Guiada pelas mudanças do mercado da comunicação, a atual transformação digital da TV Globo vem ocasionando impactos notáveis para o público. Além do investimento no Globoplay, que dobrou o número de assinantes nos últimos dois anos, algumas decisões impopulares acabam chegando com mais força na esfera pública. Os grandes exemplos são as demissões de veteranos da dramaturgia e do jornalismo, historicamente ligados à soberania da TV aberta, ou a não renovação de direitos esportivos.
Como disse Erick Brêtas, diretor da área de Produtos e Serviços Digitais do Grupo Globo, os "fãs da política" logo dizem "que a Globo está falindo" a cada publicação de notícias sobre esses temas. A fala do executivo foi registrada durante entrevista ao jornalista Guilherme Ravache, colunista deste Jornal do Commercio, no portal Notícias da TV, do Uol.
Na conversa, Brêtas explica mais sobre os redirecionamentos de esforços e investimentos da empresa, que atualmente possui R$ 15 bilhões em caixa. Em relação às constantes demissões, por exemplo, ele admitiu que "é muito difícil", mas que "às vezes, o enxugamento é necessário para trazer eficiência para as operações."
"Uma empresa como a Globo, com diferentes unidades de negócio em diferentes estágios de maturidade, precisa ter partes do negócio que geram valor por meio da geração de margem (ou seja, gerar caixa) e novos negócios, como o Globoplay, que geram valor por criação de propriedades (os negócios de crescimento que aumentam o valor da empresa)", disse. Especificamente sobre a plataforma de streaming, ele esclareceu que os investimentos crescem ano a ano, tanto no conteúdo licenciado quanto no original - neste ano, esse salto será de 17%.
Já sobre as negociações de direitos esportivos, ele chegou a pincelar do modus operandi do mercado com a emissora nos últimos anos. "No passado, a simples presença da Globo em uma mesa de negociação já fazia aquele direito custar o dobro. Havia uma crença dos detentores dos direitos de que a Globo pagaria qualquer valor para ter os direitos. [...] A Globo não está mais disposta a pagar qualquer preço por direitos esportivos. Primeiro porque os preços dos direitos esportivos estão muito mais caros do que estavam."
Brêtas também citou, por exemplo, como o Grupo Globo vem encarando a concorrência direta das gigantes de mídia e tecnologia, que estão investido mais no Brasil nos últimos anos - em escala global, o investimento em conteúdo no mundo este ano deve ultrapassar R$ 1,3 trilhão.
"Temos uma crença que vivemos em um mundo de frenemies (amigos e inimigos ao mesmo tempo). Há 20 anos, meu competidor era meu competidor e não tinha papo", disse. "Hoje, o Google é nosso maior concorrente no mercado publicitário. Mas temos muitos negócios com o Google. Mudamos toda nossa infraestrutura digital para a cloud do Google. A gente vende o Globoplay pela Play Store. Desenvolve o Globoplay para Android TV. É uma grande parceira e concorrente".
Por outro lado, o diretor também comentou o desafio que está posto para outras emissoras do país, que também poderiam atuar como "frenemies". "Na transição para o digital, nós temos dúvidas de o que as empresas menores de TV aberta vão fazer. Que ativos importantes elas podem garantir em uma transição para o digital? E o que são esses ativos? Basicamente, o conteúdo. Algumas empresas de TV têm ativos mais fortes, que permitem imaginar que vão ter uma nova encarnação no ambiente puramente digital. Em outros casos o valor está totalmente na concessão."
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