Entrevista

Ex-presidente da Ford destaca "impostos severos" ao analisar saída da montadora do Brasil

Luiz Carlos Mello lamentou pelos funcionários. A saída da montadora deve deixar, ao menos, cinco mil desempregados

Cadastrado por

Cássio Oliveira

Publicado em 12/01/2021 às 11:13 | Atualizado em 13/02/2023 às 13:33
No dia 11 de janeiro deste ano, a Ford anunciou que encerraria a produção no Brasil - Divulgação/Ford

Ex-presidente da Ford no Brasil, o advogado Luiz Carlos Mello lamentou o encerramento da produção de veículos no País. Em entrevista à Rádio Jornal, na manhã desta terça-feira (12), ele destacou falta de lucro significativo e carga tributária brasileira como pontos que podem ter desencadeado a saída da montadora.

"A fábrica da Ford fechou como qualquer outra fecha e, possivelmente, virão outras a fechar. Empresas mudam suas estratégias e deixam de operar, pois os resultados são insuficientes e quando o lucro é insuficiente para gerar reinvestimento e se manter competitiva, há poucas razões para se manter. A Ford já fechou em outros lugares, isso acontece, mas lamentamos", destacou.

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A Ford anunciou na segunda-feira (11) que encerrará a produção de veículos em suas fábricas no Brasil. No país desde 1919, a montadora mantinha fábricas em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), para carros da Ford, e Horizonte (CE), para jipes da Troller. Segundo Luiz Carlos Mello, mesmo com o anúncio, a marca não sumirá da vista dos brasileiros. "O fechamento não significa que a Ford desapareceu. Ela vai continuar a importar e atender o mercado do Brasil, talvez, com sortimento maior de veículos. O Mercosul tem um acordo comercial com México, onde a Ford produz. Então, do ponto de vista de chegada, essa situação não vai piorar, pode aumentar até em qualidade", afirmou.

Ouça a entrevista com Luiz Carlos Mello:

Listen to Luis Carlos Melo ex-presidente Ford Brasil no Passando a Limpo byRádio Jornal on hearthis.at

Argentina

A saída da Ford do Brasil deve deixar mais de cinco mil desempregados. Ao mesmo tempo, na Argentina, mesmo com o país em uma crise financeira, a montadora americana anunciou o investimento de R$ 3 bilhões por lá recentemente. Cerca de 70% desse valor será investido na fábrica de General Pacheco, em Buenos Aires.

A politica tributária do nosso governo é conhecida, e não é de agora, por ter impostos muito severos, que afetam as atividades que trabalham com volume, é o caso das fábricas.
Luiz Carlos Mello, ex-presidente da Ford.

De acordo com Luiz Carlos Mello, um dos motivos para o investimento na Argentina se dá pela situação tributária. "A Argentina não está pior que o Brasil num item significativo, que é sua estrutura tributária. Aqui se paga imposto sobre imposto, não é uma obrigação que a empresa consiga duelar com governo e estado, pois eles precisam de impostos para desenvolver seus projetos, seja de infraestrutura ou qualquer outro. A realidade é que Argentina e Brasil formam um mercado só, do ponto de vista de consumo e produção, a produção na Argentina é mais barata que no Brasil. Então, se temos fábrica na Argentina e podemos lá produzir e mandar ao Brasil, essa é a lógica", explicou Mello.

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Em nota, a empresa afirmou manter sua sede administrativa para a América do Sul em São Paulo, o Centro de Desenvolvimento de Produto na Bahia e o Campo de Provas em Tatuí-SP, que continuarão a trabalhar no desenvolvendo de tecnologias e produtos para a região e outros mercados. "Enfatizamos que a Ford continuará ativamente presente no Brasil e na América do Sul com sua ampla Rede de Concessionários, prestando assistência total ao consumidor com operações de vendas, serviços, peças de reposição e garantia, além de oferecer um portfólio empolgante, conectado e cada vez mais eletrificado de SUVs, picapes e veículos comerciais, provenientes da Argentina, Uruguai e outros mercados", afirma a Ford.

Por fim, Luiz Carlos Mello ainda destacou que reformas, como a da Previdência ou a trabalhista, não foram suficientes para manter a montadora e destacou o que Brasil precisa ter uma indústria nacional forte e perder o hábito de trazer companhias já instaladas ora para produzir aqui. "Nós temos quase que uma inclinação de achar que a solução dos nossos problemas depende de um ou outro movimento. O movimento que deu margem à alteração da lei da previdência, que alcança grandes empregadores, era algo esperado e que não estava relacionado à indústria. O que nos faz menos competitivo foi o conjunto de fatores. Além disso, em artigos no passado, já chamei atenção para a pobreza de iniciativas, quando deveríamos ter criado indústria automobilística terminal, que faz carros sendo brasileira. Mas, achamos melhor trazer empresas instaladas fora para aqui fazer seus carros", comentou.

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