Gerson King Combo, pioneiro do soul brasileiro, morre aos 76 anos

Ele foi um dos mais atuantes integrantes do movimento Black Rio
José Teles
Publicado em 23/09/2020 às 15:18
Gerson King Combo, lenda do Black Rio Foto: DIVULGAÇÃO


Gerson King Combo, um dos nomes mais atuantes do movimento Black Rio, precursor do soul e do funk no Brasil, nos anos 70, faleceu nessa terça-feira, à noite, de infecção generalizada motivada por complicações com a diabetes. Ele estava com 76 anos. Gerson King Combo, o carioca Gérson Rodrigues Côrtes, irmão do compositor Getúlio Côrtes (autor de Negro Gato). Entrou na música nos primórdios do rock nacional, chegou a participar do Renato e seus Blue Caps, criou coreografias para programas da TV Rio, compôs para intérpretes do iê-iê-iê (Roberto Carlos é padrinho do seu filho).
No final do anos 60, participou do grupo Fórmula 7 (com Hélio Delmiro e Márcio Montarroyos), trabalhou com Wilson Simonal e Herlon Chaves, e atrelou-se ao emergente movimento Black Rio, e às aparelhagem dos DJs Ademir e Big Boy, assumindo o personagem de cantor de soul Music. Emplacou seu único sucesso em 1977, Mandamentos de Black, do primeiro LP solo, Gérson King Combo Vol.I.
“o negócio foi James Brown. Ele é que ensinou tudo, a música, a dança. As gravadoras quando viram que o negócio dava pé começam a gravar a gente. Eu gravei com uma porção de nomes, Wilson Smith, uma coisa assim, até que cheguei no Gerson King Combo. Ficamos dois anos fazendo o baile no Canecão, depois no subúrbio, só ia a negrada, depois no Andaraí (Zona Norte carioca), no Renascença com Dom filó, Soul Grand Prix”, contou o cantor, numa entrevista ao JC em 2016.
O Black Rio não durou mudou. Teve muito espaço na imprensa escrita, mas não na TV, era visado pelos militares, visto como desagregador da sociedade, incitando a luta racial, ao contrário da disco music, que tinha espaço garantido no rádio. Limitou-se praticamente ao Rio. Mais ou menos em 1980, o movimento feneceu. Alguns nomes seriam cultuados anos depois, a exemplo da Banda Black Rio. Gerson King Combo passou a trabalhar para uma fundação ligada à prefeitura do Rio. Lançaria disco em 1986, mas não voltou a fazer sucesso. Retomou a carreira em 2001, com mais um disco novo, Mensageiro da Paz. Enquanto suas discografia dos anos era relançada, num trabalho feito pelo baterista Charles Gavin em parceria com a gravadora Universal.

BLACK RIO
Na citada entrevista ao JC, Gerson King Combo reiterou a importância do Black Rio: “Ele vive até hoje, influenciou esta garotada toda. Agora, claro que não tem nada a ver com este funk que se faz aí, esta música de baixaria que chamam funk. O Black Rio pregava paz, por isto mesmo na ditadura, a gente não tinha muito problema com a censura, porque nunca incentivamos o racismo. Todo mundo é irmão, seja, branco, preto, amarelo, vermelho. Agora com o pessoal do rap eu me dou bem, com o pessoal que faz esta música dançante, o charm, também”. Coincidentemente, Gerson King Combo morre quando se completam 50 anos do disco de estreia, com participação de Os Diagonais (grupo de Cassiano), o LP Brazilian Soul – Gerson Combo e a Turma do Soul (Polydor).

 

 

 

 

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