Cotado em R$ 4,72 nesta segunda-feira (9) após um dia caótico na Bovespa, o dólar está mais presente do dia a dia do consumidor do que se imagina. No entanto, segundo economistas, o brasileiro ainda não será afetado pela alta da moeda norte-americana. Fatores como boas safras de grãos e disputa de preços entre Arábia Saudita e Rússia no valor do barril de petróleo aliviam os impactos das altas do dólar no bolso do consumidor.
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Apesar disso, o preço dos eletroeletrônicos, como TVs e smartphones, tem sido afetado, dizem os economistas. Segundo eles, mesmo aqueles itens que são montados no Brasil têm componentes que precisam vir de fora. Grande exportadora de produtos eletrônicos, a China está com sua capacidade de produção reduzida por causa do coronavírus, o que também gera problemas ao setor.
Além dos eletrônicos, outros produtos podem ser afetados pelo dólar no Brasil. Mesmo sendo grande produtor de grãos, o País ainda precisa importar trigo, insumo para pães, massas e outros produtos. Com a negociação feita em dólar, logo o pão francês fica mais caro nas padarias. Outros grãos muito usados na ração de animais, como o milho e a soja, também são importados e, se comprado mais caros, logo impactam no preço das proteínas e seus derivados.
No entanto, segundo o coordenador do Índice de Preço ao Consumidor (IPC) da Fundação Getúlio Vargas, André Braz, as duas últimas safras de grãos no Brasil foram muito boas, reduzindo o volume de importação. Outro fator que geralmente é impactado pela alta do dólar é o preço do combustível. "Neste caso também não deveremos ser tão afetados. A Arábia Saudita anunciou que aumentará a produção e reduzirá o preço do barril de petróleo, logo, não sentiremos o combustível aumentar", analisa André Braz.
Para o professor de finanças e economia da UFRPE, Luiz Maia, um dia de alta não deve encarecer o custo de vida brasileiro. Segundo ele, o problema não está em um dia de dólar flertando com os R$ 5, mas quando ele muda de patamar e se torna um valor "mais fixo" do que a cotação de dias.
Luiz Maia alerta ainda que não é possível prever em quanto o dólar estará fixado nos próximos meses, mas que a movimentação do mercado internacional tende a puxar o preço da moeda para perto dos R$ 4. "Não há motivo para pânico. Os preços não vão mudar de uma hora para outra. As indústrias têm estoque das commodities que são compradas bem antes com preço fixo", explica Maia.
Os dois economistas concordam que ainda não há indícios que de que o custo de vida vai aumentar, alegam ainda que esse tipo de alta pode ser boa para o País. Luiz Maia diz que não há problema na disparada do dólar se a taxa Selic permanecer baixa – hoje em 4,25%. "Em outros tempos, para combater a inflação era preciso juros altos. Isso atrai capital especulativo que vem ganhar rendimento sobre esses juros. Agora com a Selic baixa esse capital está deixando o mercado brasileiro", analisa.
Já André Braz enxerga no potencial do dólar mais caro. "As pessoas deixam de comprar os importados e reforçam o mercado interno. As empresas podem pegar empréstimos a juros baixos para investir em seus negócios, gerando emprego e renda. Na macroeconomia brasileira, há vários fatores que fazem o dólar alto não ser o pior dos cenários", ressalta.
A pesquisa semanal Focus, realizada pelo Banco Central projetam que o dólar possa voltar para a casa dos R$ 2,20 até o fim deste ano. A Selic, por sua vez, pode chegar aos 3,5%.
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