Com a conta de luz mais cara após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adotar a chamada bandeira vermelha em dezembro, as casas de análise passaram a projetar o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acima da meta este ano. O Banco Central tem como alvo uma inflação de 4%, com margem de 1,5 ponto para mais ou para menos. O Itaú, por exemplo, revisou a projeção da inflação de 2020 de 3,75% para 4,3%.
>>> Veja dicas para economizar energia e minimizar impactos da bandeira vermelha na conta de luz
>>> Celpe devolve até R$ 10 para quem pagar conta de energia através de plataforma digital; entenda
O sistema de bandeiras tarifárias havia sido suspenso a partir de junho, por conta da redução do consumo de energia derivado da pandemia. Contudo, o cenário hidrológico desfavorável, que levou à manutenção dos reservatórios em níveis baixos e ao acionamento de termelétricas, e a recuperação do consumo de energia justificaram o retorno.
Dessa forma, foi acionada a bandeira vermelha 2 para dezembro, patamar de custo mais elevado. Na terça-feira (1ª) , um dia depois de a Aneel anunciar a bandeira vermelha, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) informou que o nível dos reservatórios das principais hidrelétricas do País está entre os mais baixos da série histórica. De acordo com o ONS, os reservatórios do Sudeste e Centro-Oeste estão com 17,7% da capacidade, inferior aos 18,9% registrados em 2019. “Nos últimos anos, o País passou por uma escassez hídrica que não permitiu a total recuperação dos níveis dos reservatórios”, disse o ONS.
O aumento no custo da energia tem impacto sobre as despesas das empresas e das famílias. “A decisão surpreendeu o mercado, pois no dia 26 de maio, a Aneel acionou a bandeira verde alegando que não haveria cobrança extra na conta de luz até o fim do ano, em meio à pandemia do novo coronavírus”, disse a economista da XP Investimentos Lisandra Barbero. “Dessa forma, revisamos as nossas projeções de IPCA de 3,9% para 4,3% ao final de 2020 e de 3,8% para 3,5% ao final de 2021.”
O Itaú BBA manteve para o ano que vem a sua previsão de 3,1%. A economista da entidade Julia Passabom argumenta que, para 2021, haverá um impacto deflacionário da bandeira tarifária. “Esperamos bandeira amarela em dez/21”. Essa redução, argumenta, será compensada por “revisões altistas recentes na expectativa de outros preços administrados, principalmente o reajuste de plano de saúde anunciado há algumas semanas pela ANS”.
A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) divulgou em novembro que “os beneficiários de planos de saúde que tiveram suspensas as cobranças de reajuste anual e por faixa etária entre setembro e dezembro desse ano, em razão da pandemia do novo coronavírus, terão diluído o pagamento desses valores em 12 meses”.
O percentual máximo de reajuste dos planos individuais ou familiares ficou estabelecido em 8,14% e será válido para o período de maio de 2020 a abril de 2021. “Esperamos que o ambiente de expectativas de inflação ancoradas e elevada capacidade ociosa da economia exerçam pressões baixistas em 2021”, argumentou a economista do Itaú BBA. Segundo ela, os principais riscos para a projeção da instituição estão relacionados ao descontrole fiscal por parte do governo, com efeito sobre a inflação e sobre o dólar, que tem
um potencial grande de repasse para os preços na economia.
Ao justificar o aumento na conta de luz, o presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou via redes sociais na terça (1º), que o País corre o risco de ter apagões. Em resposta a um comentário em sua página oficial no Facebook, o chefe do Executivo ressaltou que “as represas estão em níveis baixíssimos” e que o período de chuvas ainda não veio. A fala foi direcionada ao comentário de um usuário que disse: “A conta de luz vai aumentar. Obrigado PR.”
“As represas estão níveis baixíssimos. Se nada fizermos poderemos ter apagões. O período de chuvas, que deveriam começar em outubro, ainda não veio. Iniciamos também campanha contra o desperdício”, escreveu Bolsonaro.
De acordo com a Aneel, não é possível manter a bandeira verde nas atuais condições. Agora, as tarifas terão bandeira vermelha em seu segundo patamar, com uma taxa extra de R$ 6,243 a cada 100 kWh. A justificativa relacionada à seca também foi apresentada pelo diretor da Aneel, Efrain Pereira da Cruz. Ele destacou “afluências críticas” nos principais reservatórios do País, no Sudeste e Centro-Oeste, além
do Sul, e deterioração nos meses de outubro e novembro.