Patrimônio Vivo de Pernambuco, a cirandeira Lia de Itamaracá não deixará de marcar presença no Carnaval brasileiro, mesmo que simbolicamente, em 2022. A artista foi convidada para ser anfitriã de uma ação em Salvador (BA), que realizará apresentações em janelas de edifícios históricos da cidade.
A programação do "Paredão Tropical" será realizada neste domingo (27), às 20h45, com transmissão ao vivo no canal Multishow e no YouTube, Twitter e Facebook de Devassa. Os locais das janelas não foram divulgados para evitar aglomerações e as apresentações contarão com duração reduzida.
Ainda participam Carlinhos Brown, Gaby Amarantos, Xanddy, Larissa Luz e do Ilê Aiyê, Cortejo Afro e Didá, com percussionistas que tocam sem se verem, separados por janelas. O espetáculo transitará por ciranda, carimbó, samba reggae, maracatu e frevo, em alusão às manifestações folclóricas originárias do Norte-Nordeste.
Lia sobe ao palco para entoar a ciranda, manifestação artística herdada ainda na infância da pernambucana e a que levou a receber o título de Doutor Honoris Causa na Universidade Federal de Pernambuco.
"Para mim é muito importante essa participação, pois é mais um outro lado do carnaval que eu vou ver. É mais um trabalho que farei fora", diz Lia, em entrevista ao JC. "Já fiz show no Pelourinho uma vez, também fui para a festa de Iemanjá no começo de fevereiro. Tenho muitos amigos, conhecidos em Salvador."
Na capital baiana, Lia também já participou de eventos da Biblioteca Central do Estado da Bahia, a "Biblioteca dos Barris", no Mercado Cultural, inclusive em apresentação com a maranhense Dona Teté (1924-2011). Recentemente, antes da pandemia, também foi convidada pela Universidade Federal da Bahia para uma palestra num curso sobre dança. Neste ano, foi a homenageada do Festival Oferendas, em celebração à Iemanjá, que ocorreu em formato reduzido pela pandemia.
"Eu me sinto bem por não estar parada. Estou levando o meu trabalho para fora. Tenho também a minha aposentadoria como merendeira e a mensalidade do Patrimônio Vivo. Agora faço um show que não tem aglomeração", diz Lia, ao comentar sobre o segundo ano consecutivo sem carnaval, festa importante para a manutenção da cultura popular.
"Eu encontro muitos artistas, com mestres da cultura, e as respostas são sempre as mesmas. Tudo está parado. Eu faço um vídeo, participo de uma revista e saio até para o exterior. Mas e os que não podem? Os que estão parados totalmente?", questiona a artista.
Recentemente, Lia inaugurou no Forte Orange, em Itamaracá, uma mostra permanente sobre sua carreira. A "Embaixada da Ciranda", no entanto, precisou ser levada para a casa do seu empresário na praia de Jaguaribe, também na ilha. O motivo das mudanças foram os altos custos para a permanência no espaço construído pelos holandeses ainda no século 17.
Apesar da pandemia, o ano de 2022 ainda aguarda muitas novidades para Lia, a exemplo de uma série de shows dentro de uma ocupação no Itaú Cultural, em São Paulo. Em 2019, ela lançou o disco "Ciranda Sem Fim", produzido por DJ Dolores, que teve turnê impedida pela pandemia do coronavírus no ano seguinte.
O "Paredão Tropical" é idealizado e produzido pela Atenas Comunicação, com direção musical de Jarbas Bittencourt, coreografia de José Carlos Arandiba, com direção de imagem de Caio Coutinho. O espetáculo será realizado à medida que a vacinação contra a Covid-19 avança no Estado da Bahia e cumpre os protocolos pandêmicos.