A pandemia da covid-19 tem sido devastadora. Seus efeitos têm ceifado vidas, distanciado as pessoas e introduzido à rotina da humanidade mudanças de hábitos antes nem pensadas. O momento inspira uma série de cuidados, assim como também demanda inovação. Se das crises surgem as oportunidades, empresas de diversos segmentos sabem disso e já conseguem apresentar algumas soluções. As novas necessidades trazem consigo também novas oportunidades de negócios, o que gera demanda a mercados específicos e garante ganhos, às pessoas e companhias, num momento marcado por perdas.
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Ainda no fim de março, quando o País começava a vivenciar os efeitos da pandemia, a Nielsen contabilizava pelo menos 150 cadeias varejistas crescendo de forma exponencial a cada semana. A partir dos primeiros casos, a primazia das compras era por produtos de limpeza e de prevenção à doença. Álcool em gel (+623%), filtros de ar (+100%), álcool (+85%) e limpeza em geral (+58%) apresentaram crescimento exponencial, conforme as auditorias da Nielsen. Mais de quatro meses se passaram, e a pandemia não acabou. Em alguns locais, como em Pernambuco, começa-se a ter um gerenciamento da doença para flexibilização das medidas restritivas, o que permite às pessoas a retomada do consumo, ou melhor, um novo consumo que leva em consideração todos os aspectos que contribuem para a manutenção de controle do contágio.
É justamente esse novo consumo que desperta nas empresas a busca por soluções que atendam o que passou a ser necessidade. Ajudar a suprir o que a população precisa, foi justamente a ideia que norteou uma mudança nas linhas de produção da Anjo Tintas e Solvente. A empresa que fabrica por ano um milhão de toneladas de tintas, agora também é responsável pela produção de 100 mil litros ao mês de álcool 70%.
"Tivemos a ideia de produzir o álcool no intuito de doar. Fizemos isso em hospitais, instituições e diversos municípios. Como apareceu muita gente querendo comprar, adaptamos toda a nossa produção para dar uma modernizada. Estávamos fazendo de forma bem manual, mas readaptamos por conta da demanda, e além de doar demos início à comercialização, primeiro em gel, depois na forma líquida e, agora, em spray", conta o CEO da Anjo, Filipe Colombo.
Num primeiro momento, as vendas já somam R$ 700 mil e devem representar pelo menos 2% da receita da empresa, que fatura em torno de R$ 60 milhões ao mês. Com produção no Sul e escoamento para todo o País, inclusive Pernambuco.
"No ano, estamos com crescimento de 7%, mesmo com a pandemia. O álcool em gel representa ainda pouco do nosso volume, mas gera uma venda que para nós não existia. Estamos contratando 40 novas pessoas para que possamos atender toda essa demanda. É um mercado que a Anjo não atuava antes, mas o que a gente sabe é se tratar de um mercado com tendência a crescer", avalia. Com mais de 6 mil clientes ativos no País, a empresa tem no Estado 3,5% do seu faturamento.
Ar mais puro
Da mesma forma que a covid-19 ampliou mercado para produtos já existentes, também foram criados novos produtos para atender específicas demandas. A necessidade de clientes pernambucanos fez com que a Trox, multinacional que atua na fabricação e venda de componentes, equipamentos e sistemas de ar condicionado e ventilação interior, desenvolvesse um filtro capaz de reter 99,97% da partículas até 3 microns de tamanho (gotículas líquidas, por exemplo, correspondem a uma partícula com tamanho variando de 0,5 a 5 microns).
"Havia uma demanda dos clientes por salas de isolamento, onde pode isolar uma pessoa sem contaminá-la ou transmitir a doença pelo ar. A Trox tem alguns equipamentos, eles atendiam mas não da forma como precisávamos. Em interlocução com o pessoal de projetos da empresa, desenvolveram um produto que passou a nos atender, nesse tipo de grau de filtragem", diz o engenheiro Leonardo Medeiros, da Meta Medeiros, responsável pela execução dos projetos.
O filtro de ar passou a fazer parte do portfólio comercial da Trox, reconhecido pela "filtragem absoluta". "Os hospitais já demandam essas salas, mas na covid isso acelerou. A demanda foi muito maior do que o que foi feito. Os hospitais de campanha, por exemplo, não têm essa tecnologia, porque demoramos pelo menos uns 45 dias no desenvolvimento, não dava tempo. O equipamento filtra quase tudo. o vírus não se locomove sozinho, precisa de gotículas ou grãos de poeira. O filtro retém isso e impede que vá para o ambiente. A gente filtra do paciente e do ambiente exterior. Até a descarga desse ar passa pela filtragem para não jogar a doença na atmosfera", reforça Medeiros.
Representante comercial da Trox em Pernambuco, Izzabela Martins tem visto crescer a procura pelos filtros de ar. "Houve demanda por essa parte dos filtros. As pessoas não costumam trocar. Foi agora uma procura geral para proteger as pessoas e se proteger. Os filtros mais comuns têm percentual de filtragem mais baixo. Esses filtros de filtragem absoluta são usados na parte hospitalar, mas hoje as pessoas estão querendo adotar a filtragem absoluta para algumas outras soluções". Os orçamentos variam de acordo com o projeto, partindo em média dos R$ 3 mil. O crescimento da comercialização do equipamento voltado à insuflação ou exaustão de ar (IAE) foi de 700% até agora. Em 2019 foram comercializado 19. Este ano, até junho, já contabilizam-se 152.
A Endogastro mudou toda a estrutura de ar condicionados das salas de procedimentos. Foram utilizados sistemas que comportam os chamados filtros HEPA, com pressão negativa e renovação constante do ar, o que representou um custo 10 vezes maior do que o que seria gasto com os aparelhos de ar condicionado comuns, mas necessário em virtude da pandemia. “Acreditamos que os investimentos em biossegurança vão se tornar cada vez mais necessários para proteger as pessoas em novos ciclos pandêmicos futuros. O mundo terá que estar preparado para isso. Claro que é um investimento ousado, mas saímos na frente e que bom que estávamos nesse momento de inovação e transformação total da estrutura”, diz Juliana Vieira, que está com a irmã Fernanda à frente do centro de terapias e diagnóstico.
Roupas antivírus
Outra solução que deve chegar ao mercado nos próximos 15 dias diz respeito ao vestuário. A Santista, que tem capacidade para produzir 70 milhões de metros de tecido ao ano, se prepara para entregar aos consumidores sua linha de tecidos com proteção contra a covid-19. A olho nu, conforme a empresa, não há diferença no material, mas a tecnologia introduzida na produção vai trazer um grande complemento na proteção das pessoas também por meio da roupa. "Os tecidos não têm nenhuma alteração, o que muda é o acabamento aplicado. Esse acabamento é composto por nanomoléculas de prata, micropartículas que penetram o mais profundo possível na fibra de tecido e fazem com que ele tenha essa propriedade", afirma o gerente de Marketing da Santista, Inácio Silva.
Tecnologia 100% brasileira, o tecido foi testado pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (USP). Nas análises, segundo a Santista, o novo produto se mostrou eficiente para inativar vírus SARS-Co-2 em até três minutos, com 99,8% de eficiência.
"A proposta do produto é ser mais um complemento de combate à propagação do vírus. Os distribuidores já têm o material disponível, em todas as regiões do Brasil, tanto para trabalhar na linha de uniformes quanto na divisão de moda. Temos parcerias também com as principais magazines do País, e muito em breve a tecnologia já chega aos pontos de vendas, seja para compra física ou e-commerce", detalha Silva.
Com mais de 80 confecções homologadas pela Santista, algumas já deram à produção uniformes com o tecido, para atender hospitais e indústrias, mas a tecnologia também estará disponível para compra de peças unitárias, vendidas através dos distribuidores. A linha também ganhou uma versão combinada à função 'Repeller', que repele líquidos e fluídos corporais, como espirros, sangue, suor e outras secreções, que ajuda a manter o tecido limpo e seguro por mais tempo.
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