O maestro Guedes Peixoto, um dos mais importantes da história da música pernambucana, em particular, e da brasileira em geral, faleceu neste domingo (15) em consequência de problemas com diabete, aos 89 anos. Desde que perdeu a visão vítima do glaucoma, o maestro afastou-se de suas atividades, sendo uma de suas últimas aparições publicas a participação no documentário Sete Corações, idealizado pelo maestro Spok, e dirigido por Déa Ferraz, e lançado em 2014.
Nascido em Goiana, Mata Norte pernambucana, Mário Guedes Peixoto seguiu o roteiro clássico dos músicos populares em Pernambuco. Começou a tocar trombone aos nove anos, aos 12 anos já formava nas fileiras da centenária banda Saboeira, de sua cidade. Mudou para o Recife para fazer o curso de Direito e estudar música. Sua carreira de músico profissional pode ter como marco primeiro, a contratação pela Rádio Tamandaré, numa época em que as três grandes emissoras do Recife mantinham brilhantes orquestras. Foi quando passou a animar bailes carnavalescos a compor frevos.
Com a impossibilidade de a Rádio Tamandaré manter a orquestra, o maestro Guedes Peixoto foi para o Rio, mas se estabeleceu em São Paulo, dirigindo a orquestra da TV Tupi. Um convite do presidente do sistema Jornal do Commercio, F. Pessoa de Queiroz, o trouxe de volta ao Recife, para dirigir a orquestra da sua emissora de rádio. Guedes Peixoto montou uma orquestra para carnaval e bailes, num tempo de grandes disputas entre elas, para fazer o melhor carnaval de clube, no auge do carnaval em ambientes fechados. Guedes animou também o célebre Baile da Saudade, produzido pelo jornalista Leonardo Dantas Silva. Fervoroso defensor da classe musical, sobretudo do músico pernambucano, ele era contrário às orquestras que vinham de fora animar o carnaval do Recife, no que chamava de interferência prejudicial: “Mudam inclusive o nosso ritmo, aquele tempero genuinamente pernambucano que tem o frevo”. Na sua gestão como presidente da Ordem dos Músicos no estado, teve uma atuação polêmica, pela exigência estrita para que músicos só atuassem se tivessem carteira da ordem. O que se acirrou em meados dos anos 90, na época do movimento mangue, quando houve uma explosão de grupos musicais na cidade.
Em 2020, completam-se 60 anos da primeira gravação de uma música de Guedes Peixoto com o selo Mocambo da Rozenblit, o frevo de rua Barbosa Filho no Frevo. Mas ele gravou a maioria dos seus frevos por gravadoras do Sudeste, Saudades de Goiana (RGE), Reforma Agrária (Continental), O Cara Suja, Carnaval no Português, Jane, Suzy, Carnaval no Cabo Branco, ou Trumbicando (todas estas na RCA). Infelizmente, como acontece com a grande maioria dos discos de frevo lançados até os anos 80, a música de Guedes Peixoto está fora de catálogo. Num dos seus últimos LPs, carnaval do Nordeste (patrocinado pela Sudene), ele faz, com sua orquestra, um retrospectiva das composições mais representativas do carnaval pernambucano. Sua passagem no comando da Orquestra Sinfônica do Recife foi marcante. Ele não se limitava aos concertos, enveredou também pela música lírica, em parceria com o Teatro de Ópera de Pernambuco. Coincidentemente, o último concerto de 2019, no Santa Isabel, da Orquestra Sinfônica do Recife, regida pelo maestro Marlos Nobre foi dedicado ao maestro Guedes Peixoto.
Guedes foi também mentor de gerações de músicos, como o próprio Maestro Spok, e até Edson Rodrigues, um dos sete mestres do frevo focalizados no citado documentário: “Toquei com a orquestra de Guedes quando ele ainda fazia baile. Porém não tocava carnaval com ele. Era um maestro muito exigente, não gostava de musico ruim. Eu ficava muito vaidoso, porque ele tinha uma deferência muito especial por mim. A Ordem dos Músico deve a ele ter comprado o conjunto de salas no edifício Inalmar, no Centro da cidade”, comenta Edson.
O corpo do maestro Guedes Peixoto está sendo velado na capela central do cemitério de Santa Amaro, a partir das 14 horas. O sepultamento acontece às 16h.