O universo das artes visuais em muito pode soar distante de diversas camadas da população. Para além do desafio educacional, o âmbito dos valores das obras pode afastar um público interessado em apreciação, aquisição e até colecionismo. Desde os anos 1960, o termo "múltiplo" passou a ser usado para se referir a obras pensadas para serem reproduzidas num determinado número de cópias, com tiragens maiores ou menores. Consequentemente, esse modelo se tornou uma alternativa para consumo de obras mais acessíveis.
Recentemente criada no Recife, a Galeria Número nasceu justamente para abarcar essa proposta, fazendo as artes plásticas chegarem a públicos mais amplos. A ideia partiu dos galeristas Lúcia Costa Santos, que há 20 anos comanda a Amparo 60, especializada em arte contemporânea, e Eduardo Gaudêncio e Ricardo Lyra, que há seis anos criaram a Spot Art, plataforma online.
O projeto já vinha sendo discutido pelo trio, mas foi acelerado depois do convite da CASACOR 2021, evento realizado no Pátio do Shopping Recife, Zona Sul. A organização pediu que eles apresentassem uma proposta para ocupar um espaço dedicado à arte na atual edição, até o dia 5 de dezembro. Após a programação, a Número irá para um espaço fixo na Zona Sul do Recife.
Para esse primeiro momento, a curadoria reuniu mais de 20 nomes da arte contemporânea de amplitude nacional, a exemplo de José Patrício, Luiz Hermano, Rodrigo Braga, Márcio Almeida, Derlon, Hildebrando de Castro, José Paulo, Marcos Chaves, Paulo Meira, entre outros. Outro destaque é Paulo Bruscky, que foi um dos primeiros artistas procurados pelo grupo e já tem um amplo trabalho com arte conceito e também com obras múltiplas.
"Tentamos explorar neon, bandeira, serigrafias, telas, gravuras e objetivos. Todas as obras têm essa capacidade de ser múltiplas, em vários formatos diferentes", diz Ricardo Lyra. "Essas obras podem sair em tiragens, com numerações, certificações e assinaturas que a caracterizam como múltiplas. Assim, como atrás de artistas que já trabalham com o modelo ou tinham a intenção de produzir assim".
Eduardo Gaudêncio, também da SpotArt, reforça que o múltiplo chega para dar acesso a obras de grandes nomes da arte nacional. "Raul Mourão, Marcos Chaves e Marcelo Silveira, por exemplo, são artistas representados por grandes galerias em São Paulo e Nova York. O múltiplo se torna o primeiro acesso de pessoas que começam a gostar daquele artista", diz.
"A obra múltipla se torna acessível por não ter uma tiragem única. Ela terá uma variação grande em relação à quantidade, mas sem perder a qualidade do artista. É um caminho para quem quer começar a colecionar, se aproximar do autor da obra", continua Eduardo. Sobre o processo de valorização da obra, ele ressalta que é similar ao mesmo de uma obra única. "É o artista que está fazendo, dentro da trajetória que ele percorreu. Tem uma hora que essa tiragem acaba, e cria-se um novo mercado dentro dessa série que já está esgotada", finaliza.