Da AFP
O famoso diretor Stanley Kubrick disse uma vez que a trilogia de J.R.R. Tolkien "O Senhor dos Anéis" era impossível de se adaptar ao cinema.
É difícil imaginar o que Kubrick teria pensado do novo empreendimento bilionário da Amazon "O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder", uma série de televisão de 50 horas baseada em outros contos da Terra-Média.
A série, que estreia nesta quinta-feira à noite no Prime Video, canal de streaming da Amazon, pretende capitalizar o enorme apelo gerado pelos romances de Tolkien, que continuam entre os mais apreciados de todos os tempos, bem como pelas adaptações cinematográficas premiadas de Peter Jackson.
"O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder" é uma das apostas centrais da Amazon para competir na "guerra do streaming" travada pela Netflix, Disney+ e HBO Max, que acaba de lançar uma série derivada de "Game of Thrones".
A nova série é financiada pelo bilionário fundador da Amazon, Jeff Bezos, um fã de Tolkien.
A magnitude do desafio é enorme, considerando que apresenta heróis e vilões pouco referenciados na trilogia de Tolkien e seus adendos e apêndices e cujos criadores e atores são em grande parte desconhecidos.
"É bastante angustiante: estamos montando algo que nunca foi visto antes e a partir de muito poucos elementos", disse à AFP Sophia Nomvete, que interpreta a princesa Disa, a primeira anã negra retratada na tela no mundo de Tolkien. "O estresse é evidente. Queremos que tudo corra bem", comentou à AFP no mês passado.
- Novos personagens -
"Os Anéis de Poder" se passa na Segunda Era da Terra-Média de Tolkien, milhares de anos antes dos eventos de "O Hobbit" e "O Senhor dos Anéis".
Embora alguns personagens dos filmes de Jackson retornem à série da Amazon, não há Frodo, Gollum ou Aragorn.
A maioria aparece na tela pela primeira vez, e alguns até foram criados inteiramente do zero.
"A primeira temporada visa apenas estabelecer personagens e introduzir novos (...), trazendo à vida o mundo bastante esquelético que Tolkien apenas esboço na Segunda Era", diz Maxim Baldry, cujo personagem, Isildur, foi visto brevemente lutando contra Sauron no início da trilogia de Jackson.
Agora, ele interpreta uma versão mais jovem desse herói trágico.
"É um verdadeiro presente poder explorar as origens de alguém, descobrir do que essa pessoa é feita, entender quem ela realmente é", disse Baldry, entusiasmado.
- "Maravilhosamente louco" -
Quando os criadores da série, Patrick McKay e J.D. Payne, apresentaram seu conceito à Amazon depois da compra de seus direitos em 2017, tinham poucos trabalhos em seus currículos.
"Queríamos um mega-épico tolkieniano. E a Amazon estava maravilhosamente louca para dizer 'sim, vamos fazer isso'", contou McKay na Comic-Con.
Na pré-estreia de terça-feira em Londres, Bezos admitiu que "algumas pessoas" questionaram a decisão de reunir "essa equipe relativamente desconhecida". "Mas vimos algo especial nela", declarou, segundo a revista Variety.
As primeiras críticas foram, no geral, positivas. Os luxuosos figurinos, cenários e efeitos visuais foram particularmente elogiados, assim como a atuação central de Morfydd Clark como Galadriel.
A revista Time observou, no entanto, que "está cheio de belas imagens e estereótipos ultrapassados".
A série é considerada a mais cara da história da televisão.
A Amazon desembolsou 250 milhões de dólares para a compra dos direitos, e outros 465 milhões apenas para a primeira temporada.
Supondo que haverá cinco temporadas, espera-se que o custo final ultrapasse 1 bilhão de dólares.
O sigilo em torno desta aventura também é superlativo.
Chega a tal ponto que os atores desconhecem completamente o destino de seus personagens.
"Não faço ideia! Eu nem sei o que vai acontecer na próxima temporada", disse Megan Richards, que interpreta Poppy Proudfellow, uma personagem da raça dos pés-peludos, os ancestrais dos hobbits.
Daniel Weyman, que interpreta um homem misterioso identificado como "o forasteiro", insiste que os criadores do programa sabem o que estão fazendo. "Eles conhecem seu arco de história", disse à AFP.