MÚSICA

Pela primeira vez em 73 anos, concerto da Orquestra Sinfônica do Recife será regido por uma mulher

"Acho extremamente importante termos mulheres. Ainda existe um caminho distante para chegar lá", diz a maestrina Rosemary Oliveira, que irá reger concerto da OSR em conjunto com o coro do Aria Social

Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 06/11/2023 às 16:56 | Atualizado em 07/11/2023 às 11:01
A maestrina Rosemary Oliveira, vice-presidente do Aria Social, será regente de concentro com a Orquestra Sinfônica do Recife - DANIELA GUSMÃO/DIVULGAÇÃO

O Teatro de Santa Isabel, palco de diversos eventos históricos da capital pernambucana, testemunhará mais um importante momento nesta terça (7) e quarta-feira (8), quando a Orquestra Sinfônica do Recife será regida por uma mulher, a maestrina Rosemary Oliveira, pela primeira vez em 73 anos.

Na ocasião, a OSR estará recebendo o Aria Social, instituição sem fins lucrativos fundada por Cecília Brennand para formar bailarinos-cantores. Rosemary Oliveira, que é vice-presidente do Aria, irá conduzir 67 músicos da orquestra e 58 jovens do coro do Aria Social, apresentando "Missa Armorial", obra pouco conhecida do compositor pernambucano Capiba, cantada em latim e com melodia que une baião, xote e xaxado.

O concerto ocorre a partir das 20h. Os ingressos serão distribuídos no site conecta.recife.pe.gov.br e na bilheteria do Teatro.

A OSR foi fundada em 1930 e a última vez que uma mulher regeu um concerto foi em setembro de 1950. Na época, o feito foi da gaúcha Joanídia Sodré (1903-1975), a primeira maestrina do Brasil e da América do Sul.

A apresentação contará com solos dos cantores líricos Rodrigo Lins e Gleyce Vieira. O concerto também contará com três árias de Bodas de Fígaro, de Mozart.

Maestrina

O convite para Rosemary reger a orquestra partiu do diretor artístico e maestro titular da OSR, Lanfranco Marcelletti Jr., que se encantou com a qualidade artística e musical da maestrina ao assistir ao musical "Capiba, pelas ruas eu vou", comemorativo aos 30 anos do Aria Social e que teve mais de 10 mil espectadores. No musical, também foi apresentada parte da ópera "Missa Armorial".

Rosemary Oliveira e alunas do Aria Social - ALICIA COHIM/ARIA SOCIAL
A vice-presidente do Aria Social, Rosemary Oliveira, maestrina e educadora musical - DIVULGAÇÃO
Maestrina Rosemary Oliveira - DIVULGAÇÃO

"Estou super feliz. Eu me sinto extremamente feliz e lisonjeada pelo convite, porque eu nunca vi nenhuma mulher sendo convidada aqui. E eu já assisti a vários concertos. Depois que o Lanfranco assistiu ao espetáculo em que eu estava regendo e tocando, ele se encantou e pensou: 'Essa mulher precisa reger a Orquestra Sinfônica'", diz Rosemary Oliveira, que também é musicoterapeuta, multi-instrumentista e professora de música.

"Eu acho extremamente importante termos mulheres. Temos grandes maestrinas no Brasil e aqui no Recife, que é um berço de bons músicos sem espaço. Acho que ainda existe um caminho distante para chegar lá. Não sei exatamente o que ainda falta. É um lugar muito do homem, totalmente masculino. Vemos isso até pelos figurinos. Às vezes, as mulheres vestem uma roupa masculinizada para não chocar tanto. Eu vou usar um vestido. As pessoas têm me perguntado: 'Você não vai usar o blazer?'. Elas ainda se espantam."

Rosemary despertou o interesse pela música quando começou a estudar violão aos 13 anos. Bacharel em Música e licenciada em educação musical, ela é formada em violão clássico pelo Conservatório Pernambucano de Música, mestranda em Regência pela Universidade do Texas (EUA) e tem passagens por masterclasses na França, Áustria, Alemanha e Estados Unidos.

Transformação social

Quando voltou dos Estados Unidos, a musicista foi convidada pela presidente do Aria Social, Cecília Brennand, a inserir e coordenar a música no Projeto Aria Social, onde atua há 19 anos. O projeto é sediado em Piedade, Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana do Recife. Ali, foi "fisgada" pela missão de incluir as crianças e jovens na sociedade por meio da música e arte.

"Quando comecei, percebi que as pessoas vinham de vários lugares e nunca tinham tido aulas de músicas. Então, promovemos uma transformação através da música. A realização desse concerto é uma prova disso. Quase 60% do coro que vai cantar nunca pisou no palco na vida. Eles começaram a fazer aula de música esse ano no Aria Social, isso é algo fantástico", diz a regente.

Para a presidente do Aria Social, Cecília Brennand, o concerto é um momento importante na trajetória do projeto que já impactou a vida de 10 mil crianças e jovens. "Agradeço muitíssimo ao diretor da Orquestra Sinfônica. Ele teve uma visão incrível, então estamos muito gratos."

Capiba

TEATRO Musical "Capiba - Pelas ruas eu vou" homenageia o compositor pernambucano - MAX LEVAY/DIVULGAÇÃO

A presidente ressalta a importância de resgatar o legado de Lourenço da Fonseca Barbosa, o Capiba, músico mais lembrado pelo frevo. "Já comemoramos os 30 anos do Aria com um musical em homenagem a ele. Nos ensaios que fazíamos em escolas, percebemos que ninguém dessa nova geração conhece Capiba. É importante mostrar que ele tem uma ópera, sendo um resgate cultural enorme."

O coral do Aria Social, com 58 integrantes a partir de 17 anos, adiciona um componente visual ao concerto: enquanto cantam, os componentes executam movimentos de dança coreografados por Ana Emília Freire, e cuidadosamente escolhidos para não impactarem no desempenho vocal. O figurino é de Beth Gaudêncio, figurinista oficial do Aria.

Cecília Brennand adianta que existe um projeto para criar uma escola de música dentro do Arial. "Vamos começar, em breve, uma campanha para iniciar a escola técnica de música, sempre junto com a dança."

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