O turismo na Coroa do Avião, uma das atrações do Litoral Norte de Pernambuco, vai ganhar um plano de utilização sustentável que deverá ser gerido por uma empresa privada. É o que prevê o acordo entre a Secretaria de Coordenação e Governança do Patrimônio da União (SPU), ligada ao Ministério da Economia, e a prefeitura de Igarassu, cidade a 30 km do Recife. No final do ano passado, a SPU concedeu o arrendamento da ilha pelo prazo de 20 anos a prefeitura. O local pertence à União, mas está territorialmente ligado à Igarassu por ser uma extensão da Praia do Capitão, localizada naquele município.
O novo modelo vai transformar a atividade turística no lugar e já cria expectativa em quem hoje vive do turismo na região. Saem as estruturas de bares atuais, entram pontos de venda padronizados. Até os passeios na ilha serão disciplinados. Segundo informações da SPU, o plano prevê a exploração de cerca de sete mil metros quadrados, onde serão realizados os investimentos para atividades turísticas. “O Projeto de Intervenção formulado pela prefeitura local pretende instalar, em até três anos, quiosques destinados à venda de produtos do artesanato local, além do comércio de alimentos e bebidas. O projeto prevê construções exclusivamente em madeira e desmontáveis, que poderão ser deslocadas, de acordo com as transformações naturais do meio ambiente da Ilha. Portanto, não haverá construções fixas em alvenaria”, informou a SPU.
CUSTO
Segundo ainda a SPU, o contrato de cessão firmado entre a União e a Prefeitura de Igarassu, (ainda na gestão do prefeito anterior, Mário Ricardo - PTB), faz parte de um programa do Governo Federal que pretende arrecadar até 2022, R$ 110 bilhões com a alienação, cessão, concessão, racionalização e venda de imóveis da União. Por isso, o arrendamento da Coroa do Avião é do tipo concessão onerosa, e vai custar a Prefeitura de Igarassu o valor de R$ 60 mil anuais, com correção monetária pelo IPCA a cada doze meses. O prazo de carência é de três anos, contados a partir da assinatura do contrato, em dezembro do ano passado.
O secretário de projetos especiais de Igarassu, Rodrigo Uchikawa, diz que a concessão põe fim a uma antiga discussão. “Muita gente achava que a ilhota pertencia a Itamaracá, ou até mesmo a Paulista, e o resultado é que sobravam responsabilidades tanto administrativa quanto ambiental, era uma terra de ninguém. Mas no final das contas, era Igarassu a responsável”. O secretário aposta no potencial do lugar e acredita que o novo modelo vai dar mais ordenação e agregar valor ao turismo praticado na ilha. “Quando se fala em praia em Pernambuco, quase sempre a referência é o Litoral Sul, Porto de Galinhas. Mas o Litoral Norte é muito bonito, a gente tem Igarassu, Itapissuma, Itamaracá, Maria Farinha, em Paulista...atrativos não faltam. Se a gente conseguir desenvolver um turismo bem organizado, Pernambuco terá um plus com isso”. Acredita Rodrigo. A questão ambiental também será contemplada. “Haverá um regramento, com padronização e limitação das atividades. Parte da ilha será enquadrada como área de visitação acompanhada, para garantir a preservação, já que o local é ponto de visitação de aves migratórias”, explicou Rodrigo Uchikawa.
LICITAÇÃO
Sobre o processo de licitação que vai escolher a empresa que vai gerar as atividades na ilha, o secretário afirma que estão estudando todas as possibilidades legais. “Estamos montando reuniões com empresários locais, representantes dos comerciantes da ilha, além de órgãos públicos como a secretaria estadual do meio ambiente e o Ministério Público Federal. A gente espera que até esse primeiro semestre esteja definido como será a estrutura dessa licitação para, talvez no segundo semestre, já lançar essa licitação”, espera Rodrigo.
A comerciante Marluce Souza, mais conhecida por Dona Lu, que há mais de 30 anos mantém um bar na Coroa do Avião está esperançosa em relação ao novo modelo. “Hoje temos oito bares funcionando na ilha. Sofremos com vandalismo e falta de estrutura. Não temos água encanada, por exemplo. Temos que transportar a água até a ilha para lavar louças. Mas se o turista quiser tomar um banho de água doce, não tem como”, diz Dona Lu, que está no final do mandato à frente da associação de comerciantes da Ilha.
Os comerciantes da Coroa do Avião não pagam qualquer tributo ou taxa à prefeitura, ou a União, pelo uso do local. Com a entrada da iniciativa privada essa realidade vai mudar. “Trata-se de uma concessão onerosa dos sete mil metros quadrados que poderão ser explorados. Claro que o município terá que ser remunerado. Ainda estamos definindo valores e se caberá a concessionária ou aos comerciantes o pagamento de tributos e taxas. A princípio seria a concessionária responsável, mas preferimos ver todas as possibilidades”.
REQUALIFICAÇÃO
Dona Lu afirmou que os comerciantes estão cientes dos custos que passarão a ter. “Nós vimos o projeto. Eu achei ótimo. Sabemos que tirar aquela estrutura que está lá para fazer outra mais moderna, com água, com energia solar, vai ter um preço. Nossa preocupação apenas é que esse preço seja acessível para os comerciantes”, afirmou Dona Lu.
A empresária Juliana Britto, da Catamaran Tours, que realiza passeios de barco na região desde 1988, diz que o projeto da Coroa do Avião é importante porque, em todo o mundo, o turismo de valor é o turismo organizado. “Se o projeto levar estrutura e conforto ao turista, como água, energia, saneamento, ambientes seguros e higienizados, que é isso que o turismo pede atualmente, claro que haverá um ganho para todo mundo. Mais turistas visitarão a região e mais turistas de maior poder aquisitivo, o que compensaria a elevação dos custos. Mas, claro, tudo isso tem que ser bem planejado”, afirmou a empresária.
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