O sistema de pagamentos instantâneos Pix irá deixar a sua fase de testes com mais de R$ 200 milhões transacionados e um total de usuários que supera os 30 milhões entre pessoas físicas e jurídicas. Até então, o sistema estava rodando numa versão soft opening, com restrição de usuários, mas a partir desta segunda-feira (16), todos que desejarem e tiverem cadastrado suas chaves poderão fazer transações financeiras em até 10 segundos.
A expectativa era de que o Pix alcançasse a movimentação de R$ 50 milhões no primeiro dia de uso irrestrito. A cifra, no entanto, já foi superada ainda na fase de testes - o que demonstra a grande adesão de usuários e instituições financeiras ao novo sistema. De acordo com os dados do Banco Central, até o último dia 12 foram cadastradas 69.566.012 chaves, sendo 25.439.673 números de CPFs e 16.709.367 números de celular.
“Antes da própria pandemia, no ano passado, os clientes bancários fizeram 74% das 94 bilhões de transações bancárias através de canais digitais, o que demonstra que o brasileiro consome muito uma novidade digital, é muito aberto”, frisou o diretor-executivo de inovação, produtos e serviços bancários da Febraban, Leandro Vilain, numa transmissão ao vivo sobre o Pix.
Para a Febraban ao permitir transferências de dinheiro durante 24 horas por dia, sete dias por semana, em até 10 segundos, o Pix também dará uma nova lógica para as atividades comerciais e trará mais agilidade para quem compra e vende, além de transformar-se em uma poderosa ferramenta para impulsionar a bancarização no país, trazendo novos clientes para o sistema financeiro.
A opinião é compartilhada pelo CEO da e-thinkers e especialista em e-commerce, Thiago Santos. “Hoje os cartões excluem grande parte da população, enquanto os boletos possuem um nível de desistência muito alta, o Pix vem para mudar isso”, diz ele. De acordo com o estudo Era da Experiência – Relações com Covid-19, desenvolvido pela Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC), 58% dos consumidores já alteraram a forma de pagamento mais utilizada em lojas físicas durante a pandemia.
“Existe um forte movimento de redução do uso de dinheiro vivo, que vem sendo substituído pelo cartão de débito. O crescimento dos bancos digitais, o Pix e o Open Banking deverão reforçar a digitalização dos meios de pagamento e abrir novas oportunidades de relacionamento com os clientes”, pondera o presidente da SBVC, Eduardo Terra.
Sistema Instantâneo de Pagamentos (PIX)
O Pix foi criado para ser um meio de pagamento bastante amplo. Qualquer pagamento ou transferência que hoje é feito usando diferentes meios (TED, cartão, boleto etc.) poderá ser feito com o Pix, simplesmente com o uso do aparelho celular.
Como ter acesso:
As pessoas e empresas que possuem uma conta corrente, conta poupança ou uma conta de pagamento pré-paga em uma das 762 instituições passarão a ter acesso nesta segunda-feira (16)
Para realizar um pagamento via Pix, é possível:
Ler um QR Code com a câmera do seu smartphone, na opção de fazer um Pix no aplicativo da sua instituição financeira ou de pagamento
Informar uma chave Pix cadastrada na sua instituição financeira ou de pagamento, podendo ser CPF/CNPJ, e-mail ou telefone celular do recebedor, ou uma chave aleatória
Embora não seja o padrão esperado, optar de digitar manualmente os dados da conta transacional do usuário recebedor, como ocorre hoje para iniciar uma TED ou DOC
Números do PIX (até o dia 12/11):
Quantidade de chaves (acumulado): 69,5 milhões
Pessoa física cadastradas: 29,4 milhões
Pessoa jurídica cadastradas: 1,7 milhão
Número de transações: 826,6 mil
Volume transacionado: R$ 324,5 milhões
O sistema é gratuito para pessoa física pagadora e tem promessa de custo baixo para os demais casos, que ainda têm as taxas sendo definidas pelas instituições
Fonte: Banco Central
Na prática, o Pix tem o poder de transformar as relações de consumo porque, além das transferências entre pessoas físicas, o sistema agiliza operações de pagamentos entre pessoas e estabelecimentos comerciais, incluindo comércio eletrônico (transações P2B, person to business); entre estabelecimentos, como nos casos de pagamentos de fornecedores (transações B2B); transferências envolvendo entes governamentais, permitindo os pagamentos de taxas e impostos (transações P2G e B2G) e para pagamentos de salários e benefícios sociais (transações G2P) e de convênios e serviços (transações G2B).
“O Pix é um dos projetos importantes que o Brasil precisa para melhorar seu ambiente de fazer negócios. Ele é uma ferramenta tecnológica que contribuirá para melhorar o sistema de pagamento do País pela sua simplicidade, segurança, agilidade e baixo custo. Também será um poderoso instrumento para ações governamentais que visam redução de custo com a emissão e transporte de cédulas e moedas. Além de permitir a inclusão de pessoas que estão fora do sistema bancário”, explica o professor de economia Centro Universitário UniFBV Bruno Menelau.
Tanta facilidade, no entanto, exige do usuário também cuidados. De acordo com o Banco Central, o Pix é um sistema seguro, com mecanismo como identidade do pagador digitalmente autenticada por senha, token, reconhecimento biométrico ou outro método de segurança adotado pela instituição de relacionamento, dados das transações criptografados na rede do Sistema Financeiro Nacional e "motores antifraude" operados pelas instituições que ofertam o serviço, permitindo identificar transações atípicas, fora de perfil do usuário, bloqueando para análise as transações suspeitas. Quem cadastra o número de celular como chave Pix por exemplo, se tiver o aparelho clonado ou roubado, não terá um pix feito por terceiro, já que para isso é preciso acessar a conta por meio do aplicativo da instituição de relacionamento ou internet banking, tendo posse dos dados de segurança exigidos.
“O que mais me assusta é que essa é uma nova ferramenta para facilitar os gastos desenfreados. O Pix é bastante simples de utilizar e pode incentivar ainda mais o consumo compulsivo da população. As pessoas terão que ter muito mais cuidado na hora das compras, bem como redobrar os cuidados de segurança no uso de aparelhos de smartphones, com travas e maiores proteções também em relação às senhas”, reforça o PhD em educação financeira e presidente da Associação Brasileira de Educadores Financeiros (Abefin) e Dsop, Reinaldo Domingos.