Sob coronavírus, volume de serviços de Pernambuco tem tombo histórico e recua 20,6% em abril

Com o resultado, o desempenho pernambucano volta a ficar abaixo da média nacional, visto que o índice do Brasil registrou recuo de 11,7%
Marcelo Aprígio
Publicado em 17/06/2020 às 12:02
Entre as cinco atividades pesquisadas, a que apresentou a maior queda foi a de serviços prestados às famílias, com redução de 74,9%. O segmento inclui salões de beleza Foto: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM


O setor de serviços, responsável por 75,3% do Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco, despencou 20,6% em abril na comparação com março, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada nesta quarta-feira (17) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O tombo no volume de serviços é o maior já registrado desde o início da série histórica, em janeiro de 2011. No mês de março, o Estado já havia apresentado queda, com -8,7%, considerando o mês anterior. Agora, mais uma vez, o desempenho pernambucano ficou abaixo da média nacional, visto que o índice do Brasil registrou recuo de 11,7%.

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Pernambuco foi a unidade da federação com a quarta maior retração na PMS, atrás apenas de Alagoas (-26,5%), Ceará (-21,8%) e Bahia (-21%). O resultado confirma a previsão de especialistas, que apontavam uma queda ainda mais acentuada em abril, dadas as medidas restritivas adotadas pelo governo estadual no período para tentar conter o novo coronavírus.

“Já esperávamos um resultado pior que o de março, considerando que abril foi o primeiro mês que ficamos 30 dias inteiros em isolamento social”, diz a gerente de planejamento e gestão do IBGE, Fernanda Estelita.

Quando levado em consideração o mês de abril de 2019, a retração do setor em Pernambuco é de 27,2%, também maior que a média do Brasil, que ficou -17,2%. No acumulado do ano, de janeiro a abril, o Estado registrou mais um recuo. O índice foi de -6,8%, superando o nacional, de -4,5%. Nos últimos 12 meses, Pernambuco acumula retração de 1,9%. No País, cujo PIB sofre forte influência do setor, que tem participação acima de 60%, a redução foi de 0,6%.

A queda de 27,2% no volume de serviços, de abril de 2019 para abril de 2020, foi acompanhada pelas cinco atividades pesquisadas. Entre elas, a que apresentou a maior queda foi a de serviços prestados às famílias, com redução de 74,9%. O segmento inclui 23 tipos de serviços, como hotéis, bares, restaurantes, salões de beleza, espetáculos de artes cênicas e atividades esportivas em geral.

Além do destaque para o recuo em serviços prestados às famílias, os de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio tiveram perdas e caíram 31%. Já os serviços administrativos e complementares, por sua vez, tiveram retração de -15,7%, seguido de outros serviços (-11,7%). Os serviços de informação e comunicação também registraram resultado negativo (-8,5%).

Setor não chegou ao fim do poço e pode cair mais

Diferente do que projetam economistas para o cenário nacional, em Pernambuco, o setor de serviços ainda não chegou ao fim de poço e pode ter uma redução ainda maior no mês de maio. “É muito possível que os números de maio tenham uma queda ainda mais elevada, já que tivemos um isolamento social mais rígido, com o lockdown”, afirma Fernanda Estelita.

A avaliação é compartilhada pelo economista da Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Pernambuco (Fecomércio-PE), Rafael Ramos. “A conjuntura de maio foi pior que a de abril, o que deve nos trazer mais uma queda igualmente pior”, diz o especialista, afirmando que o setor só deverá esboçar reações em junho, mas sem perspectiva de recuperar as perdas ainda neste ano. "O setor de serviço deve terminar 2020 em baixa, porque depende das famílias e dos setores produtivos bem", avalia ele.

O economista lembra ainda que o cenário tem sido adverso ao segmento, com aumento do desemprego e endividamento, redução no consumo, faturamento e na produção. "Em tempos de crise, geralmente, o setor de serviços é o último a cair, mas é também o último a se reerguer, o que deve acontecer de maneira lenta ao fim da pandemia", declara Rafael Ramos.

Diante desse cenário, a Confederação Nacional do Comércio de Bens Serviços e Turismo (CNC) já projeta uma retração de 5,6% no volume de receitas do setor de serviços, em 2020. Confirmada a previsão, o setor terciário pode registrar o pior desempenho anual da década.

Turismo acompanha queda histórica, com -60,9%

As atividades turísticas também tiveram retração em relação a março. A suspensão das operações de hotéis e restaurantes, associada à redução drástica do número de voos e do transporte rodoviário interestadual, por causa da pandemia, fizeram o índice de atividades turísticas ter o seu pior desempenho histórico em Pernambuco, com recuo de 60,9%, segundo o IBGE. No Brasil, a queda do setor no mês de abril deste ano foi um pouco menor, -54,5%.

Quando confrontado com o mês de abril de 2019, o turismo de Pernambuco repete o cenário, amargando uma queda mais acentuada que a do Brasil: -73,3%, contra -67,3% no País.

No acumulado do ano, as atividades turísticas no Brasil caíram 20,9% frente a igual período de 2019, pressionado, mais uma vez, pelos ramos de restaurantes, hotéis, transporte rodoviário coletivo de passageiros e catering, bufê e outros serviços de comida preparada. Segundo a PMS, as atividades turísticas em Pernambuco caíram 22,7% entre janeiro e abril deste ano.

No Estado, a queda acumulada em 12 meses é de 7,3% e não deve ter recuperação tão cedo. Isso considerando a perspectiva de que o turismo tende ser o último setor a conseguir sair da crise.

Com tantos índices desfavoráveis ao turismo, a CNC calcula que, em três meses, o setor perdeu quase R$ 90 bilhões. Em março, quando foi decretada a pandemia de covid-19, as atividades turísticas acumulam perda de R$ 13,38 bilhões em relação à média mensal de faturamento nos meses anteriores. A paralisia quase completa do turismo nas semanas seguintes agravou esse cenário e fez com que o setor perdesse R$ 36,94 bilhões em abril e R$ 37,47 bilhões em maio, totalizando prejuízos na ordem de R$ 87,79 bilhões. Em Pernambuco, o prejuízo é de R$ 2,52 bilhões, oitavo maior do País e segundo do Nordeste, depois da Bahia (R$ 4,07 bilhões).

No Estado, a atividade turística representa 3,9% do Produto Interno Bruto, tendo faturado R$ 9,5 bilhões no ano passado, enquanto no Brasil essa participação é de 8,1%, com movimentação de 238,6 bilhões.

As expectativas para o setor também não são boas. Para o economista da Fecomércio-PE, Rafael Ramos, a retomada para serviços turísticos será ainda mais lenta que em outros segmentos, pois sofre com as consequências de medidas como antecipação de feriados durante a pandemia. "As pessoas, geralmente, usam esses serviços em férias e feriados, com a antecipação de muitos deles, o turismo deve ser ainda mais prejudicado", pontua Ramos, afirmando que a visão do Brasil no exterior no que se refere ao controle da doença também traz danos às atividades turísticas. “Com a imagem arranhada lá fora, as pessoas ficam mais reticentes em vir para cá”, diz ele.

O tombo do setor deixar milhares de trabalhadores mais próximos da demissão. Com várias perdas acumuladas e previsão de retomada tardia, a CNC estima que 727,8 mil empregos podem ser eliminados no setor até o fim de junho. A expectativa tem como base uma análise de dados do setor por parte da divisão econômica da entidade. De acordo com a CNC, historicamente, para cada retração mensal de 10% no volume de receitas, há uma destruição potencial de 97,3 mil postos de trabalho em até três meses.

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