Suspensão das feiras do polo de confecções no Agreste impacta toda cadeia produtiva

O setor têxtil e confeccionista gera cerca de 51,3 mil empregos no Agreste de Pernambuco
Marília Banholzer
Publicado em 18/03/2020 às 19:33
MOVIMENTAÇÃO Atividades na Feira da Sulanca, em Caruaru, Agreste do Estado, estão suspensas desde o dia 18 de março devido à pandemia Foto: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM


As tradicionais feiras realizadas na principais cidades do polo de confecções do Agreste de Pernambuco estão suspensas por tempo indeterminado. A decisão é válida para a Feira da Sulanca de Caruaru, o Moda Center Santa Cruz, o Calçadão Miguel Arraes e a Feira do Jeans de Toritama.

A medida anunciada ontem está de acordo com as orientações de decreto do Governo de Pernambuco para o enfrentamento ao coronavírus no Estado. A paralisação, no entanto, preocupa quem depende do setor, já que não se sabe por quanto tempo a medida será necessária.

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Os empresários do setor alertam que a paralisação dos negócios feitos na feira tem um efeito cascata em toda cadeia. Fábricas deixam de produzir, atacadistas param de vender e até os trabalhadores informais ficam sem ter onde trabalhar.

O vice-presidente da Associação Comercial e Empresarial de Caruaru (Acic), Pedro Miranda, reconhece que suspensão das feiras trará um impacto financeiro muito forte para o Agreste do Estado. Ele conta que os empresários até tentaram evitar a medida, mas após orientações de autoridades sanitárias a necessidade de evitar as aglomerações foi compreendida.

No entanto, Pedro Miranda ressalta sua preocupação com a manutenção dos empregos e dos micro e pequenos negócios da região. “Para os pequenos empreendedores o fluxo de caixa é semanal e depende da feira. Se não tem feira, não tem dinheiro para sua subsistência”, pontua. Ele ainda completa: “As grandes empresas têm procurado a Acic para saber como proceder com os empregados que não vão trabalhar porque não têm para quem produzir. O ciclo está quebrado e a cadeia toda fica prejudicada”, lamenta Pedro Miranda.

FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM - Santa Cruz do Capibaribe cidade que foca sua economia na Indústria Textil. Apesar de movimentarem milhões de reais no ramo, o governo do estado não dão o devido apoio a essa cidade. Palavras chave: Santa Cruz do Capibaribe - Moda - Shopping - Sulanca - Feira - Roupas - Venda - Moda Center - Jeans ##

De acordo com dados da Secretaria de Desenvolvimento Econômico do Estado, o setor têxtil e confeccionista gera cerca de 51,3 mil empregos. Ao todo, são fabricadas 43 mil toneladas de têxteis por ano, ou 225 milhões de peças de confecções. O valor da produção anual gira em torno de R$ 5,6 milhões. Outro dado preocupante é que 98% das empresas no polo de confecções do Estado são de micro ou pequeno porte.

A suspensão das feiras acontece às vésperas da alta temporada para o setor. Entre os meses de maio/junho e novembro/dezembro, o movimento chega a ser 60% maior do que nos outros meses quando, por semana, cerca de 150 mil pessoas circulam nas três principais feiras da região.

Para o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Santa Cruz do Capibaribe, Bruno Bezerra, a medida de suspender as feiras foi uma decisão que visa o bem público, mas deve repercutir para além das divisas pernambucanas. “Somente no Moda Center é escoada a produção de mais de 54 municípios, inclusive de outros Estados do Nordeste. Não fosse uma crise como essa, ninguém em boa consciência cancelaria as feiras”, defende Bezerra.

DIVULGAÇÃO - Imagem aérea do Moda Center Santa Cruz, em Santa Cruz do Capibaribe, no Agreste de Pernambuco

Por causa de tamanho prejuízo, os empresários do setor esperam a publicação do decreto do Governo Estadual para solicitar um encontro e debater flexibilização de medidas fiscais, como a prorrogação do pagamento de tributos.

Antes da suspensão das feiras do polo de confecções em Pernambuco, a Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) realizou uma pesquisa com 110 empresas da sua base do setor têxtil e de confecção, nos dias 16 e 17 de março. O estudo mostrou que 51% dos pesquisados ainda não sentiram impacto direto em seu processo produtivo em relação ao novo coronavírus. Apesar disso, dentro deste percentual, 91% dos entrevistados têm expectativa de que haverá algum efeito nos próximos meses.

Entre os 49% que já sentem a influência do vírus em sua produção, 63% já tiveram seus pedidos cancelados ou adiados, e 56% contaram com alteração nos custos dos insumos. Ainda no contexto do combate ao coronavírus, A maior parte das empresas (93%) já têm tomado medidas de prevenção, como: adoção de home office por parte da equipe, distribuição de álcool em gel, luvas e máscaras, horário flexível, informativos, cancelamento de viagens ao exterior, entre outras.

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