O longa-metragem Seguindo Todos os Protocolos, que estreia nesta quinta-feira (30), com sessões no Cinema do Porto, no Bairro do Recife (leia aqui a crítica), é o quarto trabalho de Fábio Leal na direção, sendo o segundo em que ele também protagoniza. Com exceção do documentário "Deus Tem Aids", dirigido em parceria com Gustavo Vinagre e ainda não lançado, Fábio faz uma ponta como ator no seu curta-metragem de estreia, "O Porteiro do Dia" (2016), protagoniza o seu segundo curta, "Reforma" (2018), cuja atuação foi premiada no Festival de Brasília de 2018, e também o longa que é lançado agora.
Pergunto a Fábio Leal porque ele tem se colocado com frequência nos filmes que dirige: "Eu sou ator formado em teatro e adoro atuar, mas tenho dificuldade em ser convidado e ser visto como ator. Então, é uma forma de eu exercer a minha profissão primeira".
"Tenho consciência de que eu não tenho o tipo físico que é mais chamado para atuar. Existe uma resistência forte em chamar pessoas que não são magras para protagonizar", completa.
O ator e diretor tem feito um cinema em que a câmera jamais intimida e é muito íntima: corpos aparecem nus, podem ser gordos e transam (tudo isso está em Seguindo Todos os Protocolos e, no fim das contas, perceba, é tudo trivial).
Interessa a Fábio Leal falar sobre sexo porque "o maior drama de todos talvez seja o sexo", esboça. "As questões sexuais são importantes, mas a gente tem uma não-sexualização do corpo gordo. Eu não vejo pessoas como eu no cinema nem em relações sexuais", observa ele, que se colocou nu e em cenas de sexo nos dois trabalhos que protagoniza.
"Como ator, eu me exponho de uma forma que não sei se eu pediria para outro ator [fazer igual], como mostrar estrias, gordura nas costas, flacidez, nudez", continua. "Eu já me entendo melhor com o meu corpo, com a exposição dele, ao mostrar o que para as pessoas podem ser defeitos físicos. Aprendi a ter mais carinho com meu corpo."
Escalar outro ator também significaria aumentar os custos de produções realizadas com baixo orçamento. Seguindo Todos os Protocolos, mesmo, era um curta que, com economias e parcerias, foi espichado para um longa.
O que Fábio Leal vem fazendo é movimentar-se — cabeça, câmera e corpo — para materializar em audiovisual reflexões e imagens que não vê por aí. E se ele não se escala como ator do próprio filme, não atua ou teria de esperar, quem sabe, uma comédia, gênero em que é mais comum ver atores gordos.
Mas a comédia, para ele, não é o mesmo vetor que as relações afetivo-sexuais são para os assuntos que ele quer abordar — "Pra mim, a ideia de comédia não é de alívio, ela é uma tensão. O humor nos filmes vem de tensões, fricções, medos."
Diferentemente, explica, "uma relação sexual é uma conversa, que pode ser agressiva ou um papo gostoso; pode ser mil cosas e só se descobre na relação pessoal. Você descobre a grande questão da pessoa na vida."