Jão é considerado um dos grandes artistas da música pop hoje. Saiu do Festival Lollapalooza, no último fim de semana, aclamado pela crítica e pelo público, que compareceu ao seu show no evento e comentou nas redes num volume que deu a ele o lugar de 3ª apresentação que mais repercutiu - atrás somente de Miley Cyrus e Pabllo Vittar.
É uma colheita de uma carreira que iniciou entre 2016 e 2017 com covers de músicas que fazia, gravava e postava. Desde entao, lançou três álbuns de estúdio: "Lobos" (2018); "Anti-herói" (2019) e "Pirata" (2021). Está em turnê com esse último, se apresentando com bilheterias esgotadas e sessões extras, como foi no Recife.
Entre a passagem de som no Teatro Guararapes, antes de reencontrar o público recifense que não via desde 2019, e uma live com Nando Reis, com quem lançou recentemente o single "Sim", ele nos deu uma curta entrevista. Acompanhe:
Jão, você vem de uma experiência no Lollapalooza que, em termo de público e aclamação, foi a maior em sua carreira até aqui. Que artista você sai dessa experiência, ou ainda está processando isso?
Eu demorei uns três dias pra conseguir andar direito. Foi uma carga de coisas muito grandes, porque eu sempre me preparo - ainda mais em festival - pra fazer o show independente das circunstâncias: se chover, se não cantarem nada, se não tiver ninguém... Eu preciso entregar, sabe? E quando eu cheguei lá e - eu não sei quantas mil pessoas tinham ali - vi aquele mar de gente, várias etapas foram passando pela minha cabeça durante o show. De lembrar de tudo, desde o comecinho, e se sentir muito grato. Foi muito divertido estar ali, e cada passo que a gente dá e tem esse retorno não traz só confiança, mas nosso espírito fica mais forte, sentindo que pode encarar tudo. Eu fiquei orgulhoso de mim. Eu sempre saio me criticando muito, sempre fico noiado: 'meu deus, tá tudo errado, eu faço tudo errado, vamos mudar tudo'. Mas nesse eu saí comemorando.
Já existia um termômetro, com as sessões esgotadas e extras da turnê "Pirata". Isso tem a ver com sucesso. Você considera que está fazendo sucesso?
Eu acho que o nosso trabalho está sendo muito bem-sucedido pelo que a gente se propõe a fazer. Eu sempre me botei no front de dizer 'eu sou um artista de show, esse é meu produto final'. É óbvio que tudo começa na letra, no estúdio, e é uma parte que eu também amo, mas a minha vida é isso daqui [aponta para o palco], é o que me preenche, e eu sempre deixei isso muito claro, desde o começo da minha carreira. Então, acho que o público entende qual é o meu propósito e ele comparece. A gente sempre quer, no próximo álbum, deixar mais grandioso, mais legal. Eu quero que a próxima turnê seja infinitamente maior do que a turnê 'Pirata' [que transporta um barco cenográfico para o palco e segue com agenda marcada até setembro].
Sobre ser um artista de show, uma leitura sobre sua performance no Lollapalooza foi a de que você já é um dos maiores artistas pop do Brasil de agora, por pensar, além da música, no palco, no cenário, no figurino etc. Quais são as suas referências?
Gosto de me inspirar em quem gosta de fazer show. Desde pequeno, é algo que me chama atenção: ver as pessoas no palco se entregando. Quando vou a um show e vejo que o artista está broxado ali, preocupado com qualquer coisa a não ser estar ali, já fico 'ai, acaba logo'. Eu tento entrar ali [aponta para o palco novamente] e fazer o que eu estou aqui pra fazer. Assisto muito anime e filme, vejo muitos cantores de palco. Acho Freddie Mercury incrível, Cazuza também. Gosto de ver entrevistas dessas pessoas, entender como elas pensavam no palco, assim como um jogador de futebol gosta de analisar os chutes do pênalti.
Suas músicas são muito confessionais, você se revela muito nelas - o que é uma marca do tempo de agora, entre artistas, na música. Como é pra você se expor assim?
Sabe o que é estranho? No meu círculo de amigos eu sou muito mais a pessoa que ouve, que aconselha, que diz 'vem cá, vem conversar', e nunca a pessoa que chama. Seria normal assimilar que eu teria um pouco de problema em ter esse trabalho confessional, mas pra mim é completamente natural, e nunca passou pela minha cabeça algo tipo 'ai, será que o que estou fazendo é confessional?', ou 'será que é melhor fazer uma parada mais indireta?'. Não, é só a maneira como eu sei escrever, que eu aprendi a escrever pra fazer meu som. Nunca passou pela minha cabeça, se era difícil ou não, é só uma coisa que eu sei fazer.
Você esteve no Recife antes em 2019. Tem algo na cidade ou nos recifenses que te marque?
Eu gosto das pessoas daqui, são muito incríveis, e a gente toda vez fala sobre isso. Quando a gente encontra alguém do Recife fala 'tá vendo porque ela é legal? Por que é do Recife'. E não é um doce de gente de ficar [faz gesto como quem quer dizer algo como melosa], é um jeito muito gostoso de conversar, de estar, de abraçar. Acho as pessoas daqui muito de verdade, e eu não tô fazendo graça, tô falando real.