Os artistas Márcio Almeida e Gabriel Petribú lançam, nesta quarta-feira (25), a partir das 17h30, obras inéditas e múltiplas, na Número Galeria, em Boa Viagem. O espaço, inaugurado em março, dedica-se à comercialização de trabalhos elaborados já com a intenção de reproduzi-los em exemplares e tiragens
Márcio Almeida apresentará duas obras. A primeira delas, "Nheë", expressão originada do termo "nhe", que no tupi-guarani significa "quem fala muito". Ela é inspirada numa instalação já realizada por ele: "Nheë Nheë Nheë, Genealogia do Ócio Tropical", que teve como base a interferência das religiões e as estratégias dos colonizadores na catequização os indígenas.
A peça, com tiragem de 10 exemplares, é um galho de oliveira com uma pá na ponta, com banho de bronze. "A oliveira é um símbolo do cristianismo, que aqui remete aos jesuítas. Quando eles chegaram ao Brasil, colonizaram os povos originários, primeiro impondo uma língua única, depois rompendo com todos os elementos de cultura que os indígenas tinham", detalha. "Já a pá simboliza o trabalho ao qual os povos originários foram submetidos — e motivo real pelo qual os jesuítas impuseram novos costumes."
A segunda peça de Almeida se chama é "Occasus", um carimbo sobre papel com a frase "Esta obra não compreende as normas da ABNT". O carimbo tem edição de 10 exemplares, e o papel carimbado, 100. De acordo com o artista, o item é uma ironia com o mercado de arte. "Atualmente, só valorizam o que se apresenta de um jeito formal, acadêmico. Meu trabalho com certeza não passa pelo crivo dessa mentalidade acadêmica."
Já Gabriel Petribú apresentará seu "Tremila Riflessioni" (em italiano, três mil reflexões). Trata-se de um frasco lacrado com 3 mil palavras. Segundo o artista, a inspiração é um dicionário escolar criado pelo filósofo Ludwig Wittgenstein (1889 - 1951), que foi adotado pela escola primária de Otterthal, pequena comunidade na Áustria rural empobrecida dos idos de 1925. "Este dicionário seria um espelho das necessidades linguísticas objetivas, pensado e realizado em conjunto com a comunidade estudantil", explica.
Livro
Além do lançamento das três obras, Lúcia Costa Santos, Eduardo Gaudêncio e Ricardo Lyra, galeristas da Número, vão inaugurar um espaço para livros de artista, também conhecidos como livros-arte ou livros-objeto. São obras em forma de livro, que não se limitam a um trabalho de ilustração.
Estarão disponíveis livros de Paulo Bruscky — e seu "Livrobjetojogo", de 1993, feito com placas de metal e ímas —, Marcelo Silveira e também Daniel Santiago.