessa gerações.
As origens do TAP remontam ao Grupo Gente Nossa, que na década de 1930, capitaneado por Samuel Campêlo, começou a promover mudanças no teatro recifense, semiprofissionalizando atores e descentralizando as apresentações, com espetáculos nos subúrbios da capital pernambucana. Com a morte de Campêlo, Valdemar de Oliveira assume a direção do coletivo. Em 1941, Valdemar monta a peça Knock ou O Triunfo da Medicina, de Jules Romains, que, apesar de creditada ao Gente Nossa, é o marco inicial do Teatro de Amadores de Pernambuco.
Da estreia ao sucesso local e nacional não demorou muito. Ainda na década de 1940, o TAP circulou pelo NE e encenou diversos clássicos, fugindo do caráter comercial que dominava a cena até então. Nesse período, trabalha com grandes encenadores, como Ziembinski, Jorge Kossowski, Bibi Ferreira e Hermilo Borba Filho. O grupo ficou conhecido por suas montagens sofisticadas e pelo esmero nas atuações.
Muitos foram os sucessos do grupo, que fez brilhar nomes como Geninha da Rosa Borges e Reinaldo de Oliveira, como Um Sábado em 30, de Luiz Marinho. "O TAP deixa como herança o teatro de honestidade artística", afirma Reinaldo de Oliveira, atualmente com 90 anos.
Em 1971, o grupo inaugurou na Praça Oswaldo Cruz, na Boa Vista, sua sede, inicialmente chamada de Nosso Teatro — e, após a morte de seu fundador, em 1977, renomeado para Teatro Valdemar de Oliveira.
Durante a pandemia, o teatro foi assaltado duas vezes e a equipe luta para preservar sua integridade. Um sistema de segurança foi instalado, mas ainda não foi possível restituir toda a parte elétrica.
O espetáculo Nós, Voz, Elis abre as comemorações pelos 80 anos do TAP, dia 17 de março, às 21h, em transmissão ao vivo direto do Teatro Valdemar de Oliveira. A data é simbólica, porque marca, também, o nascimento de Elis Regina, homenageada na montagem musical. O trabalho tem roteiro e direção geral de Pedro Oliveira, que também está em cena junto a um elenco formado por 20 artistas.
"Com a chegada da pandemia, tivemos que nos reinventar, criando o canal Valdemar de Oliveira-TAP no YouTube. Apresentamos quatro lives durante o ano de 2020, com patrocínio e apoio cultural de empresas privadas, oferecendo links, gratuitamente, de trabalhos do TAP ou de integrantes do Teatro de Amadores de Pernambuco", expõe Pedro. "A falta do presencial, tão essencial à origem do teatro, foi e está sendo o grande desafio! É bem verdade que através da internet conseguimos quintuplicar nossa assistência para mais de 1.700 espectadores, mas a ausência dos 300 presenciais na nossa plateia a cada dia é mais sentida."
Além da live de amanhã, em 4 de abril, dia em que se completam as oito décadas desde a primeira apresentação do grupo, será lançado, também no YouTube, um catálogo com imagens do acervo do TAP, organizado por Yeda Bezerra de Mello.
"O projeto tem por objetivo a organização, catalogação, digitalização e difusão do acervo iconográfico do TAP, contribuindo para a preservação, a pesquisa e a difusão das imagens dos espetáculos que fazem parte da história, não só do teatro pernambucano como também do teatro brasileiro. O acervo, abrangendo os 80 anos de atividades do grupo teatral, é constituído, principalmente, por fotografias, recortes de jornais e revistas, cartazes e programas das peças", conta Yêda.
A live e o catálogo têm fomento da Lei Aldir Blanc e serão disponibilizados gratuitamente.