Ao longo de 1941, o público brasileiro se manteve de ouvidos atentos à história de uma jovem filha de um casal rico que descobre ser a empregada doméstica, na verdade, a sua mãe. Essa é a premissa de "Em Busca da Felicidade", primeira radionovela brasileira, transmitida pela Rádio Nacional. Com a consolidação da televisão e a renovação do rádio, o gênero foi pouco explorado nas décadas mais recentes, mas deixou um legado na produção melodramática conhecida em toda a América Latina. Após 80 anos, uma nova geração tem a oportunidade de conhecer a ficção em áudio, mas agora em novo formato: audiossérie.
Bebendo da fonte dramática para o áudio, o escritor e roteirista chileno Julio Rojas desenvolveu a série em áudio "Paciente 63" para o Spotify, a maior plataforma sonora do mundo. A produção, que envolve suspense e ficção científica, é a primeira audiossérie do serviço em língua não-inglesa. Nos novos episódios da história, que chegou à segunda temporada na última terça-feira (8), a psiquiatra Elisa Amaral (Mel Lisboa) acorda dez anos antes, em 2012, enquanto Pedro Roiter (Seu Jorge) está encalhado em um futuro perdido. Há uma troca de situações entre os dois personagens, em relação à primeira temporada, quando Pedro é levado a uma unidade de psiquiatria e é atendido por Elisa — sem nome, o homem enigmático é registrado como Paciente 63 e diz ter vindo do futuro, de 2062, para salvar o mundo de um vírus contagioso, chamado Pégaso.
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"A ideia principal por trás de 'Paciente 63' é refletir sobre as consequências das nossas ações. O futuro não é um evento independente e isolado de nós neste momento. Estamos preparando o futuro com nossas ações ou nossas apatias. Nós tecemos completamente o que está por vir. Em 2012, definimos como estamos agora em 2022, e em 2022, estamos definindo como estaremos em 2063. Não há escapatória. Nossas ações são o que fazem a realidade", disse Julio Rojas, que com a audiossérie recebeu o Prêmio APCA de Melhor Podcast de 2021.
Nesta temporada, a viagem a uma década antes é uma forma de refletir sobre as causas que levaram ao vírus contagioso. "Espero que o público siga a jornada da doutora para encontrar o vórtice certo no mundo de 2012 e mudar o futuro. A missão lhe faz sentido e a coloca no lugar certo. E não me refiro ao amor, estou falando em completar a missão interrompida na primeira temporada e gerar o movimento final que fechará a história. É uma temporada menos clínica, de hospital, e mais de personagens e de lugares, mas ainda segue tendo o DNA da primeira temporada com reviravoltas de ficção científica e uma sensação estranha de que isso está realmente acontecendo ou poderia acontecer de verdade", aponta.
"A pandemia nos mostrou o futuro cara a cara, nos disse que não há nada certo. Todas as certezas desapareceram; tudo pode acontecer. E quando você está vivendo em um universo em que tudo pode acontecer, é saudável escutar ficções e avaliar todas as alternativas sobre a incerteza. Podemos fingir que tudo o que passamos não nos importa e, ao final da pandemia, seguir com nossas vidas como era em 2019 ou enfrentar que vivemos um evento de escala planetária que deve chamar nossa atenção. Olhar para nossos medos é saudável", explica Julio sobre o contexto em que a série se passa.
Atuação
Os protagonistas da audiossérie "Paciente 63", a atriz Mel Lisboa e o ator, cantor e compositor Seu Jorge, falaram, em entrevista ao JC, sobre os desafios da atuação em estúdio e a expectativa depositada nesta segunda temporada da narrativa. "Foi muito bom porque da primeira temporada para a segunda não demorou muito tempo para voltarmos ao estúdio. Com essa velocidade, não criamos distância, a gente não perdeu muito com o que tínhamos feito. Como sempre a Mel fala: 'você não conta essa história se você não entende o que está contando'. Está sendo muito bacana ver essa aclamação da crítica e do público em geral e essa expectativa pela segunda temporada", disse Seu Jorge, em cartaz recentemente, nos cinemas brasileiros, com "Marighella" e "Pixinguinha".
"Embora faça uma prospecção de um futuro apocalíptico, o Pedro vir do futuro e dizer que alguma coisa pode ser feita é uma mensagem de esperança — mas também de alerta, porque quando ele fala na primeira temporada que o horror da humanidade não é imediato, mas, sim, acontece aos poucos... é tudo o que a gente está vivendo. Quando falamos, por exemplo, da crise climática, talvez eu, Mel, não esteja viva quando o mundo estiver em um colapso climático, mas eu tenho filhos", contextualiza Mel Lisboa sobre a relação da série com discussões hoje muito caras à continuidade da humanidade na Terra.