O rentável mercado das startups tem se expandido e seduzido universitários desde o primeiro ano da graduação. O volume de aportes em 2020 para o setor no País superou a casa dos US$ 2,2 bilhões, mas não é apenas as cifras alcançadas que tem atraído os jovens. As características do modelo de negócio também têm contribuido. Isso porque especialistas ouvidos pelo JC apontam que o jovem universitário enxerga uma oportunidade para finalmente “trabalhar com o que gosta”, aliando propósito, agilidade na rotina de trabalho, inovação aplicada e liberdade de criação.
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Horários flexíveis e uma cultura organizacional feita à sua maneira impulsionam a vontade de aliar empreendedorismo à futura carreira. “Muitas vezes, o aluno entende que pode desenvolver uma empresa relacionando-a com a sua causa e seu estilo de vida. Isso o deixa encantado”, afirma Luciano Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e coordenador de Ciência e Inovação da Joy Street, ressaltando que nem sempre esse é o caminho mais fácil.
Meira observa ainda que muitos jovens buscam por instituições de ensino que oferecem conteúdos sobre empreendedorismo antes mesmo de iniciar os estudos. “O número de jovens interessados em empreender e que busca uma faculdade para tal vem crescendo exponencialmente nos últimos anos. É comum que muitos façam uma pesquisa prévia sobre a instituição, buscando matérias relacionadas e apoio oferecido por ela, como centros de empreendedorismo”, diz.
Para entender o ecossistema nacional, o Brasil mas que triplicou o número de startups entre 2015 e 2020, saltando de 4.151 para 13.479, de acordo com a Associação Brasileira de Startups (ABStartups). Sobre o desejo de empreender, segundo o relatório anual do Global Entrepreneurship Monitor (GEM), realizado no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), ele ocupa o quarto lugar na lista de desejos do brasileiro, atrás apenas de comprar um carro, viajar pelo Brasil e ter a casa própria.
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Com a "onda" das startups, cursos de engenharia e tecnologia passaram a ocupar o topo da lista com maior potencial de alunos empreendedores. Pierre Lucena, presidente do Porto Digital, afirma que esses estudantes enxergaram a importância de ser mais do que desenvolvedores, se tornando os donos do negócio. “Ter um profissional de tecnologia como o dono da empresa é o que ajuda a startup a decolar, porque o tempo do desenvolvimento de um aplicativo, inteligência artificial ou o que for, é o tempo do profissional de TI”
Para ajudar na “realização dos sonhos”, diversas iniciativas têm surgido Brasil afora. Uma delas é a disciplna Projetão, uma metodologia criada por professores da UFPE para dar suporte a alunos que desejam criar uma startup. A Projetão conta com o apoio do ecossistema empreendedor local, como o hub de inovação e economia criativa do Porto Digital. Uma das startups de mais destaque em segurança e performance de aplicativos no Brasil, a Incognia (antiga InLoco) surgiu por meio da Projetão.
Na disciplina, alguns colegas, que se tornaram sócios, desenvolveram um aplicativo para shoppings com navegação para espaços internos, jogos e ofertas especiais para os consumidores que tivessem o app instalado. André Ferraz, CEO da Incognia, conta que o produto exigia uma solução de navegação que funcionasse em locais fechados.
INVESTIMENTOS
A compra de startups por grandes players do mercado também tem aumentado o desejo de empreender em jovens universitários. A digitalização de serviços e produtos promoveu uma corrida pelo desenvolvimento ágil de inovação nas companhias, principalmente neste cenário de pandemia.
“O momento é marcado pelo interesse de grandes corporações em trabalhar, investir ou mesmo comprar startups. Diversos empreendedores aprenderam a ler as ondas do mercado para pegar as melhores oportunidades para empreender. Em casos assim, são empreendedores que identificam um problema do mercado, criam soluções inovadoras, conseguem fazer o negócio decolar e depois o vendem para investidores ou para corporações maiores”, explica o economista William Mattos, da W&LM Consultoria.
Mas é importante entender que o caminho do empreendedorismo não é tão simples como aparenta ser. É o que ressalta Pierre Lucena. Para ele, o maior problema é a falta de investimento justamente na fase da ideação, em que a empresa está sendo criada.
“Basicamente a gente não fomenta o empreendedorismo na base e isso leva a um problema sério que é o fato de que empreender passou a ser um programa de classe média. Quem é que vai amparar financeiramente um jovem por alguns anos depois que ele se formou enquanto a empresa ainda está se desenvolvendo? Hoje não falta mais dinheiro para a empresa com modelo de negócio formado. Mas para empresas no começo não tem uma linha de fomento”, afirma.