LITERATURA

Vencedor do Jabuti, Maílson Furtado participa de debate no Recife

Escritor cearense ganhou maior prêmio da literatura nacional em 2018, em duas categorias: Poesia e Livro do Ano

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Por Fábio Lucas

Publicado em 29/07/2022 às 16:33 | Atualizado em 29/07/2022 às 16:45
MaÍlson Furtado venceu Jabuti em 2018, com o livro "À Cidade" - ESTÚDIO WTF/DIVULGAÇÃO

Maílson Furtado foi a sensação da literatura nacional quando, em 2018, ganhou o mais importante prêmio literário do País com um livro de poesia publicado de forma independente, no interior do Ceará. A pandemia interrompeu suas andanças. Por isso, apenas nesta sexta-feira (29) Maílson Furtado chega ao Recife, trazendo pela primeira vez três livros para autografar na Academia Pernambucana de Letras, após passar pelo Festival de Inverno de Garanhuns.

O autor de "À Cidade" participa de debate sobre "O local na literatura" e de uma sessão coletiva de autógrafos com mais seis escritoras e escritores, no Circuito Livronews. A programação começa às 17h30, com abertura do presidente da APL, Lourival Holanda.

Para Maílson Furtado, a literatura nordestina conquista novos espaços no mercado editorial. "Sempre tivemos um lugar bonito dentro do cenário literário do Brasil. No entanto, antes com uma necessidade da ida até o grande eixo econômico do País pra assim publicar ou mesmo seguir uma carreira", diz ele, nesta entrevista, acrescentando que tal necessidade é coisa do passado. Mas, em sua visão, a 'nordestinidade' está precisando aprofundar as singularidades.

Você está vindo do Festival de Inverno de Garanhuns, e traz seus livros pela primeira vez ao Recife. Como têm sido esses dias em Pernambuco?

Tem sido uma experiência incrível estar em Pernambuco por meio da literatura, conhecendo de forma mais profunda a cena contemporânea que só acompanho de longe. Sendo possíveis debates de nossas realidades literárias tão parecidas e ao mesmo tempo distantes, para que assim consigamos amplificar o nosso movimento, cada dia mais pulsante, que apresenta os Brasis por eles mesmos.

Qual a expectativa para o evento na Academia Pernambucana de Letras?

Estou bastante entusiasmado. Será mais um momento de encontros e intercâmbios de experiências, através do debate sempre necessário de pensar o local para, assim, ressignificar e ampliar o(s) mundo(s). Fico feliz de participar desse momento dentro do Circuito Livronews, que tem cumprido um papel importantíssimo, seja na divulgação de autores e movimentos literários nos últimos anos, seja no de estabelecer e estreitar conexões tão necessárias a esses dias.

Na sua opinião, os escritores do Nordeste poderiam circular mais na região, fora de seus estados de origem? O que esse intercâmbio proporciona para a literatura?

Sinto muito isso, que poderíamos circular mais, conversar mais, nos conhecer mais. Isso ainda não acontece como deveria acontecer. Nos abraçamos muito no sentimento de 'nordestinidade', no entanto, seguimos distantes no não aprofundamento de nossas singularidades. Somos vários numa só região e precisamos conscientizar tais particularidades como um dos motivos de nossa unidade. Precisamos ampliar o Nordeste, e isso creio que consigamos apenas por meio desses encontros.

O Prêmio Jabuti foi um marco na sua trajetória como autor. Como se sentiu naquele momento? E como enxerga a premiação que recebeu, alguns anos mais tarde?

Sim, é um marco dentro de minha vida enquanto autor. O Jabuti deu-me várias condições, que ao trilhar natural de artista independente é negado ou dificultado: circulação, distribuição, etc. Foi e é um sentimento bonito, sentir o trabalho saudado por uma grande comenda, e que segue até hoje trazendo bons encontros.

O tema do debate de hoje na APL remete ao "local na literatura". Seu livro premiado, "À Cidade", é uma homenagem à sua terra natal. A identidade com as raízes é uma característica da literatura nordestina, na sua visão?

Creio que não só da literatura feita no Nordeste, mas de várias literaturas. Aqui, sem dúvidas, utilizamos historicamente nossa ancestralidade como um dos alicerces do pensar enquanto povo, mesmo que muitas vezes de forma folclorizada. Fico bem feliz e otimista com o movimento que a cada dia se firma, vindo a protagonismo (e contadas por suas próprias experiências), ancestralidades tão-sempre negadas, como a africana e indígena, a nos dizer e nos afirmar enquanto povo, enquanto território.

Como observa a cena literária contemporânea no Nordeste?

Uma cena cada vez mais pulsante e plural, que dia a dia descentraliza frentes, antes fechadas apenas às capitais ou grandes cidades. É difícil, ou mesmo desnecessário, singularizar apenas uma cena, já que são várias, uma produção intensa que caminha desde as periferias das grandes cidades até os pequenos vilarejos, e a dizer ou marcar um tempo/espaço a partir de experiências em corpo de seus viventes.

E a inserção da literatura nordestina no mercado editorial brasileiro, está mais presente?

Sempre tivemos um lugar bonito dentro do cenário literário do Brasil. No entanto, antes com uma necessidade da ida até o grande eixo econômico do País pra assim publicar ou mesmo seguir uma carreira, quando esta possível. Hoje, creio que não haja essa necessidade, seja pela possibilidade de ser editado por um grande selo, estando em seu lugar de origem, devido ao encurtamento das distâncias que as tecnologias nas últimas décadas possibilitaram; seja pela possibilidade de ser publicado por selos do próprio Nordeste, que hoje já articulam uma cena e uma possibilidade de distribuição, anos atrás impensável. Assim, pralém de adentrarmos cada vez o mercado editorial já alicerçado no País há mais de um século, conseguimos hoje ampliar este, ao "criar" o nosso, isso amplificado a outras condições, como o aumento de eventos, de prêmios, de políticas de fomento ao setor literário, descentralizando-o.

O que você diria para alguém que deseja se tornar uma escritora ou escritor?

Ler. Ler. Ler.

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