É certo que os serviços de streaming já mudaram a indústria audiovisual, já muito bem consolidados no consumo global. A Netflix até pode ser a principal referência hoje, mas a guerra está ainda começando, com a entrada de gigantes como a Disney e a Warner no páreo. Pois bem, a oferta é grande, assim como seus catálogos, de tal maneira a deixar o espectador perdido por um bom tempo até achar algo para assistir. Mas e se essa jornada pelos diversos títulos fosse reduzida a alguns bons filmes, tal qual um festival de cinema? Principalmente em um momento que nem os festivais, nem as próprias idas ao cinema são possíveis. Essa é a proposta do Mubi, streaming que traz uma bem selecionada oferta do cinema produzido em todo canto do mundo, das novas descobertas aos clássicos.
O Mubi conta com um esquema de curadoria, estando sempre com 30 filmes para serem assistidos. A cada dia, um título sai e outro entra, em um rodízio permanente que oxigena o catálogo de forma única em relação aos seus concorrentes. O cardápio atual conta com obras da França, Brasil, Japão, Reino Unido, Índia, Estados Unidos, Bélgica, Gana, Alemanha, Butão e Áustria. Na data de publicação desta matéria, estão compreendidas produções que vão de 1934 até 2019. Talvez, quando você estiver lendo este texto, já encontre uma oferta completamente diferente. E essa é a graça.
No Brasil, o Mubi está disponível por R$ 10 mensais nos três primeiros meses. Após o período, a taxa é de R$ 27,90. Agora, se você é estudante ou professor universitário, o serviço está disponível sem custos, pois a plataforma conta um programa de isenção que inicialmente era para estudantes de cinema, mas agora abraça todos os outros universitários do Brasil. Para a reprodução, o player funciona melhor em computadores e SmartTVs mais novas, principalmente se contar com um bom acesso a internet. Em modelos mais antigos, seu desempenho cai, com travamentos e outras dificuldades técnicas.
Dentro de sua catalógo, o Mubi conta com sessões especiais, seja de um realizador, produtora, período, país e alguns outros segmentos que englobam filmes parecidos. Atualmente, há um especial para filmes marcantes do Festival de Berlim (Berlinale), do cinema indiano, para o diretor francês Louis Malle e o japonês Yuzo Kawashima. Há também um dedicado para a produtora independente Troma, responsável por uma série de filmes trash de baixo orçamento, alguns hoje considerados cult.
Destacamos algumas obras disponíveis atualmente. O cinema pernambucano tem seu representante por lá. O Som ao Redor, primeiro longa-metragem ficcional de Kleber Mendonça Filho (Bacurau, Aquarius) está disponível desde o começo da semana. O drama social gira em torno da escalada de micro conflitos, permeados por questões de classe e históricas, ambientadas em um Recife que parece também conversar sobre esse cenário por meio de sons incômodos.
Outro brasileiro que entrou recentemente é Maria, Não Esqueça que Eu Venho dos Trópicos, de Elisa Gomes e Francisco C. Martins. O documentário propõe uma investigação na vida da escultora brasileira Maria Martins, um das mais influentes surrealistas do país.
Dentro da mostra da produtora Troma, uma das mais antigas independentes do mundo, encontra-se disponível O Vingador Tóxico (1984), o primeiro e mais popular sucesso da empresa. Considerado por muitos como um dos primeiros filmes de heróis, o filme é um suco do cinema trash dos anos 80: cenas de luta mal coreografadas, erotismo vulgar, cigarro em academias, ginástica aeróbica, moralismo, pop carregado nos sintetizadores e pitadas de crítica social. Talvez um dos mais fortes exemplares do segmento “tão ruim que é bom”.
Indo para o lado mais clássico, temos Diário de um Pároco de Aldeia (1951), melodrama de tons religiosos de Robert Bresson, diretor que é um verdadeiro marco do cinema francês e mundial. Outro realizador que tem seu nome marcado na história da sétima arte é King Vidor, presente no catálogo com O Pão Nosso (1934), drama de contornos econômicos sobre um casal que dá vida a uma fazenda comunitária após ser atingido pela crise financeira.