Municípios que receberam eólicas cresceram mais, diz estudo

Cidades que receberam usinas eólicas apresentaram ,em média, 21,15% de crescimento real do PIB entre 1999 e 2017, comparando com outras do mesmo Estado e do mesmo porte, revela estudo
JC
Publicado em 04/12/2020 às 19:16
Estudo mostra que o PIB cresceu mais nos municípios que receberam usinas eólicas Foto: ARNALDO CARVALHO / ACERVO JC IMAGEM


Os municípios que receberam usinas eólicas apresentaram ,em média, 21,15% de crescimento real do Produto Interno Bruto (PIB) entre 1999 e 2017, comparando com outras cidades do mesmo Estado e do mesmo porte nos quais não foram instalados empreendimentos desse tipo, como mostra o estudo “Impactos Socioeconômicos e Ambientais da Geração de Energia Eólica no Brasil”, realizado pela consultoria GO Associados. Pernambuco foi o destino de 11,36% de todos os parques eólicos instalados no entre 2001 e 2010. E ainda no Estado cerca de 90% dessas geradoras se instalaram numa parte do semiárido ainda muito pobre.


"A vida mudou muito. O dinheiro do arrendamento é uma ajuda boa. A maioria das pessoas daqui, que estão arrendando o terreno, não tinham uma renda fixa. A terra aqui não dá pra plantar, porque só dá palma. Todas as cidades próximas que receberam eólicas mudaram muito financeiramente", conta a agricultora Eliane Maria de Oliveira Azevedo, que divide com seus 14 irmãos e a mãe um arrendamento de um sítio da sua família em Venturosa, a 246 km do Recife. Localizado no Agreste, o município é vizinho de outras cidades que também receberam parques eólicos como Caetés, Capoeiras e Paranatama.

Pela percepção de Eliane, além de "uma maior movimentação financeira" nas cidades, também houve uma grande mudança na escola pública do município na Vila do Grotão, em Venturosa. "A escola agora é outra. Não tinha nem uma cisterna. Quem fez a reforma foi o paque eólico. Melhorou muito. Eu sei porque tenho primos que estudam lá", conta.

A vida de Eliane também passou por mudanças. Embora se considere agricultora, ela agora faz bolo e pamonha pra vender. E, ultimamente, a parte dela do arrendamento é de cerca de R$ 349 por mês. No ano passado, chegou a receber cerca de R$ 500 mensais."Uns recebem mais, outros menos, depende do tamanho do terreno arrendado e também do que a torre (eólica) gera naquele período. Antes das eólicas tinha muita pobreza nos sítios", lembra. O terreno dela é arrendado para o Parque Ventos de São Clemente pela empresa Echoenergia.

NÚMEROS

O estudo confirma em números, as percepções de Eliane. Somente em 2018, as eólicas pagaram R$ 165,5 milhões em arrendamentos em todo o País. Cerca de 80% desse total foi pago a proprietários de terras no Nordeste, onde as usinas implantadas têm uma capacidade instalada de 15 gigawats (GW), do total de 17 GW instalados no País.

O Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM) cresceu 20,19% nos municípios onde foram implantadas eólicas no período de 2000 a 2010, comparando com os municípios do mesmo Estado e porte que não receberam esse tipo de empreendimento, segundo o estudo. O IDHM é um indicador composto por três grandes critérios: longevidade, educação e renda. "Esse estudo é importante porque mostra os efeitos multiplicadores das eólicas no Nordeste. É um setor que cresceu muito e vai crescer mais ainda nos próximos 10 anos", afirma a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABÉolica), Elbia Gannoum. O levantamento foi realizado a pedido da ABEólica.

O impacto desses empreendimentos é citado por um dos autores do estudo e sócio da consultoria GO Associados, Gesner Oliveira. "É como se cada parque eólico tivesse um programa social adicional, gerando um fluxo de renda para as famílias que repercute na economia. Há melhoria do bem estar medido pelo IDHM e houve uma redução da desigualdade apontada pelo Índice de Gini nos municípios que receberam eólicas nesses períodos", comenta Gesner. 

Em Pernambuco, um dos municípios que passaram por esse impacto foi Caetés. "Embora, os parques chegaram neste município somente após 2015, a cidade já experimenta os benefícios da chegada do setor, com seus mais de 100 aerogeradores e cerca de 25% da potência instalada no Estado. O PIB total e o PIB per capita mais do que dobraram no período entre 2015 a 2017 naquela cidade", diz. O cálculo foi feito usando a base de dados do IBGE.

EXPANSÃO

"Os parques eólicos que estão sendo construídos atualmente vão acrescentar mais 8GW de capacidade instalada nos próximos anos. E grande parte disso está no Nordeste", garante Elbia. Isso signica quase 50% a mais de tudo que já foi instalado de eólica no Brasil. Ela argumenta que, até agora, o setor não sentiu o impacto da pandemia e continua construindo novos parques. "Estamos vivendo um momento importante que precisa falar da retomada econômica. A energia é uma variável importante no desenvolvimento tanto do Nordeste como do Brasil", conclui.

Atualmente, o Brasil está em 7º lugar no Ranking mundial de capacidade instalada de
energia eólica. Em 2012, era o 15º colocado. Cerca de 17 Gigawatts é a capacidade instalada hoje. Isso é suficiente para abastecer 28,8 milhões de residências com uma população estimada em 86,3 milhões de pessoas. São 660 parques eólicos que possuem 8 mil aerogeradores, distribuídos em 12 Estados, sendo que o maior número de parques está no Rio Grande do Note (170), Bahia (176), Ceará (84), Piauí (69), Rio Grande do Sul (80) e Pernambuco (34).

 

 

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